domingo, 28 de novembro de 2010

Romantismo "in tchutáusan-en-tén"

Acordo, na casa da sogra(é pra ainda econimizar o alugué).
Corro fazer um café, descafeinado (gastrite!), instantaneo(tenho  muitooo pra trabalhar neste domingo!).
Vc dorme(trabalhou muito a semana toda! e no sábado ainda arranjou forças pra ver uma peça gratis!).

Ligo o PC(trabalho!), bato o estabilizador no chão(porradinhas carinhosas para fazer o aparelho velho funcionar, consertar custa caro! comprar outro fere o meio ambiente!). Ligado, o pc murmura(geladeira da minha vó...(consertar custa caro! comprar outro fere o meio ambiente!)).

Vc acorda. Resmunga(consertar custa caro! arrumar outro fere o meio ambiente!).
Demonstração de amor(instantanea): café na frente do pc, na frente do trabalho: mais café-descafeinado-instantaneo-com-leite-desnatado-pra-não-engordar-pq-o-mundo-não gosta-de-pessoas-gordas-ainda-que-vc-me-diga-que-não-estou-gorda!!(obrigada!))(por dizer que-não-estou-gorda ou pelo café-descafeinado-instantaneo-com-leite-desnatado-pra-não-engordar??)

tlec-tlec-tlec-: trabalho!
data capes, nota, artigo, lixo, merda, cocô, sinônimos. O que é sinônimo mesmo?

Demonstração de amor(instantanea)2: sexo. Olhos fechados, mão, língua, boca, etc... etc... etc... não muito etc porque tem o pc ligado!(deixar ligado custa caro! e ainda fere o meio ambiente!)
o fim é ditado pelo barulho do látex, um nó-bem-dado. Ninguém quer correr o risco!

Arrisco voltar a trabalhar. Dá? Tem que dá!

sábado, 20 de novembro de 2010

Em são paulo

Na rádio:
(89, exrádiorock)
Ivete Sangalo, i gotta feeling uh uh, shakira, katy perry(vale a pena ler a letra... e ver o vídeo!), lady gaga.

Na revista:
dieta da água: beba água gelada!

Na casa:
Enquanto existirem sacolas plásticas de graça, eu vou pegar! Diz a vó.

Na tv:
maconha

No metro:
Caixas automáticos para comprar bilhete. Elimina filas!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

5 minutos de naturalidade

Com naturalidade, saio do apartamento da minha irmã com uma bengala na mão. Minha mãe mora há quatro quadras dali - Praça da República, São Paulo -  e esqueceu sua bengala. Acredito piamente que quanto mais eu parecer natural carregando uma bengala, menos as pessoas vão reparar. Naturalidade é o segredo. Naturalmente pulo dois sacos de lixo abertos e já remexidos por algum não-cachorro para naturalmente atravessar a rua antes de chegar na faixa e economizar talvez 3 segundos. Passo com minha bengala emprestada por um mendigo muito velho e arqueado segurando, também de forma extremamente natural, um saquinho de café solúvel. Ignoro da forma mais natural que consigo e continuo olhando para frente, quando lembro que tinha uma pacote de torrada na bolsa. Sinto uma óbvia vontade de voltar e me sentir menos mal por ter ignorado o velho oferecendo o tal do pacote de torradas naturais. Naturalmente, não volto e ainda mais naturalmente desejo que no resto da caminho encontre mais um mendigo. Assim, eu poderia naturalmente sacar meu pacote de torradas e me sentir melhor com toda a comida-lixo que tenho em casa e na cintura. Como em todas as noites que ando por ali, desvio naturalmente de travestis se prostituindo, duvido obviamente da sexualidade de algum que tenha a cintura fina e certamente olho para baixo ou para o outro lado da rua se algum me olha nos olhos. Afinal, o natural é ignorarmos uns aos outros e é também natural ignorar os que agem de forma não-natural.
Atravesso a rua de forma muito natural ao perceber um homem grande se aproximando de mim e olho para trás, como quem não quer nada, para descobrir sua direção. Era a oposta da minha. Mais uma vez não chego na faixa e atravesso a super-avenida, pulando mais uns sacos de lixo, ainda amarrados. Chegando na porta do prédio, vejo que três adolescentes negros param na porta de forma muito natural, e eu, espontaneamente, paro também, para procurar minha chave. Só um tantinho antes deles. Eles acham a deles antes e eu, naturalmente, dou uma corridinha até a porta e aproveito para entrar. Naturalmente, eles me abrem a porta e eu agradeço naturalmente e subo, obviamente, de escada. Eles iam de elevador, e minha mãe, naturalmente, mora no primeiro andar.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Na academia

- Vc emagreceu né! Tá bonito! Quando te vi, fiquei impressionada. Olhei duas vezes e disse: é ele mesmo! Olha... Vc deve estar pegando todas, hein. O que vc fez? Dieta? Spinning? Yoga?


- Gripe.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

6emeia

Para lembrar que existe sim arte contemporânea (e pasmem!) de rua que é muito legal!

sábado, 31 de julho de 2010

Socorro

A primeira vez que eu o vi, eu cantava arnaldo antunes baixinho. Ele esperava por alguém.
Da segunda vez, perguntou meu nome e não acreditou.
Fui embora emburrada.
Fui muitas vezes, voltei algumas.
Algumas emburrada. Algumas cantando, outras falando.
Fui, fui, fui.
Até que fiquei.
O cabelo cresceu, a barba veio, foi-se a casca, foi-se o pinto.
E então troquei o arnaldo pelos besouros.

terça-feira, 27 de julho de 2010

A Guerra dos EUA

Oi pessoal,

para quem não lê jornal, mas lê blog, estou postando aqui a página do wikileaks, um tipo de site de apoio a jornalistas e afins com muito material que se diz idôneo para ser usado na mídia em geral.
Há alguns dias, vazou na wikileaks alguns documentos da segurança norte-americana em relação à guerra do Afeganistão. Os documentos são de 2004-2010 e revelam o que todo mundo sabe: os militares intensificam a guerra sem aprovação do congresso, torturam, matam civis, etcs. Muitos etcs.
 Além disso, os documentos mostram que a situação em campo no Afeganistão é bem mais crítica do que a opinião pública americana acredita ser e que os EUA há anos tentam inutilmente acabar a política de auxílio do Paquistão ao Taleban.
Fica aí o link e uma dica: porque não baixar estes documentos enquanto eles ainda estão disponíveis na rede?
Já há uma grande mobilização da casa branca não só para tirar os documentos da rede, mas também para processar a wikileaks por crime contra a segurança nacional norte-americana e, claro, botar panos quentes em todas as informações "novas".

quarta-feira, 21 de julho de 2010

oh mãe cruel!

No tubo, esperando o ônibus. Um cara branco, bonito, sorridente, conversando com seus amigos também brancos, bonitos, sorridentes.

De verde, minha cor favorita em caras brancos e bonitos, principalmente sorridentes e conversando com seus amigos também brancos, bonitos e sorridentes.

Então, reparo em sua mochila verde também. Minha cor despreferida em mochilas de caras brancos e bonitos e sorridentes. Medicina - UFPR. O cara está no topo da cadeia alimentar. Tem suas pernas ágeis prontas para correr, seu pêlo brilhante e dourado, sua juba que atraí toda e qualquer fêmea, a mochila verde. Imagino o rugido e me doem os ouvidos.

Então, entra um coelho.

Um cara negro, feio (será?), de ombros arqueados, sozinho. Uma bolsinha a tiracolo verde. Técnico em enfermagem, PUCPR.

Ainda que a mãe natureza seja uma só, e que hajam leões e coelhos, e que não seja culpa dos leões serem leões ou dos coelhos serem coelhos... Ainda assim, como não simpatizar com o coelho?

segunda-feira, 14 de junho de 2010

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Para fechar o mês

- Os chinas realmente querem assumir o controle do país? - perguntei.
- Aqueles diabos amarelos esperam há séculos pela oportunidade. O que os impediu até agora foi o fato de estarem sempre ocupados lutando com os japas.
- Quem são os melhores combatentes, os chinas ou os japas?
- Os japas. O problema é que há muito chinas. Quando você mata um, ele se divide ao meio e vira dois.
- Como a pele deles ficou amarela?
- Porque em vez de beberem água eles bebem o próprio xixi.
- Paizinho, não diga isso ao garoto!
- Então diga a ele parar de me fazer perguntas.

Moral: Quem pergunta o que quer, ouve o que não quer.
C. Bukowski

quinta-feira, 20 de maio de 2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

Na academia IXIVVVIXC

(Prometo a mim mesma acabar com essa séria há tempos, mas é inevitável)

- Alguém por acaso segue a medicina da pagelança? Dos índios? Não! Todo mundo segue a medicina americana, principalmente a feita na Inglaterra.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Maio

Mês das noivas, mês das mães.
Aniversário das minhas irmãs.

Desmaio.
Mês de desapego, mês de desaconchego.
Mês de des-, in-, a-.


Mês da morfologia de polaridade negativa.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Pobreza e mão de vaquice ou o quanto vale

Mais uma da "Na academia".

- Que calça linda! (uma calça até o joelho de um pano elástico típico de academia)
- Linda né? Foi só 40 reais.
- 40, amiga? Que barato! (o amiga não é inventado)
- Corre ali na lojinha nova da academia antes que aumente! (a lojinha tem uma manequim de prástico cuja bunda é 42, os peitos 44 e a cintura 36, curiosamente, ela não para em pé.)

Na minha cabeça: 40 reais? A última que comprei não é ridícula e ainda só custou 8,90!

Fico quieta para que meu estereótipo gorda-malvada-gótica-alcoólatra-nerd na academia não piore.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

No Hospital

Pois hoje fui parar no hospital. Ando meio anêmica e para tomar o ferro (ahn ahn? ;)) que preciso só no postinho, na farmácia não porque a seringa dele é muito complexa. Então, fui direto pro hospital pro convênio pagar o fato de eu não querer ficar na fila do postinho. Fui e falei com um médico que parecia ser bem mais novo que eu. Ele não deve ser mais novo que eu (eu tenho 24 e se ele precisa de 8 para se formar, teria que começar com 16 a universidade de medicina e ele não parecia um super-dotado, ainda que japonês (ahn ahn? ;)), mas parecia mais novo. Falou comigo uns três minutos e disse que o convênio pagava a injeção do ferro, desde que não fosse na bunda (ok, parei com o trocadilho ;) o post não é divertido mesmo). Fiquei bem feliz de economizar 10 real e fui lá ficar com o braço estirado por 15 minutos enquanto todo o feijão e o fígado que não comi entravam no meu corpinho.
Então chegou uma menina com gripe (acho que a gripe de gente, não a de porco). Ela ficou com medo de agulha do soro, mas fez a inalação numa boa. Exatamente o contrário do que eu teria feito.
Depois chegou uma outra menina, carregada nos braços do avô. E depois a mãe dela. Ela ficou deitada na cama com um pijama de cor bege bem feio, uma toquinha e meias rosas. Então veio o médico que foi querido comigo por três minutos e parecia bem mais novo que eu falar com a família. E a família era BEM simples e não conseguia explicar exatamente o que o médico queria saber. Ele, que nunca tinha visto a menina na vida, perguntou o que ela tinha e o vô respondeu "acho que pneumonia". Enfim... depois de metade dos meus minutos pendurada no soro ferroso, eu e o médico entendemos que a menina tinha nascido com um deficiência mental, tinha tido um avc (ou algo que o valha) e então parou de falar e andar. Há 2 meses, tinha sido feita uma intervenção cirúrgica para que ela recebesse toda a comida por uma sonda direto na barriga. O vô não queria, mas ela se engasgava muito com a comida. Então, nos últimos dois dias, ela andava expelindo uma gosma branca pela boca e eles não sabiam o que era.
O médico perguntou, perguntou, a família se desesperou, depois desistiu. Então o médico conclui que o vô não limpava a boca da menina direito e que por isso ela salivava muito e branco. Foi pegar uma mangueira para limpar. Então o vô e a mãe concluíram que o médico mais novo que eu era muito burro e que ela estava era cuspindo catarro de uma gripe/pneumonia. Ela tossia bem de levinho.

Eu, que nunca vou no hospital, fiquei muito impressionada. Tinha dó do médico que estava, aparentemente, com a primeira paciente daquele jeito nas mãos. Ele era mais novo que eu e eu nem morfema resolvo, que dirá doença. Tinha dó da família que tinha certeza que aquele médico não ia ajudar em nada e que ainda era taxada de porca. Tinha dó da gripada, do vô, da mãe. Acho que não tive dó da menina deitada que depois de uns minutos começou a ter dificuldades para respirar e segurar a tal da gosma branca na boca.
Quando meu ferrinho acabou, pobrezinho, a enfermeira tirou a agulha do meu braço e piscou "Ainda bem que o dr. está fazendo a drenagem na boca. Eu tenho ânsia de fazer isso".
Fiquei sinceramente com vontade de abraçar o dr.zinho e a vô, mas o que uma anêmica de cabelo vermelho e roupa preta vai representar para um Médico e alguém que cuida há 18 anos de alguém na cama? Nem força decente para abraçar eu não devo ter.

Para eu mesma não me sentir muito mal indo pra casa, agradeci o japa mais novo que eu e lhe dei um tchauzinho e me ative a por a mão no ombro do vô e desejar boa sorte. Me senti uma ridícula, mas foi um jeito de quase dizer que a menina da cama não me dava ânsia.

ps: agradeço se os comentários não forem do tipo "nessa hora que damos valor ao que temos", tentei (mas não consegui) fazer algo não-apelativo, então colaborem ;)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Na academia II

- Cirurgia plástica é legal, mas também gosto de dermato.
- Ah dermato não dá. Sou homem e o que dá dinheiro é cosmético. Quem vai usar o creme que eu recomendo?
- É verdade, dermato é mais para mulher. Mas e aí? Tá pensando em fazer mestrado?
- Mestrado? Eu quero é viver a vida!
- Tá certíssimo! Eu preciso do mestrado né... Dá 30% a mais.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Refazendo a noite

Voltou para cama terminar um soninho insistente. Sonhou com a transa por vir. Lembrou das linhas a escrever, do grifo em um texto onde parara de ler. De tudo por fazer: varrer, correr, crescer, aprender. Ser.
Ser menos pedante.
Levantou e se fez um café verbal.

domingo, 11 de abril de 2010

trevisan, ctba e outros

Embora cheire a, esse post não tem grandes pretensões de crítica literária, a ideia é antes suscitar uma discussão ou organizar minhas próprias ideas.
Esse é um post um pouco de literatura, talvez de política e muito, muito pessoal. Tão pessoal que não deveria estar exposto num blog, mas a pós-modernidade me obriga.
Obrigada.

Lendo o Trevisan (e eu admito, li só o Em busca da curitiba perdida, nunca um livro de verdade, inteirinho, bom... vi várias peças, mas eram sempre a mesma), eu tenho a impressão de que algum fulaninho saindo do Clube Curitibano decidiu imitar o Bukowski em terras brasilienses.
Considerando as biografias dos caras, pouco provável, mas meu conhecimento também não vai assim tão longe e posso estar falando bobagem. Enfim, minha sensação é essa. Até nas falas das marias e joãos o registro daltoniano é sempre o mesmo, e se é mudado, pouca coisa.
Picuinha de linguista?? Pode ser.
Pode ser, mas é fraco, lânguido.
Bater no Emiliano Perneta lá na década de 80? Tá, vá lá que um dia isso tenha feito sentido, mas já há 20 anos me parece (parece!) fazer pouco sentindo e ainda menos hoje. O Perneta há muito tempo virou só rua e o boca-suja da cidade é que virou poeta, conto, teatro, retratação do curitibano.
Lendo os joãos que batem nas marias, as marinas vagabundas e as putinhas sujas me parece que o cara vive(u) em uma curitiba fantasma. Fantasma por dois motivos, essa parece ser uma curitiba inventada. Se fosse uma ingeborg apanhando, algum polaco, talvez. Mas nas décadas de 60-80, as classes pobres curitibanas eram ainda de colonos e não de estados ao norte do paraná. Parece uma releitura do mário de andrade transportada a curitiba somada à  uma ideia burguesa do que talvez se passe nas classes pobres. Outro motivo, se de fato se dá voz a um poeta que pormenoriza as putas, tem espaço para neguinho apanhar, bater, vemos tudo continuar na mesma. E aí é que entra a parte política do post. A elite intelectual curitibana indo ao guaíra ver a retratação da putinha e sair do teatro com medo de assalto e reclamando de dar um real pro guardador de carro.
Não sei. Digo também que é pessoal minha birra porque sou uma pulista que escolheu curitiba e se dizia dia e noite que curitiba era genial, que nunca acreditou que havia mesmo espancamentos em curitiba e que voltava à noite pela osório se sentindo protegida pelas putas e putos (tudo no passado porque nos últimos meses o bicho pegou em volta da rua xv algumas vezes, justo a rua 15!)
Daí vem a dúvida, estética social artística burra prepotente, quem é que de fato pode descrever as putas ou as marias se não elas mesmas? Chico Buarque? Algum antropólogo que ficou conversando com putas por 6 meses? Não sei. Definitivamente não o trevisan. Se o bukowski usa uma puta pra gozar na cara dela, o trevisan usa uma puta pra sentir pena dela e aí é que está o ponto.
De onde vc fala, para quem, e sobretudo, sobre o que. Um curitibano sobre curitiba, ok. Mas um curitibano que tem revelia à cidade falar do que acontece nela? Fazer uma maria impor vírgulas e rococós que nenhuma maria tem? Numa cidade que nem tem tanta maria assim? Uma puta banguela descrever que tem menos clientes no dia de chuva?
Sei não. Isso me cheira a amoradores de curitiba, a nova sensação do lado da reitoria que nada mais é do que a elite intelectual de curitiba falando dos moradores de rua. Sem mudar nada (seria esse o papel da arte? atingir a sociedade para que ela, de fato, mudasse? progredisse? transgredisse?), sem ir até o morador de rua?
Ontem voltando para casa umas quatro da tarde, vi um carrinho de lixo no vão da reitoria e pensei "ah, começaram a montar a peça mais cedo", mas não, ainda não era a peça, era um carrinho de lixo de verdade. Tinha lixo dentro e um cara pobre e fedido do lado dobrendo papel e esperando a chuva passar. Pensei que se a chuva não passasse em uma hora, a elite cultural de curitiba ia expulsar o carrinho de verdade para por no mesmo vão os carrinhos de mentira com sacos de lixos biodegradáveis comprados no mercadorama da rua 15.
Isso tudo me cheira a uma esquerdinha boba e moralistazinha, mas moralista pelo outro lado. o Mau é quem não gosta do morador de rua, quem se sente atingido (moralmente que seja) pela sua existência ou por suas consequências. Me parece um tanto fácil ter esse discurso sem pegar ônibus, pegar uma puta, pegar uma chuva daquelas voltando pra Rui Barbosa para pegar o ônibus ou a puta. Imagina-se que as putas não tenham dente, mas tenham discurso. Que a maria não tenha força, mas tenha vocabulário. Que curitiba tenha só o discurso.
Me cansa isso, muito, demais.
Só não me cansa mais do que a metaliteratura do trevisan. Essa sim é ruim demais e recheia curitiba, agora escorrendo da biblioteca pública e do paço da liberdade, com meia dúzia de neguinho que se param de falar mal de poesia parnasiana é para falar bem deles próprios.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Away

Hoje o computador quebrou.
Aguei as flores, lavei a louça, pus ordem no armário e ainda costurei uma meia.


Ainda bem!

sábado, 27 de março de 2010

Retratação

Pessoal,

há um tempo atrás escrevi um post sobre ficar feliz e triste andando na rua e acabei postando a foto de uma cachorra cujo crédito não era meu.
Bom, venho aqui me retratar de várias maneiras.
Primeiro, o cachorro não é um poodle como eu disse, é um bichon frisé. Estas são raças claramente diferentes e só uma desentendida de cachorros como eu poderia misturar as duas.
Segundo, dou o cŕedito da foto. Ela foi tirada pela Lília, dona da Arco-íris, modelo da foto.
Aproveito para fazer propaganda da loja virtual da Lília que vende sapatos para cachorros que ajudam a proteger os animais e também a higiene da casa.


Caso alguém se interessar mais pela cachorrinha, também é possível ver um vídeo dela escovando os dentes no Facebook. O vídeo foi transmitido ao mundo todo pela globonews. É só procurar pelo perfil da Lília.

Lília e Arco-íris

quinta-feira, 25 de março de 2010

Nestle e Greenpeace


A Nestlé compra óleo de dendê para seus chocolates da empresa Sinar, que destrói a floresta da Indonésia para plantar dendezeiros e eucalipto para produzir papel. A sobrevivência de comunidades locais e dos orangotangos, nativos da floresta, está ameaçada. Participe.


http://greenpeace.org.br/kitkat/

terça-feira, 23 de março de 2010

Play

Bom, vou sair da pausa porque nesse exato momento quase tudo me parece em stand by.
Hoje eu fui assaltada pela segunda vez em um período de um mês. Voltando do teatro, em frente ao mercadorama que havia acabado de apagar as luzes.
De novo, levaram meu celular. De novo, eram dois caras. De novo, eram canivetes as "armas". De novo, eu me sinto uma ridícula e de novo eu fico revendo o que eu falava sobre Curitiba, Brasil, violência, pobreza, polícia.
De novo, eu quase voto no Tuma por uma meia hora e de novo eu desvoto quando paro de tremer.
Dessa vez, eu chorei. Dessa vez, eu fiz um postão sobre isso. Dessa vez, eu vinha bem espertinha pela rua principal, embaixo das luzes e prevendo os movimentos de todas as pessoas da rua. Das pessoas que eu via.
Eu tinha acabado de me despedir de uma amiga a duas quadras dalí falando como eu ando com medo de andar sozinha no centro. Eu tinha acabado de mudar de calçada porque do outro lado vinham dois caras gritando que começaram a falar bem baixinho quando me viram na rua.
Desda primeira vez que sofri uma tentativa de assalto (meados de dezembro, na esquina da Ubaldino com a Itupava), eu fico com medo de andar na rua. E, então, me sinto uma ridícula. Não sei se pelo discursinho que eu tinha antes (Ah, é o medo que faz as pessoas serem assaltadas, andar de noite é bonito e sussegado, uma forma de liberdade, ter polícia na rua não adianta em nada) ou se por não conseguir mais manter na prática o discurso que eu gostaria muito que fosse verdadeiro.
Da primeira vez, quem tentou me assaltar foi um cara de bicicleta. E quando ele parou do meu lado, (juro!) eu pensava justamente como Curitiba é genial por possibilitar pessoas andarem de bicicleta. Obviamente, pessoas do bem, (maniqueísta, não?) porque pessoas do mal andam em um carrão com um pessoa só dentro. Jamais de bicicleta.
Pois é.
Da segunda vez, foram dois meninos bombadinhos de academia. Eles aparentavam ter bem mais dinheiro que eu, que ia de chinelo havaiana.
Eu ia pela Dr. Faivre, pouco depois da meia noite, muito sussegada em um caminho que eu fazia sempre. Boa parte dos entes queridos que ficaram sabendo das condições desse assalto me criticaram bastante pela minha irresponsabilidade de andar sozinha depois da meia noite em uma das ruas que faz esquina com a universidade onde eu estudo há oito anos.
Ao menos, dessa vez, ninguém pode dizer que eu estava desprevinida. Nem que era uma rua mal iluminada(é a rua principal de Curitiba, se for para escolher uma só!), nem que era tarde, muito menos podem julgar a nobreza do motivo pelo qual eu estava na rua.
Dessa vez, um cara parou na rua pra me ajudar, ele chamou a polícia, esperamos a viatura por 20 minutos. Entramos, rodamos o centro, até que eu vi um cara com uma roupa parecida com a de um dos caras que me assaltou. Eu falei só isso para polícia, eles fecharam o cara, desceram empunhando armas, revistaram o cara e me disseram que se eu dissesse que era ele, já iam levá-lo. Ora, o cara não tinha meu celular, eu tinha uma dose de adrenalina forte o suficiente para não reconhecer nem minha mãe, e tinha um cara jurando ter saído do trabalho de mãos para cima, provavelmente graças à minha ridiculice.
Eu estou muito triste. Eu realmente esperava há um tempo atrás que estudantes pobres não fossem assaltados no caminho de casa (e o pobre não é demagogia!). Eu esperava também poder continuar falando sempre para os não-brasileiros que aqui é legal e seguro, que é só na tv que a gente vê essas coisas. Eu esperava sobretudo não olhar para os lados constantemente à procura de algum assaltante. Acho que eu esperava que estudantes pobres soubessem agir de forma mais inteligente quando fossem assaltados, mas eu já fui tantas vezes e de tantas formas diferentes e continuo uma ridícula.
mas que merda... Esses dados empíricos estão jogando por água abaixo toda a minha teoria tão lindinha... E eu, pouco estudada que sou, já já começo a tirar a culpa do capitalismo, achar polícia uma coisa boa, querer comprar um carro blindado...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Pausando

As aguas de marco levaram toda a minha inspiracao. Levaram tambem meu tempo e meu teclado.
Faz tempo ja que comecar o ano eh comecar o ano letivo. As vezes demora mais, as vezes demora menos. Para fingir que o ano comecou eu ate me inscrevi na academia (a ma, da esquina... nao a boa, que ocupa todo um quarteirao!) e escrevi meia duzia de resolucoes. Parecia ter resolvido, mas agora, que comecou o ano letivo, eh nitido que nao resolveu nada.
Vou ficar sem coisas legais para postar por um tempo (ando usando todo o resto da minha inspiracao para cuidar do meu jardim =)) e quando as tiver, nao devo ter tempo de escrever ou vontade de ficar no pc.
Ui, esse mundo moderno que deixa pouco tempo pro ocio criativo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

4 de marco

Parabens ao Antonio, nessa data querida, muitas felicidades (paro por aqui).

http://www.youtube.com/watch?v=nGdFHJXciAQ&feature=related

segunda-feira, 1 de março de 2010

Semana da Licensa Poética - Pro Tales

Sabe um negócio que eu queria?
queria morar na baia
pra te ver, te ter todo dia
não só lembrar como fazia
do meu domingo uma alegria
e da segunda pura azia.
Queria o que me dizia:
"Não para, não, Livy Maria,
se corre a noite, vem o dia
c'est la vie, mon amie, sorria!"

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Acknolegments

Eu gostaria de agradecer a tres grupos de pessoas.

O primeiro grupo diz respeito aos que continuam lendo meu blog, ainda quando o que escrevo seja literatura barata. Gostaria de dizer apenas que quando eu trabalho academicamente, eu tenho uma certa necessidade bizarra de escrever textos literarios (se eh que consideramos algo meu literario). No mais, contem: uma porcaria literaria, umas paginas de tese/artigo escritas. Obrigada por me lerem, jah que as coisas academicas ninguem le mesmo.

O segundo grupo eh o grupo de pessoas que leram e internalizaram o meu primeiro post do ano. Obrigada por se oferecerem para comprar meus cigarros. Isso significa muito para mim, uma moca tentando se viciar em algo que preste, finalmente.

O terceiro grupo eh o grupo de pessoas que assinam por Marina Legroski.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Reencontro

Depois de anos, lá estava eu. Fazia já alguns meses que eu não dava umazinha e quando soube que ela estava por aqui, liguei. O telefone já não era o mesmo, mas o e-mail era. Tecnologia.
Fazia talvez 10 anos que não nos víamos. Eu, mais gordo, as entradas já formavam uma bela careca. Ela, com um vestido apertado que deixava ver as sobras embaixo do braço e por cima da calcinha. Ia sem sutiã. Peitos mais caídos, mas não muito. Imaginar os biquinhos duros me excitava, antes, talvez, me broxaria.
Eu trazia no bolso uma pílula azul. Vai que... Eu não podia perder a chance e menos ainda fazer feio.
Nos conhecemos ela devia ter 19, talvez 20. Era o melhor boquete do escritório, até botar aparelho nos dentes. Depois disso, nunca mais comprou carne moída. Cada vez que me chupava era dois ou três nacos do meu pau que se iam.
Não quis nada sério e por isso não se envegonhava de empinar a bunda e pedir que eu fosse mais fundo. Eu ia. Fui por uns anos, 1 vez por mês? Não, muito menos. Depois, ela foi embora. Disse que foi estudar, mas todo mundo sabia que foi casar com um velhote rico. Eu fiquei no mesmo emprego, saí da casa dos meus pais e agora, com quase 40, moro numa kitnet no Copan. Sempre adorei o bairro. Centro, fedido e cheio de putas.
Nos encontramos na república, fomos a uma padaria barata de esquina, frango a passarinho e cerveja. Era o que comíamos no motel, mas naquele tempo eu não bebia. Lembrava dela rindo porque eu não bebia e dessa vez iria beber todas. Se antes eu gostava quando ela se ria, aqueles dentes brancos, agora o amarelado do cigarro me enjoa. Coloquei a mão no bolso, ela riu. Achou que eu me masturbava, eu verificava se a pílula ainda estava lá. Estava.
Eu já quase alto e a mulher nada. Foi ao banheiro, tirou um pedaço de frango que insistia em ficar entre seus dentes da frente. Passou os braços em volta do meu pescoço e sentou mais perto. Vamos para sua casa?
Aquele perfume barato e o exagero de sua maquiagem me obrigaram a tomar uma dose de uísque. Meu bolso me obrigou a beber um nacional. Old Eight.
Deixei o apartamento arrumado, caixas de pizza empilhadas na porta da cozinha. Entrou e tirou a roupa. Desviei os olhos da calcinha e da barriga que caia por cima,  o cabelo com um penteado antigo, a boca vermelha, pescoço ainda claro e biquinhos já excitados. Era tudo que eu precisava. Suas tetas. Ela enfiou a mão na minha calça. Eu não precisaria de ajuda. Nem dela, nem famarcêutica. Tirei o pau para fora, ela ajoelhou, chupou como antes do aparelho, sem carne moída. Avisou que não podia passar a noite ali, que eu não gozasse na boca. Meu pau já não endurecia tanto, a cabeça tombava para esquerda. Era um pinto bêbado.
Foi de quatro. Meti, ela gritou. Era ainda a mesma voz, o gritinho falso, a visão que eu tinha dela de quatro era a mesma. A buceta, muito maior. Meu pau se perdia ali dentro.
Duas palmadas fortes, uma risada. Gozei.
Sem suor, sua respiração quase não mudara. Se vestiu e saiu.
Pouca coisa mudara. Eu tinha menos folêgo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Podando

De volta ao umbigo.

Hoje eu falei com quatro amigos com quem eu não falava há um tempããão.
Amigo é um negócio tão bão que eu revejo minha última foto.

 
àrvore na praça principal de águas de lindóia

E lembro aquele antigo jogador do corinthians: sê amigo daquele que tem as qualidades contrárias às tuas.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Avatar, clichês, tecnologia, capistalismo e linguística

Então né... fui ver o avatar no telão imenso do imax com óclinhos 3d.
Para o choque de alguns, eu não me senti rendida ao capitalismo ao fazer isso. Tá... quase dei para trás quando me entregarem aqueles óclinhos de plástico molengo porque, aí sim, vi chineses explorados pela mão de obra capitalista, mas enfin... fui ver porque tecnologia também é algo que me interessa, embora eu não goste de ficar acessando a net a partir de celulares no meio do congestionamento.
O negócio foi realmente incrível. As pessoas saíam da telinha, a fumacinha vinha na minha cara, os espíritos (que mais pareciam anêmonas) pareciam estar flutando na sala. Eu já tinha ido em cinemas 3d e naqueles que a cadeira mexe enquanto estamos de capacete, mas esse aí é imbatível. Agora eu quero ver qualquer porcaria nele.
Qualquer porcaria mesmo, porque se eu vi avatar, eu resisto a tudo. TUDO.
O filme é uma junção de todos os clichês do cinema-aventura americano. Monstros, bonzinhos, mocinhas, amor, tudo. Até aí, tudo bem, né. Uma hora isso se passa na segunda guerra, outra em NY atacada pelos marcianos, agora foi em um planeta distante com seres azulados. Mas, juro, esse filme passou dos limites. (Ou eu passei dos limites ficando um tempinho sem ver esse tipo de filme, desacostumei! Deveria eu voltar para o trono do último post?)
A mocinha é uma azul, ela fala a língua dos azuis, mas também inglês, porque (a-há!) ela teve aulas numa escola com uma cientista. Os cientistas estavam lá há 3 anos e nesses 3 anos conseguiram se aproximar da comunidade falando a língua deles e ensinar pros nativos inglês. O sil daria uma medalha de honra pra esses caras. Tá... daí o inglês da moça é capenga quando ela fala frases pequenas e de efeito, mas quando ela discursa sobre seu planeta, a vida, etc., o inglês é muito bom, praticamente sem sotaque.
Daí, o mocinho vai lá no planetinha em forminha azulzinha para fuder os aligienazinhos. Tudo bem. Um mocinho de cadeira de rodas, como a mocinha da novela da globo (estou dizendo que essa minha mania de ver conexões em tudo me faz mal). Ele tem 3 meses para fuder o planetinha e ganhar umas perninhas (que se mexam, porque ele tem as dele, mas elas são... inertes =)). O que ele faz nesses 90 dias? Vira um super guerreiro, aprende a língua, cavalga numa serpente voadora e ainda se apaixona pela mocinha e trepa com ela. 3 meses! Eu mal escrevo um artiguinho na minha linguazinha em 3 meses. (no comment a respeito sobre transar e se apaixonar, teríamos que usar outra unidade de medida)
Ah isso merece um comentário... os azuis têm forma humanóide, trejeitos humanóides, língua, sociedade, conceito de justiça, de prole, de hierarquia! Eles abraçam, beijam e trepam. Tudo igual aos humanos. Nessas horas a gente dá um ype ype uhu ao Matt Groening. Puxa vida.... Puxa vida!!!!!!!! Não conseguem imaginar ets diferentes de humanos.... Ou seria muito feioso pro grande público ver uma cena de amor com um ameba gosmenta comendo e cagando um minhoca espinhuda... Tudo é muito batido, previsível.
Olhem aí a mocinha.



Ela é filha do grande rei! Já tem um cara com quem vai casar e sabe atirar muito bem, no fim ela prefere ficar com o cara que veio da "civilização" e se encantou por seu mundo "exótico". Tal qual:


Tchanã!!!!!!

Olha... até a cara delas é parecida. A boquinha "vem cuidar de mim" e a postura "sou uma mulher independente, conectada com a natureza, mas tenho peitinhos". Ah não!

E os monstros? Todos saídos do magic, como lembrou um amigo meu.
Agora uma coisa que me faz voltar a um dos meus assuntos das férias: a Bolívia.
De acordo com o livro que eu ainda não terminei de ler e uma meia dúzia de blogs, o conceito de natureza, sociedade, comunidade, etc dos azuis é exatamente igual (ou muito próximo, para não enfurecer os  sociólogos e afins) ao dos povos originários na Bolívia (quechua e aymara). Olha... todo esse papo de conexão com a natureza, de que somos um só, retribuição do que se obteve, respeito aos antepassados, responsabilidade comunitária e não individual, tudo é igual. (OK, menos o sistema de hierarquia, mas isso é outra história.) 
Mas imaginem que feiosa a imagem de um indígena boliviano sendo morto por um tanque americano. Quase tão ruim quanto a ameba cagona.


Quando são dragões e navinhas fica mais bonito:


Eu fico cada vez mais impressionada com essa falta de incoerência.O filme com a maior bilheteria da história é uma metáfora do que os próprios americanos fazem por aí. Ou melhor, por aqui!

O que é também impressionante é como nem os bonzinhos humanos que viram azuis conseguem  se desvencilhar dessa ideologia americana de superioridade. O guerreiro bonzinho azul-humano aprende a língua em 90 dias, mas quando tem que falar com o povo, fala em inglês. Ele fala na língua local quando está fazendo os testes para ser aceito como membro da sociedade, depois acaba. Retoma os trejeitos rapper dele, transa em inglês, pede ajuda em inglês, manda em inglês. Uma coisa curiosa de linguista... os nomes dos personagens (Neytiri, por exemplo, nome da mocinha azul), ele fala com os fonemas do inglês mesmo quando falando na língua nativa. Isto é (imaginem), enquanto todos em língua nativa falam Neytiri com o R que falamos em português [carinho], esse idiota fala com o R de [sorry]. Até o nome do ser azul da vida dele é horrivelmente americanizado.

Bom, é isso. Fim. O filme termina como todos os outros. Não sei se para ver esse tipo de imbecilidade o meu problema é ser linguista ou de esquerda.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Para o Gabriéo

Ontem eu vi tv, vomitei e fui dormir.
Tv é algo como torresmo, vc tem que comer sempre para ir acostumando o corpo, se não fica com caganeira por três dias. Estou no segundo dia e tenho sorte de ter o laptop para poder escrever da privada.
Eu me questiono, no auge do meu trono, o que me provocou tal revertério. Os comerciais, a novela, o bbb, o jornal?
4 em cada 5 comerciais eram de carros. Mulheres de calcinha, homens lindos com mulheres gostosas que sorriam por sentarem-se em um confortável banco de passageiro, piadas sem graça, redução dos impostos (ah haha! que engraçado, vamos salvar o pais da crise econômica, fabriquem mais automóveis! essa era a piada mais sem graça de todas), fiat, chevrolet, hyundai, tudo nos pátios hoje de manhã esperando caras futuramente lindos ou famílias futuramente felizes.
Uma propaganda que chamou especialmente a minha atenção foi um comercial da vivo vendendo telefones para garotinhas de 5 anos com pais separados.
- Papai, vc não vai morar mais com a gente?
- Não, mas vou estar sempre perto! *joga um vivo qualquer modelo na mão da menina, abraços, pessoas sorridentes, compreensão, amor, carinho!, menininha andando no shopping e falando com o papai, menininha no ballet e falando com o papai*
Sério, foi incrível. Não têm vergonha de explorar o ponto fraco do mercado consumidor assim, na cara dura. Fiquei imaginando a próxima propaganda da vivo: vc vai pro Haiti, leve um vivo e preveja terremotos e afins.
Fomos para novela, eu ouvi uma sábia frase "As mães estão sempre do lado dos filhos. Dos filhos homens quando brigam com as mulheres e dos genros quando brigas com as filhas." Eu sei que a minha pragmática não é boa, mas eu juro que é uma proposição contraditória a menos que vc tenha muita boa vontade de interpretar a novela. Eu tenho pouca boa vontade. No entanto, concordo com essa última parte que foi comprovada pela minha mãe dizendo que não faria almoço só para mim caso um cara futuramente genro não viesse. Minha sorte é que hoje de manhã vou poder ver o programa da Ana Maria e aprender a fazer alguma comida antes do horário do almoço.
Com a novela das 8 eu me impressionei. É muito complexa! Da outra vez que vi a novela (no Natal), eu pude captar a essência essecialmente boa ou má dos personagens (não sou genial?) e agora está tudo trocado!!!!!!! A má ficou boa porque está paraplégica, a boa ficou má porque não está mais apaixonada pelo marido, o mau ficou bom porque se apaixonou pela paraplégica e o bom está deprimido na cama. Olha... quem pode acompanhar essa enorme quantidade de informações? A globo está se passando. No natal ela era plaraplégica, e hoje!!!!, já faz arranjos de flores e vai à praia com sua cadeirinha de rodas. "Olha só, sou de blogueira a paisagista", disse ontem a cadeiranta fake que antes era apenas uma modelo gostosa, fútil, rica e linda, mas infeliz. (Ela disse sem crase mesmo.) Pobrezinha!
Eu torço para nunca ficar paraplégica... o que acontecerá com as doutorandas gordas e pobres?????? Temo pelo meu futuro.
Ontem eu também temi pelo meu futuro quando vi que se aproximava o bbb. Eu estava certa que de ontem não passaria a descoberta sobre quem é o Dicésar ou o Dourado. Descobri. O primeiro é um gay que faz intriga pelas costas (que vocabulário lindo que eu ando aprendendo) e o segundo é um pit boy que ladra e talvez morda.
Olha... a linguista já saiu do bbb! E eu não pude vê-la, todo mundo disse que ela se parece comigo, mas eu quero deixar algo bem claro, uma orientanda do Borges é o oposto de uma orientanda do Raja. Logo, não somos parecidas, a não ser que uma de nós seja um espelho. Eu, aliás, me pergunto. Será que o Raja, com esse plano dele de linguística crítica e que atinja massas, está feliz com a aparição da orientanda dele no bbb? Será que ele acha que ela foi fofoqueira, intriguenta ou disse tudo na cara? Será que é legal ver sua orientanda de bíquini na tv?
Talvez se vc for orientanda do Raja, porque pensando nas orientandas do Borges, prefiro que fiquemos de roupa.
Bom, mudou-se o canal e fomos para a novela da record. Uma adolescente pedia atenção aos pais. Clique. Plástica dos famosos. Clique, globo repórter mostrando a útima descoberta de 10 universidades brasileiras (seriam elas a uniban, a unip, a uniandrade, a unibrasil, a unisul, a uninorte, a unileste, a uninove, a uniesquina, e a uni do carvena do dragão?) sobre como faz bem beber líquidos no verão.
Fiquei imaginando o quão acurada foi essa pesquisa já que o resultado saiu na globo, um dia antes do fim do horário de verão.
Bom, eu resisti e resisti, e vi o jornal. Ainda uma retrospectiva do Haiti, mais alguém que matou alguém, o governador do DF (DEM) mudando de sala no presídio (antes ele tinha uma sala de 40m², mais ou menos o tamanho do apartamento que morei com mãe, irmã e cachorra durante a minha adolescência, agora ele foi para um de 10m² sem banheiro, ele tem ainda um metro a mais do que eu tive quando morei na França para fazer parte do mestrado) e a notícia da noite: uma escola estadual nos EUA deu laptops para os alunos levarem para casa, era possível acessar a webcam à distância e vigiar os alunos mesmo quando estavam em casa. Claro, isso era apenas um dispositivo de segurança! Isso é tão absurdo que mereceria um post só para isso, mas minha situação de tronada fez a consideração mudar de tom. Eu me sentiria uma ridícula aqui desenvolvendo o porquê essa situação é inconcebível e como os estadounidenses são malucos, o problema verdadeiro foi a enquete que a globo colocou no site "Vc acha que a escola tem o direito de vigiar os alunos em casa?" O que?????? Estão malucos? Eu esperando um "assine vc também um abaixo assinado e envie ao governo americano mostrando sua respulsa contra a invasão de privacidade promovida por esta escola", mas não. Eles chegam a questionar o direito de alguém estar em sua casa e não ser vigiado 24h por dia. Repugnante. Depois, quando lembrei que na globo passa o programa chamado bbb, me aliviei. São pelo menos coerentes.
E eu fico aqui, tenho ainda um dia e meio de trono e já estou pensando se depois dessa regalia alguém vai me por no paredão.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Quarta feira de cinzas

T.S. Eliot

Parte I

Porque não mais espero retornar
Porque não espero
Porque não espero retornar
A este invejando-lhe o dom e àquele o seu projeto
Não mais me empenho no .empenho de tais coisas
(Por que abriria a velha águia suas asas?)
Por que lamentaria eu, afinal,
O esvaído poder do reino trivial?

Porque não mais espero conhecer
A vacilante glória da hora positiva
Porque não penso mais
Porque sei que nada saberei
Do único poder fugaz e verdadeiro
Porque não posso beber
Lá, onde as árvores florescem e as fontes rumorejam,
Pois lá nada retorna à sua forma
Porque sei que o tempo é sempre o tempo
E que o espaço é sempre o espaço apenas
E que o real somente o é dentro de um tempo
E apenas para o espaço que o contém
Alegro-me de serem as coisas o que são
E renuncio à face abençoada
E renuncio à voz
Porque esperar não posso mais
E assim me alegro, por ter de alguma coisa edificar
De que me possa depois rejubilar
E rogo a Deus que de nós se compadeça
E rogo a Deus porque esquecer desejo
Estas coisas que comigo por demais discuto
Por demais explico
Porque não mais espero retornar
Que estas palavras afinal respondam
Por tudo o que foi feito e que refeito não será
E que a sentença por demais não pese sobre nós
Porque estas asas de voar já se esqueceram
E no ar apenas são andrajos que se arqueiam
No ar agora cabalmente exíguo e seco
Mais exíguo e mais seco que o desejo
Ensinai-nos o desvelo e o menosprezo
Ensinai-nos a estar postos em sossego.

Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte
Rogai por nós agora e na hora de nossa morte.

Tradução de Ivan Junqueira, do original:
Collected Poems 1909-1962, para a
Editora Nova Fronteira em 1981.

 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Arte na rua

Pronto!
Isso que eu entendo por arte na rua.



Triste p.s.: Estão reformando o prédio à esquerda. Ele era meu segundo favorito de toda São Paulo (agora me junto ao Tiago contra o novo).

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

MASP

Finalmente um post que foge um pouco do Sr. Meu Umbigo.

Na terça, eu fui até o MASP aproveitar a franqueza da entrada. Fui para ver o Chagall e quase me recusando a ver a exposição de arte de rua. Não porque é arte de rua, mas porque me cansa demais essa coisa de "rua no museu". Rua no museu? Em um museu cuja entrada é 15 reais? Ah... é demagogia demais.
O que me parece mais interessante são esses projetos de levar música erudita na favela com um maestro razoável que explique o que um carinha do século XIX láááá na Europa queria dizer, que brinque com os instrumentos, etc.
Hoje eu vi na sala Olido uma apresentação de música erudita para deficientes mentais. Foi tão genial. No fim, todos estavam regendo com o maestro em suas cadeirinhas. Eu acho inclusão social na arte um negócio incrível.
Acontece que eu tive duas surpresas muito boas lá no MASP. Uma foi um documentário do Roberto d'Ávila e do Walter Salles sobre o Chagall (tudo bem... ele é o querido do meu coração junto com o Vincent ;)) e outra foi um paulistano um pouco maluco chamado Stepahn Doitchinoff que participava da exposição de arte na rua.
Esse cara tem uma estética que muito me agrada e um projeto de intervenção urbana genial. Fiquei bem feliz mesmo só de lembrar que nessa terra onde tubarões valem milhões tem gente que ainda faz coisa legal.
O resto da exposição de arte na rua foi um pouco demais para mim. Tudo meio gritante, grande, colorido. Tudo isso, pensei, faria sentido se estivesse na rua. Não aqui dentro do museu. Esse bando de vermelho e azul não brigam mais com o cinza dos prédios e sim com um branco-hospital do museu. Fake, total fake. Ainda tinha uma paredinha onde os visitantes dos primeiros dias puderem se expressar e eu achei bem no alto uma inscrição tímida "arte de rua só faz sentido na rua". Voilà.
Enfim, dos outros caras da exposição de rua, também gostei de um segundo. Daniel Melin. Ficam por aí os links para quem não pode ir nas exposições (e fica também o convite básico para os meus amigos de irem, ficarem na casa da minha mãe e o blá blá blá conhecido já).
Quanto à exposição do Chagall, bom... Era uma exposição de gravuras, litografias, etcs. Não tinha nenhuma das grandes pinturas dele, mas até a unha do dedão desse cara me emocionaria. Infelizmente, não achei o documentário da vida dele para postar aqui, mas ver a relação da vida dele e da arte dele é algo que me fez sentir boa partes das sensações que eu conheço.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A imensa capacidade de apreensão da religiosidade por parte das moçoilas dos dias atuais

       - Peraí, vou até o São José pedir um marido.

Vó - Tá bom, mas não sei se vai funcionar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A imensa capacidade de interpretação de metáforas e compreensão do simbólico dos avós dos dias atuais

Vó - Eu não gostei desse doce. (doce de feijão azuki)
 
   - É, mais fede do que cheira para mim.

Vó - Ah... Eu não cheirei.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Botero

Eu ando naquela mania pós-moderna (sabe-se lá o que é isso) de pensar nas mesmas coisas tentando achar diferentes óculos, ando misturando tudo, pondo lé com cré num imenso liquidificador e achando conexões entre tudo que penso.
Meus maravilhosos assuntos de férias: literatura, arte, sexo, bolívia e academia.
O resumo das minhas epifanias é um casal transando na academia com toquinhas bolivianas. De repente, menos zoom. E a imagem se torna a capa de um livro de arte. O casal era dois gordinhos com pelos nos suvacos.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Literatura

Algo tem me deixado feliz, algo que já deveria ter acontecido há muito tempo, mas cada um tem seu tempo, dizem.
Finalmente eu consigo ler alguma literatura moderna/contemporânea sem achar uma grande bosta generalizada. Agora acho bostinhas individuais ou super obras geniais. Se antes eu enfiava irmãos campos, pound, dalton trevisan e bukowski tudo no mesmo saco, agora eles estão numa pratileira (imaginária, claro! meus livros continuam todos no chão) separados pelo meu gosto pessoal completamente arbitrário.
De tudo que eu ando lendo, acho que vale a menção ao Zero, do Ignácio de Loyola Brandão. Me dá bons arrepios quando eu vejo alguém que não pontua os textos com uma boa razão para isso.
Outro que anda me dando bons arrepios, é a pedreira:


Não fosse isso e era menos,
não fosse tanto e era quase.

*Vou procurar o catatau e uma marreta.*

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Livy de férias

Hoje, enquanto eu me irritava na fila do mercado, eu li a Veja. Falava sobre as maldades do Chávez contra a democracia.

Me desirritei. Da fila.

À noite, irmãos Cohen.

Política para se desligar do umbigo.
Arte como catarse.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Na academia

- Oi, amiga!
- Oi, querida! Ta sumidinha!
- Pois e, mudei de horario!
- Ah vc faz falta, gata!
- Pois e, eu tambem nao gosto do novo horario. Nao converso com ninguem e ficar fazendo aparelho sem ninguem e chato.
- Verdade. A gente pensa muito dai.
- E bem isso, amiga! Eu fico la so pensando! Ta ate me fazendo mal.

(transcrição exata, JURO!)

domingo, 31 de janeiro de 2010

Podando o jardim

Pronto! Decidido: ia abandonar o jardim da frente da casa. Desde que se mudara para aquela casa, tinha se dedicado arduamente a emperequetar o jardim da calçada. Mal tinha móveis, nenhum combinando e as roupas ainda estavam em caixas. Mas sabia: morava no bairro mais chique da cidade, vindo de um lá, lá bem longe onde nem tem terminal, nem ônibus que vai direto para cidade. Já era naturalmente mal vista pelas vizinhas, os filhos não eram loiros como os dos vizinhos, o carro nem era mais fabricado. Não tinha nenhuma roupa cujo nome fosse mais conhecido do que o seu próprio. Sabia não fazer parte daquele bairro e achara que o jardim era o método mais fácil de ser aceita.
"Todo mundo gosta de flores, não gosta?" pensava ingenuamente.
Ela não gostava, preferia cactus. O marido tampouco, jardinagem era perda de tempo. Vamos ver o futebol. Os filhos ainda não tinham idade para gostar ou não, mas aparentavam ter um gosto claro por terra com minhoca. Comiam tudo.
Pois depois de dois anos cultivando o jardim, viu que ainda não tinha cultivado os vizinhos. Uma noite, lá pelas dez, a cachorra latiu e o marido foi ver o que era. Não era nada. Na manhã seguinte, a moça achou seus jasmins e ciclames podados. Todinhos. Ela, que já sabia cultivar margaridas, violetas - Sabia que existem mais de 6 mil tipos de violetas no mundo??? contava, contabilizando o baixo custo das flores que enfeitavam o interior de sua casa - gardênias e girassóis, tinha esperado um ano até ter internet em casa e um computador que não travasse quando mais de 2 páginas estavam abertas para descobrir que o que estava em voga eram as flores exóticas. Deixou de tomar café na cantina da faculdade e logo comprou suas mudas de flores exóticas.
Cultivou como quem escreve um pedido de aceitação. Esperou ansiosamente o carteiro e uma manhã descobriu que não. Não era lá muito bem vinda na sua vizinhança.
Ainda faltavam 22 anos para terminar de pagar a casa, então pensou em se mudar. Chegou a jurar que se mudaria caso um pedido de desculpas não surgisse. Bradou pelos quatro cantos da rua, além do vento, achou um vizinho que entendia que as crianças cortassem as flores, furavam as bolas.
Ele não devia entender muito de flor, ela não tinha uma rosa sequer.
Também não tinha tv de plasma, cabelo liso, unha pintada, nem palavra.
As desculpas não vieram, ela também não se mudou. Queria que os filhos crescessem ali, num bairro melhor, com gente da alta, que tem mais educação. Num lugar onde, quando ela falasse que escolheu a escola dos filhos graças ao seu projeto pedagógico, fosse aprovada.
Decidiu e ficou. Pelos filhos, para que eles quando se mudassem não tivessem as flores cortadas.
Ficou por ali, sem jardim.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Casa

Para quem procurava uma janela, talvez eu tenha tido sorte.
Achei uma casa. Uma casa quase inteira. Sem nada dentro, um pouco torta. Janelas enormes, algumas poucas flores e uma escada que dá a lugar algum. Também tem um sotão onde guardarei uns judeus quando precisarmos. Já tem internet (YES!), tapete e chuveiro. Já manchamos o tapete de cerveja e colocamos o chuveiro no 220 para ficar quentinho no inverno.
Uma casa espaçosa, cheia de espaço para por música, arte, livros, fotos. Espaço para viajar, para ir-se. Tanto, mas tanto espaço, que aqui nunca se ficou muito perto. Imagino. Imagino de longe.
Já passou tanta gente por aqui. Eu já passei por tanta casa antes dessa. A gente sabe tão bem o quanto somos temporários que não vai doer dar tchau. O problema é descobrir como ficar. Eu, minha casa e meu umbigo.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Tchau, gato.

Deitada na minha cama e o gato vem.
Vem, observa, ronda, cheira e olha pela janela.
Ah vem aqui.
Ele não vem.
Essa janela aberta parece tão mais interessante do que esse colo conhecido.
Eu imploro e ele chega, só um pouquinho, hein - ronrona. Cheira meu nariz, reclama do cheiro do cigarro. Anda sobre mim, deita a cara entre meus seios. Ele fica tão bem ali.
Enquanto ganha carinho, o gato namora a janela. O desconhecido, a liberdade do estar longe.
Escuto fogos e entendo. Medo.
Seus olhinhos amarelos parecem tão frágeis, ainda que prontos para descobrir o mundo lá fora. Esse bolinha transparente dá uma vontade de cortar, furar, espetar. Parece só uma proteçãozinha do verdadeiro olho, o que fica embaixo, escondidinho, esperando para descobrir ou ser descoberto.
Eu sempre acho que ele vai se perder, mas o gato volta.
Ele sai com o rabo empinado, eu chamo a toa. Apoia as patas traseiras na minha barriga. Trampolim perfeito para uma vontade de ir embora, de enfiar a cara não sei onde.
Ele pula, eu pulo. Me despeço de longe e pego minha mochila.

Vontade de achar minha janela.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Resoluções de Ano Novo

Este ano decidi começar a fumar. Não vou procurar um novo emprego, eu gosto bastante do meu.
Também não passarei mais tempo com os meus amigos, afinal a gente já vive grudado. Não vou ser mais compreensiva, aberta ou ética.
Vou parar com essa história chata de dieta e ver a minha família tanto quanto vi em 2009.
Ixi... vou viajar menos que ano passado, aprender menos coisas. Vou ler mais livros (mas isso é por conta da tese). Também vou economizar menos dinheiro ou gastar o pouco que tenho. Mas só em coisas idiotas, fúteis e completamente perenes.
Não vou fazer mais sexo, nem doar mais sangue, mas vou continuar gozando e estando no banco de medula.
Não vou procurar um grande amor e vou me lembrar sempre que quem procura, acha.
Minha casa vai continuar bagunçada e o banheiro com escovas de dente que não são de ninguém. O espelho ainda vai ter manchas brancas e a pia vai feder a listerine, como sempre fedeu.
Também vou continuar a falar muito quando não devo e ficar quieta quando querem que eu fale.
Vou rir das pessoas pelas costas e achar que o mundo é burro.
Não vou aprender uma letra de música sequer, mas vou continuar cantando todas do meu jeito. Pra desespero dos que vivem grudados a mim.
Vou continuar fazendo coisas erradas quando ninguém está olhando, mas sem desperdício de energia.
Minhas fotos vão continuar amadoras, meus escritos lugar-comum e minha cara cansada, apesar da base. Talvez mais cansada por conta do cigarro que consumirei.
Não vou trocar de bar, nem de garçom, nem de cor favorita. Não comprei roupa nova e não decidi nenhuma cor de calcinha. Coloquei todo o louro no feijão e o mar está longe. Pular só para São Longuinho.
Vou ir menos ao teatro e em apresentações de dança. Vou ficar menos inteligente e bem mais pedante.
Esse ano, o teclado e minha boca vão continuar sujos e minhas mãos limpas.
Vou continuar não fazendo intrigas e acreditando que as pessoas também não fazem. Ainda que façam.
Vou surfar menos, mas hospedar mais.
Vou cozinhar menos, mas mais para amigos.
Vou ficar bastante sozinha, como ano passado, mas por motivos diferentes.
Vou continuar viciada nas minhas agendas, mas troquei o pintor da capa.
Vou continuar comendo com a mão, lambendo o prato, passando o dedo na caneca e reclamando quando o vinho não for servido em taça.
Usando meia colorida e roupa preta. Tendo uma casa com poucos móveis e muita gente. Principalmente quando eu não tiver uma.
Continuarei a ouvir os mesmos cds insistentemente até enjoar e depois nunca mais.
A reclamar de ter que ir jogar sinuca, mas ir. A reclamar de qualquer coisa. De quando o queijo fica ressecado na geladeira. De quando tenho que ir rápido. De quando o filme bom está só no cinema do shopping. De quando não tem filme bom. De quando tem. De tudo.
Esse ano ganharei, além do vício, uma sobrinha. Mas disso eu não reclamo.

Bon, c'est fini. On est arrivé.