quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Zé e etc

Se tem uma coisa que eu gosto é de homem com nome pequeno. Mas tão pequeno que não carece de apelido.
Depois que conhece e diz oi, descobre o nome. Mas de tão minúsculo, já é o apelido. O afetivo. Daí acabou.
Pode entrar na casa, abrir a geladeira e andar de calcinha.
Homem de nome pequeno já vem pronto. E se quiser mudar algo, danou-se, porque não muda. Fernando vira Fê, Fer, Nando.
Gil vira Gilvedévio. Jonas, Vegetariano-não-tão-chato. Jean, Petit Prince.
[Livy não vira nada.]
Homem com nome pequeno a gente até acrescenta, mas tirar, não tira nada.
Nem pro bem, nem pro Mau.
Maurício, que é bom, quando vira Mau, danou-se.
Álvaro, que é mau, vira Alvareta. E daí fica bom, porque tem rima boa.
Uma vez, eu conheci um Livio, ele virou Livy e eu Livio. Quem acrescentou foi ele, que também não perdeu nada. Eu? Perdi o trem.
Quando homem tem nome grande, mas tão grande que o apelido já é um novo nome, daí eu vou embora. Quem já tem muito, insiste em querer mais.
Quando o homem tem nome pequeno a gente pergunta "mas é Gilberto?" e descobre que tem pais malucos.
Quando gato tem nome pequeno a gente acha bonito. Mas na verdade, não é Ale, é Alecrim. Alecrim Dourado da Silva Brasil. Nome pomposo, para gato.
Quando o José virou E-agora-José, daí que ficou bom. Não tinha mais o que sobrar.
José é tão maior que Jonas, que daí vira Zé.
Eu, que-penso-que-sou-grande-mas-na-verdade-sou-pequena, gosto do pequeno, que não vira nada. Que a gente olha e já sabe. Que na identidade assina mais o sobrenome para ver se enche a linhazinha. Mas não enche. Homem de nome pequeno não enche nada.
Nome grande fala, nome pequeno lê. Ou toca violão.
Eu gosto da intimidade do nome pequeno. De como ele não transborda nunca. Fica quieto, fica lá. Falta um pedaço.
Eu, que enxergo o copo meio vazio, não sou moça acostumada com sobra.
Minha vó gosta de sobra, tem milhares de tapawerzinhos. Seu grande amor chamava Benedito.
Se fosse só Dito, eu pegava para mim. Ficava o dito pelo não dito e a gente seguia, de mãos abanando, cantando músicas diferentes, juntos.
Já quis muito um filho, Vinícius. Mas Vi, Vini, Ni é demasiado.
É para ter um só, melhor joão, mas esse aí eu já tenho e já tá bem barbudinho. Bom mesmo é quando o joão vira rosa.
Homem de nome pequeno faz falta quando está ali, mas depois que vai embora está completo. Se um Vinícius vai embora, vai junto o Vi, o Vini, o Ni e daí a casa que era cheia fica vazia. Que era muito barulhenta, fica quieta, e eu, de nome pequeno, não encho casa nenhuma. Não toco nada, não falo sozinha. Se der, acompanhada também não falo.
Eu gosto de home bem pequenininho.
No fim, gosto mesmo é quando vão embora. Ficam as fotos, o silêncio e o miado do Ale. Dá para se querer mais?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

NY

“Fui a Nova York

Não de avião ou transatlântico

Nem com ajuda de Orfeus

hoje impotentes

Fui de cinema.”

Sérgio Milliet

Na santa casa

Ei moço,

tardei demais da conta, mas entendi que o problema é consigo.
agora, aLívio, troquei os óculos.

beijo-me-liga

domingo, 27 de dezembro de 2009

Gastrite Natalina

Eu me disse "sem comentários natalinos, sem comentários natalinos", mas não dá. Ontem eu estava com um amigo andando pela Paulista revestida pela breguice natalina entupida de famílias que vestiam uma peça de roupa nova porque era natal. Por sorte, ele também achava tudo massificado e yankee. Eu ainda ficava puta com o gasto de energia elétrica.
Hoje, eu estou na frente da tv vendo um padre cantar no programa do Didi. Minha mãe acaba de descrevê-lo como "o hit do momento" . Ela me ofereceu uma batida de maracujá, recusei porque já estou com problemas gástricos suficientes.
Faz três dias que comemos pernil e que eu respondo a minha vó, uma velinha muito teimosa, que, apesar de eu não acreditar em deus ou no menino jesus, eu acredito na ética, na bondade e na reciprocidade. Não adianta, eu vou pro inferno. Eu e minha gastrite.
No inferno, pelo menos deve ter internet. Deve ter também a Piauí, minha diversão dos dois últimos dias.
Então, eu sento no pc e vejo os mesmos e-mails. Nada novo.
Releio de novo os e-mails que me chegaram de diferentes partes do mundo (très chic!) e decido de novo não responder agora. Um dia, amanhã, depois do almoço.
Me animei com o almoço, diz que vai ter bacalhau. Não seria melhor guardar pra páscoa já que a gente anda sem grana?
Enfim, o post veio depois que li em um outro blog a descrição do meu natal. De repente, fica-se feliz porque tem mais gente na merda, rola uma identificação e pensa-se que tudo bem, quando passar o natal voltamos a ficar junto das pessoas que odeiam o natal separadamente na casa de suas famílias que amam o natal. O mais curioso é que eu sempre gostei do natal, curtia fazer os presentes, arrumar a casa, fazia enfeitinhos blá blá blá.
Daí agora vem o trabalho, a irritação, as contas e a concepção de mundo. Eu gosto muito do natal entre pessoas que odeiam o natal. Entre pessoas que reciclam o lixo e não têm pisca-pisca. Conversamos uma meia hora sobre o ridículo natalino, contamos anedotas, abrimos presentes bacanas (dessas coisas banais... livros que se compra em sebos, presilhas de cabelo feitas com retalho e uma cadeira feita por alguém). Daí vem o discurso sobre como nós, pessoas bacanas e que parecem inteligentes (como disse ontem um vendendor de rua), também nos rendemos ao patético espírito capitalita judaíco-cristão natalino e trocamos prensente. Por sorte, vamos ter uma bustinho do Marx vestido de papai noel e nos penduraremos em algum site engraçado para deixar de nos ridicularizar. Ah, tambem jogamos war e eu ganho. O=)
Enfim, o natal em si poderia ser legal se ele fosse uma desculpa para estarmos com pessoas legais, mas cada um de nós está rodeado por nossas tias gordas e suadas escondendo nossas últimas leituras. Para ajudar, no final do dia 25, assistimos algum filme que mostra os jovens que maltratam suas famílias arrependidíssimos depois que um vovô bate as botas repentinamente.
Agora ouço a voz da minha mãe na cozinha: porra, era suco!
E eu ainda espero o bacalhau para decidir qual a meleca que devo estar fazendo no reveillon.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Papai noel

Bom, eu quase não vou falar nada sobre o natal porque tudo já é muito batido. Inclusive socialistas cristãs-atéias que gostam de natal e pintam a unha de vermelho-puta em homenagem ao bom velinho, Marx.
Saindo esses dias para dar uma volta, eu e mais dois amigos passamos na frente de uma das maiores selarias de Curitiba. Selaria, sela, cavalo, essas coisas. Obvimente, ela não é muito grande já que temos poucos cavalos em Curitiba. E mais, os cavalos de Curitiba não têm donos com grana para levá-los em uma selaria. Enfim, selaria em Curitiba é coisa de playboy.
O curioso é que é natal e as pessoas da selaria. que apreciam muito cavalos, também gostam de papai noel. O lindo resultado foi um Papai Noel gigante sentado em cima de um cavalo de plástico em tamanho natural que eles têm em frente à lojinha. Bonito, né?
Ele se mexia e dizia ho-ho-ho enquanto eu pensava quanta energia elétrica não era gasta com o boneco. Boneco, aliás, que tinha uma flexibilidade incrível, digna dos cavaleiros de zodíaco da Cloth myth, os da Bandai estavam no chinelo.
De repente, o bom velinho com uma voz bem grossa de papai noel diz "ho-ho-ho vocês curtem um rock?"
Eu, que sou boba, mas não muito, pensei "ahhhhhhh bão!" e nem passou pela minha cabeça a possibilidade do boneco poder ter várias frases gravadas em seu repertório e isso ser escolhido deacordo com a pessoa que passava. Seria ótimo, uma energia elética bem gasta, mas não pensei.
Depois do espanto, o Papai repete com a voz rouca se gostamos de rock, de Dream Theater.
Gostamos (estávamos todos de preto, num dia de sol, com um cabeludo junto. Hoje eu responderia "Gostamos, dãr!")
Noel tinha uma banda cover de Dream Theater com cartõezinhos na selaria e tudo. Encheu nossas mãozinhas ávidas de balas de menta ardidas para caralho, me repreendeu por falar muitos palavrões durante o ano e seguimos caminho.
Pois, como não podia deixar de ser, o Natal, essa época onde o consumismo capitalista nos esmaga entre dedos gélidos de duendes que não fabricam mais brinquedos de madeira =p, tem dessas coisas. John Petrucci vira Papai Noel e metaleiros e socialistas se unem e vão às compras.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Loyalty

A gente corre, corre, mas fica.



Path of Glory

Demons & Wizards

For ages now
I've often faced the fear
It's hard to see
Old memories are clouding my mind
It's beyond this life
I know the secrets are within me
Wonderin'
In a world of broken dreams
Depressed and haunting me
No way out
So many times it's hopeless dark and gray
No way out
And other times it's hope that saves the day

Many moments of my life I pray tomorrow
Inner peace will find its way and set me free

There's a light beyond the dark (darkest day)
There's a light beyond this life
And painful memories will all wash away
Painful memories will all wash away

No longer struggle with the fear of
The end and what's beyond
I live a life of loyalty
True to myself and my own

The way out
A sea of life so peaceful and serene
The way out
The path of life lies open wide for me

sábado, 5 de dezembro de 2009

E todo mundo foge de casa...

Vou-me Embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.



mas, seu maneco, Pasárgada é looonge pra burro!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dr. Faivre

Voltando da UFPR para casa(?) vi um poodle de sapatos e pensei que o mundo estava perdido.





Na quadra seguinte, vi uma menina que sumiu do yoga há uns meses. Ela estava de bicicleta com uma cadeirinha estofada atrás e um saco de batatas amarrado. Pensei que tem solução.


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Maintenant, Toujours

Às vezes eu me pergunto se as coisas estão assim porque eu envelheci. Não sei dizer se acho bom ou não. Eu nunca fui tão madura e clara, mas também sempre fui mais impulsiva, mais apaixonada. Me pergunto o que é melhor, se isso é uma escolha. Parece que as coisas agora são tão mais fáceis, tranquilas. Mais mornas e menos devastadoras. Eu, que sempre preferi os altos muito altos e os baixos muito baixos, ando vivendo numa estranha linha reta de emoções. E embora de monótona minha vida não tenha nada, eu tenho sentido quase que diariamente uma estranha sensação de calma.



Acho tudo isso muito chato.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Questões já batidas

Oi Blog,

Mais uma vez eu venho aqui postar minhas experiências pessoais achando que no final do post vou ter entendido um pouco mais do que ando passando.

Há alguns dias, postei algo sobre a minha relação com meus amigos, como estávamos diferentes e como algumas amizades não faziam mais sentido. Esses dias, dois eventos me fizeram repensar essas minhas relações e, consequentemente, minha relação comigo mesma e, agora, com meus preceitos.

Esse fim de semana fui para SP e um dia fui sair com um grande amigo com quem tenho muito em comum. A gente ri, fala das academias, fala tudo muito abertamente, ele (apesar de heterossexual!) tem saco para escutar o que eu penso dos homens, blá blá blá. Ele é bem legal. Mas daí aconteceu de ele inventar de querer ir no shopping e eu fui junto... Fazia uns meses que eu não ia em shopping e, talvez, quase 2 anos que eu não ia em shopping no BR. Juro, por Júpiter que é mais sacro, que eu não lembrava que uma camiseta podia custar meio salário mínimo. Quer dizer, 26% dos brasileiros (segunda uma tabela de 1997 do dieese que eu acabo de olhar) vivem com até um sálario mínimo. Isto é, brasileiros empregados com mais de 10 anos. 1/4 da população economicamente ativa do Brasil poderia comprar duas camisetas por mês e fim. E eu ali, perfumadinha no shopping. Patético.

Tão patético quanto eu ir ao shopping, é eu me sentir mal por isso e depois abrir dados do dieese para entender quão horrível eu sou. E mais, quão horríveis são as pessoas que sim, compram essas camisetas, como por exemplo esse meu super amigo. Daí, eu estou lá, já me sentindo mal por lembrar que essa diferença social existe, ainda mais mal por estar de certa forma colaborando com aquilo indo lá e olhando vitrines (ainda que seja para me espantar) e escuto esse piá comentando que não, da TNG ele não compra mais depois de mudou sei-lá-o-que (seria o estilista?) ou que as roupas da Yatchsman (acabei de procurar esse nome no google!) não duram, então também ele não compra mais.

Isso me impressiona, sabe. Eu, às vezes, acho que eu deveria ser mais parecida com os meus amigos. Eu não vou ao mac, ele quis ir em uma sanduicheria (sanduicheria!!!!!!!! lanchonete, lugar onde vende X, qualquer coisa... menos fast burgers... please!) com o maravilhoso nome de America. America, sabe? Como o Capitão.

Sério... aquilo me deprimiu. Porque as pessoas reciclam seu lixo se depois vão num lugar com o nome que o país que menos aceitou as propostas ambientais do Encontro de Copenhagen escolheu para si? Bom, todos nós, brasileiros, e por isso, americanos, sabemos que América NÃO é os estados unidos.

Nessa noite, eu fiquei muito triste. Porque as pessoas são incoerentes, porque eu sou incoerente. Eu sempre disse que não queria ser uma moralistinha que não sabe aproveitar as coisas, agora eu vou num lugar supercaro que deve ter algo de bom e não acho nada bom... acho tudo americanizado, fake, yanke. Acho tudo de plástico. Logo, eu. Que estou na minha fase bamboo-terra-pau-brasil.

Minha mãe me disse que eu me senti mal porque eu acho aquilo tudo errado e não queria colaborar. Eu nunca fui numa tourada, por isso. Nem no zôo não ando mais indo. Nem circo, nem briga de galo (veja que ecológica! não vou em briga de galo!). Agora também não quero mais ir no shopping. E fico me questionando se eu ainda acho esse meu amigo tão legal. Ele é genial, mas acha bonito que alguns esportes radicais sejam elitizados. Sabe né, motivo de segurança. (Alguém já viu pobre andar na linha? só se for na linha do trem que tem aqui perto de casa... mas com sorte mata-se todos que é para o governo ter menos gasto com programa assistencialista)

Há três semanas, eu fui jantar com um outro grande amigo (esse de muuuuitos anos). Eu pedi uma salada, sem carne. E ouvi por 10 minutos uma enxorrada de valores imbecis sobre porque eu deveria sim comer carne. (p.s.: eu não sou vegetariana! eu só não como carne em todas as refeições da minha vida) Ouvi a pérola de que se evoluímos do macaco é porque comemos carne.

E, então, esse meu amigo (que é sensível, engraçado, inteligentíssimo e muito crítico) resolve me perguntar quais são os meus motivos, depois de defender bastante arduamente os deles. Blá blá blá... contra a indústria da carne, a supremacia do ser humano, a favor da sustentabilidade, de matar o menos possível... Não, eu sou utópica e poliana. Mas alguém já me disse que eu fico uma gracinha pensando assim? Pois é, não me disseram. (esses dias me disseram que uma mulher que carrega sua própria mochila é sexy porque isso significa que ele não vai precisar carregar a dela. Achei patético.)

E continuamos lá, nosso super papo. Dois carnívoros discutindo porque não comer carne. Algo tão idiota. Quando meu segundo super amigo me diz que poxa... caçar é tão legal. Atirar émuito bom, Pum, Matou. E veja, foi só um bixo. Aliás, já conversamos sobre o plebiscito que tentou barrar a venda de armas à população? Ufa! Ainda bem que o povo brasileiro, ainda que chucro, soube defender seus interesses armamentícios e votou pelo porte de armas.

Desisti. Terminei minha esfiha de coalhada seca, peguei o ônibus (meio de transporte não só coletivo, como ecológico). Ele já tinha terminado o kebab, pegou um táxi. A pé, eram só 25 minutos.


Do meu amigo número um não desisti. Fui tomar uma cerveja num boteco pra ver se passava meu desgosto, passou, em partes. Mas eu me incomodo muito que pessoas que não comem carne pelas razões que eu coloco acima não liguem de colaborar com a indústria estado-unidense (que medo de mim... já não falo mais americana!). Ligo que elas não liguem, ligo que eu ligo e saio muito incomodada tanto pela postura das pessoas quanto pela minha.

Eu tenho consciência da falsidade desse meu discursinho moralista-marxista que é pós-eurotrip. É tudo um grande paraxodo (ainda que não pós-moderno porque eu ainda estou pré-guerra fria) que eu ainda não aprendi a lidar.

Eu odeio incoerência e odeio chamar incoerência de paradoxo achando que isso faz as coisas ficarem cults.

Estou terminando esse post depois de 5 horas ferradas de faxina na minha casa. (Queria ver algum derridiano dizer que o mundo não existe depois de lavar privada e tapete com escovinha.) E estou indo direto pro spinning. Literalmente, a pequena-burguesia fede.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Para Fujihara(1984)

Quando eu era pequena, era normal comprarmos uma latinha de refri e aproveitar o anel da latinha para descobrir quem seria o amor da nossa vida. Depois de ter bebido tudo (o que acontecia bem rápido) íamos entortando o anel e para cada lado entortado era uma letra: a, b, c, d...
Eu sempre achei esse esquema de descobrir o futuro muito bom, até porque lá por esse idade eu tinha umas quedas por um Diogo e por um Ian. Era só por um pouco mais de força no pobre anel que ele saía no D ou deixava rolar e saía I facilmente. O anel nunca passava do M, sempre quebrava antes, o maldito. Passei a infância toda apaixonada por um Rodrigo e ele nunca me deu bola graças a esse maldito anel do futuro.
Depois namorei, obviamente, um Daniel. E veio minha fase de negação do destino, da astrologia, de Deus (também com D) e, oclaro, do santo anel da latinha de refri.
Hoje, uma mulher madura e muito vivida, volto a usar a latinha de refri. Embora eu beba mais cerveja do que refri, eu não bebo muito cerveja em latinha e mais, quando estou bebendo cerveja, provavelmente tem alguém cuja inicial muito me interessa junto, e daí banco a cientista e ignoro o anel do futuro. Tenho completa convicção que o ignorando assim nunca serei um Tolkien ou um Wagner, mas parece-me que atualmente achar uma aliança perdida por aí e que caiba nesse meu dedo fino valeria mais a pena.
Claro, depois da negação do astrológico, veio a negação da pós-modernidade e estou recosturando todos os sutiãs queimados. Nessa fase machista e astrológica da minha vida, vou para academia e bebo coisas lights (a cerveja fica restringida a poucos dias na semana só para devolver meu bom humor). Há algumas semanas, estava bebendo pepsi light (porque ainda sou contra a coca nesse minha utopia infantil) e pensando como nunca vou poder ter amores da vida depois da letra M. Indo bem de levinho com o anel da sabedoria consigo chegar no M. O que descobri através de todos os Márcios e Marcelos que andaram passando na minha vida. Então meu instrutor da academia, Rafael, me disse para não beber refri nada. O que adianta ficar fazendo academia para perder peso e bebendo isso aí para ganhar celulite?
Mal sabe ele que eu não ligo para celulite e que tenho plena convicção de que homens que ligam para isso são gays ou nunca receberam um boquete decente e por isso ficaram olhando para os lados errados na hora certa. No meu mundinho reitoria-academia-boteco, gays são maioria, mas em geral eles não vêem minha bunda, então tudo bem.
Bom, depois do meu maldito instrutor com nome com R me falar para não tomar pepsi e ir tomar um del valle light, eu tive certeza de que ele é um porco capitalista. A Del Valle é da coca. Mas pensei que ice-tea é muito legal. E tem de pêssego ou limão [ou exclusivo, infelizmente =( ], tem light, vem com anel da sabedoria. Muito bom.
Lá fui eu, então, na semana passada comprar um ice-tea quando eu sabia que era o Rafael que estava cuidando da musculação.
Olha aqui meu chá. Ah muito bem, nem eu pensaria em uma opção melhor.
Internamente eu ri, né. Instrutores de academia gostam de falar obviedades.
Fui lá ficar erguendo pesinhos, olhando velhinhas e caras bombados que não me excitam e beber meu chá beeem rápido para ter mais um anel do destino a desvendar.
Eu jogo RPG, esse negócio de desvendar pode ser muito excitante.
Bebi, torci o anel... a, b, c, d, e....
Enquanto torcia o anel, pensava que o mundo é um negócio complicado. Uma vez você procura o amor da sua vida, depois seu marido, e só então busca o primeiro cara que vai beijar, para uma semana depois procurar o primeiro que vai transar. Logo, o próximo que vai transar. Em seguida, o segundo casamento. f, g, h, i.... Daqui a pouco procura um que consiga conversar sem ter um pirapaque e acha que já está bom. j, l, m, n.... Será que foi a pós-modernidade que imaculou a sagrada propriedade do anel ou fui eu que cresci como um pau que nasceu torto? o, p, q, r! Ops! R!
Veja que coisa! Instrutor maldito!
"Nem eu escolheria melhor!"
Idiota.
Se ele pensa que eu vou me casar com ele só porque estou bebendo um ice-tea,está enganadíssimo. Desci e comprei um guaraná antartica diet. L. Como sempre. Ufa. Ainda que eu não conheça agora ninguém com L que me interesse, me animei. Nunca se sabe quando alguém tem um Luís como segundo nome.
Saí da academia braba com a petulância do meu instrutor, me fazer indiretamente beber um negócio só para sair o nome dele. No entanto, um dia depois, na fila da cantina, me dei conta da grande sabedoria que eu adquirira. Se antes, com a pepsi, eu só conseguia nomes até o M e com certa dificuldade, agora com o Ice-Tea posso ir até o R. R é uma ótima letra, eu pensei.
No dia seguinte pensei em uma letra... algo pro fim da alfabeto... Não W, não V, não T. Letras que me dão ainda um certo pavorzinho. U, u é bom. Até porque tem tão pouco nome com U que se sair U vai ser mais fácil de achar o próximo piá. Ice-tea lata, ice-tea bebida, anel. U. Muito bom.
Testagem empírica. Pespi lata. Pepsi bebida. anel. G. Genial.
Ainda uma para ter certeza. Ice-tea lata. Ice-tea bebida. anel. S. Supimpa? Muito brega. S são sempre bregaS.
Corri pro banheiro. Tinha bebido muitos enlatados de uma só vez, mas enquanto mijava (o quanto uma mulher pode ser sexy falando mijava e não fazia xixi? Não sei!) percebi o quão dona do meu destino afetivo-sexual eu sou agora que tenho poder sobre o anel. Ainda que eu não desapareça quando eu o meta, escolho se meu próximo xixi vai ser de pepsi ou ice-tea.
Ainda que ter esse poder de escolha acabe um pouco com a minha utopia fetichista de ser só uma saia servindo de alvo por aí, é uma ótima forma de eu mesma me dar conta do que ando querendo. Decidir agora se vou pedir uma coca ou um ice-tea se tornou muito difícil e isso me lembra o quão conceitual eu posso ser. Faz dias que só bebo café.

Apêndice
E bebo café pensando que o A eu não vou atingir nunca.
Então termine a dissertação, enquanto eu bebo um ice-tea fugindo de todas as pepsis do mundo!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sussuruidando

Sozinhazinha, ela foi até o quintal e plantou um rosa. Se preparava para ter febre e ver quantas letras tem etc.

domingo, 8 de novembro de 2009

Ar

"Por favor, só páre de respirar." pensou a moça enquanto ouvia respirações ruidosas entre palavras que não entendia completamente.
Escutava a respiração, tremia tentando preparar sua mente para as palavras.
Faça tudo, mas páre de respirar. Afinal, estava lá para escutá-lo, as palavras, não o ar.
Cada vez que ouvia o ar entrando imaginava porque o moço precisaria de tanto ar. Era para completar o peito...enorme e definido? Ou o coração vazio e doente? Não, não! Era para segurar um pouco mais o gozo... Aquela respiração demorada, cansada. Uma respiração que escorre de suor.
Tá quente agora. É isso, só. Tá calor e ele não está acostumado. Veio de tão longe e lá é frio. Por isso que ele sua assim.
Cada vez que o ar entrava, o peito ficava maior e ele inclinava a cabeça para trás. Poderia perder-se nesse peito. Não era pequena, mas o senso de direção era muito feminino.
Cada vez que o ar saia, ela olhava os olhos deles. Será que agora ele goza? Quando o ar acabava, as palavras também. Daí, ele respirava de novo. E o peito voltava, as palavras voltavam. Voltava o fôlego e seu corpo mexia ainda mais. Tinha medo que ele tivesse uma convulsão. Já tinha visto na tv e era assim, essas mexidas, essa respiração. Suor e baba.
Pois isso de todos terem que respirar o tempo todo é o que atrapalha. Respiração não é tão peculiar que não se reconheça. Respiração pós-gozo é uma, pré é outra. Respiração cansada e suada que não pára dá uma desesperozinho. Ainda mais quando esse idiota fecha os olhos e não se sabe se agora foi a última vez.
"Por favor, só páre de respirar."
Ruidosa, a respiração continuou, entrando e saindo.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Crianças no mundo




Esse universalismo anima =)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Tá chegando!

Eu gostaria imensamente de ter tempo de descrever essa sensação estúpida que chega antes da defesa. E essa sensação de cansaço que chega logo antes da prova do doutorado.
Mas eu prefiro dormir. Para sonhar que bebo Bordeaux com gosto de cachaça.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Rio

Eu ando uma moça de meias e muitas palavras...

"Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando." G.R

Veja e Honduras

Só mais uma noticiazinha de net... E mais uma vez a Veja manipulando descaradamente a opinião pública.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Caso de polícia

Mulher que não reconhece o rosto do "amor bandido".

Posto porque me compadeço por mulheres obrigadas a depor por causa de seus estranhos relacionamentos.

sábado, 26 de setembro de 2009

Honduras e eu

Eu me impressiono em saber que amanhã, dia 28 de setembro, o golpe militar em Honduras comemora seu terceiro mês. Já não sei se me impressiona ou não a total omissão do Conselho de Segurança da Onu, talvez a omissão da França ao menos ainda me impressione. Principalmente depois da embaixada do Brasil ter a água, o telefone e a eletricidade cortadas, estar sob o cerco militar e ser alvo de gás tóxico, o Conselho continua calado. Clichés a parte, se acontecesse 1% disso em uma embaixada estado-unidense todo o exército do Tio Sam entraria no país bombardeando hospitais civis como eles vinham fazendo no Iraque.

Ao menos, o papel do governo brasileiro tem me deixado bastante orgulhosa nesse angu todo. Receber o presidente deposto e pedir apoio no Conselho são atos que, ao meu ver, mostram por aí uma certa autonomia do governo brasileiro frente aos seus novos colonizadores. E ainda, quem sabe, não mostre um resquiciozinho de esquerdice? Ainda que atrás de um discurso puramente democrático.

Ou talvez eu é quem esteja procurando pêlo em ovo.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Blogs

Será que todo mundo que escreve blogs lê também? E será que o meu é assim tão ruim quanto os que eu ando lendo?

Deve ser pior ;)

"Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim..." FP

Eita... Não dá nem para dizer que é uma questão pós-moderna...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Filosofia da Lingüística

Hoje começamos na UFPR a assistir um novo curso sobre filosofia e história da lingüística. Por mais que discutir essas coisas seja um pseudo-sinal de amadurecimento, eu morro de preguiça de picuinha teórica.

http://www.youtube.com/watch?v=sF3cBUqw_vs

domingo, 20 de setembro de 2009

E lá vamos nós!

Hey pessoal.

Tem algo mais deprimente do que ver fotos antigas escutando Portishead ou Philip Glas? ;)
Talvez fazer isso com uma música de merda. Talvez vendo fotos p&b.
Enfim... Durante a viagem eu tive muitas vezes (as melhores vezes) a impressão de que eu estava indo para algum lugar só para conhecer uma pessoa específica. Foi realmente genial encontrar pessoas espalhadas pelo mundo que poderiam ter sido meus amigos a vida inteira mas que nasceram longe. De repente... a gente se encontra e eles se tornaram amigos de infância. =)

Voltar para casa significa também voltar para os amigos antigos. Aqueles que muitas vezes eu não tinha nada em comum, mas eram as pessoas que estavam ao meu lado quando eu precisava e vice-versa.

Voltar para casa depois de um ano também significa rever esses amigos depois de um ano... e talvez se dar conta de como tudo continua igual e genial, e talvez se dar conta de que agora as diferenças estão ainda mais profundas.

Ninguém é tonto (ou ninguém pensa ser suficientemente tonto) para imaginar que sem a gente, uma entidade superior apertaria o stop na vida dos outros. Mas também não estou muito certa sobre as estarmos preparados para ver mudanças que ocorreram lentamente ao longo de 12 meses assim de sopetão. Ás vezes me parece um solavanco ou um soluço.

Claro que talvez de todos esses amigos quem mais tenha mudado tenha sido eu. E, felizmente, mudei o suficiente para olhar com calma cada uma das pessoas com que eu convivia e tentar perceber o que é que mudou ou não. E se não mudou nada, como é que as pessoas encararam isso. Pode ser muito deprimente passar um ano inteirinho fazendo a mesma coisa, pegando o mesmo ônibus e beijando a mesma boca. Ou não. Pode ser muito legal aproveitar os vizinhos bacanas que temos, saber o nome do porteiro e ir construindo, devagar e quase sempre, uma intimidade com determinada boca.

Eu agora ando descobrindo as pessoas que precisei viajar para encontrar em casa. Uma casa tumultuada, mas sem muitos móveis. Pequena, mas cheia de fotos. Que foi grande o suficiente para acolher o mundo, mas que precisa de tempo e espaço para recolocar os amigos em ordem.

sábado, 12 de setembro de 2009

Hey everyone,

talvez eu volte a ter tempo de escrever por aqui de novo, já que vontade sempre tive. =)
Acabei de voltar pro Brasil e chove. Chove e chove. E muita gente perde a casa, o rio invade a rua e a prefeitura de SP fala que "não, não foi o rio que invadiu a rua! Foi a chuva que não conseguiu ser escoada pelo rio. A limpeza do tietê começada há 12 anos [começo do governo do PSDB por aqui] é um sucesso". Sucesso na tv, o rio é sujo e fedido e as pessoas têm leptospirose.

A gente fica fora e esquece que tem enchente, que a família é barulhenta e reclamona, que as calçadas são quebradas e que os carros não param na faixa de pedestre.
Mas ainda tem coxinha! Carinho da vó e gato que vem dormir com a gente na calada da noite ronronando. Agora tem até sobrinha que fala!

Voltar é realmente muito estranho. De repente, vc está aí... toda diferente, tendo visto tanta coisa e querendo contar... e as pessoas só querem saber se está tudo bem. Está! Mas é óbvio! Não esteve sempre?

E estranha porque não tem reciclagem... Porque o último capítulo da novela (que diga-se de passagem é uma caracterização mal feita, unilateral e não raramente preconceituosa que a população acha que mostra os valores da cultura indiana!) é o mais importante na noite de sexta... Porque a sobrinha fala, mas não fala "obrigada". Estranha porque ninguém tem tempo. Porque há filas (enormes!) para tomar o ônibus. E este é caro! Estranha, mas estranha sozinha!

No final das contas, é muito engraçado. Não é que a gente volta para casa pra não estar mais só?

domingo, 7 de junho de 2009

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Eles não entendem. Eu não entendo.

Oi pessoal.

Vejo que perco leitores já que não ando assídua, mas voilà.
Muitas coisas e nada têm acontecido. E nesse meio tempo, eu penso. Óbvio. Estamos falando de mim.
Mas vamos lá... Então, muitas conjunções.

EU finalmente começo a pensar sobre o doutorado. Sobre o depois, quando voltar, etc. Tem muita gente voltando agora (tô tomando uma sopa que tem um certo gosto de ração de cachorro...) e hj eu comecei a definir com a minha patroa os meus dias de férias em função dos dias de férias das crianças.
Isso me fez ver que os meses passam rápido e que se eu for fazer tudo como o planejado inicialmente, eu não vou poder viajar muito. Vou quase voltar com dinheiro pro BR (que coisa inútil! ter dinheiro e não tem tempo para viajar!) e com uma cara emburrada.
Enfim... isso não é o tema aqui do post. Isso (eu não saber o que fazer do resto dos meus dias) me fez sair andando por aí pela cidade. E ela é linda, mas linda.... Linda. Linda é pouco.

E uma das coisas que eu estava pensando (e isso é uma digressão já) é que eu nunca liguei pra qualidade de vida. Essas coisas de ter uma vista bonita da janela, morar num quarteirão agradável... Eu sempre fui muito mais prática. Se a casa é grande, não é assaltável, não muito cara. Se a cidade tem um custo de vida que vale a pena, muitos lugares para sair. E agora eu ligo muito pra isso. Eu adoro sair do trabalho e caminhar uma parte do caminho, mesmo tendo metro. Eu gosto de não ter o que fazer para ficar na beira do rio. Não sei se isso é cultural, mas me parece que sim. Aqui todo mundo diz "eu gosto de morar no 4eme porque lá é bonito." "eu prefiro Marseille porque é mais agradável". É estranho, eu só reparei isso agora, que estou numa cidade linda cortada por 2 rios, com catedrais góticas, castelos, bosques, neve... Enfim...

Então, voltando para casa depois de andar por aí eu vi um desses carrinhos de sopa para pobres. Aqui tem sopa, mas eles também dão pão, frutas e polenguinho. Eu fiquei olhando e pensando que eu passei metade do meu caminho querendo ir fazer trabalho voluntário na África e isso é tão estúpido. Porque, afinal, as pessoas que precisam estão em toda a parte.

Porque a gente tem que chegar a ter 23 anos e fazer um zilhão de coisas para perceber um negócio tão estúpido e óbvio? Vc vai para Europa fazer mestrado e ver a maior quantidade de Klimt que vc conseguir e, de repente, percebe o óbvio.

Bom... daí ;) eu fui pegar o ônibus e tinha um menino super bonito no ponto cmg. Ele não estava suuuuper bem vestido, mas estava normal e não fedia. E ele estava comendo. E aqui todo mundo come no ponto de ônibus e eu acho isso genial. No BRasil, se vc está com fome, vc nao abre o pão pullman e come, vc espera chegar em casa. Aqui eles abrem e comem tão naturalmente que é lindo. Na Alemanha, então... tudo eles fazem na rua e é natural e ninguém olha. Ninguém olha nada, nunca. É verdade. Mas a indiferença tem suas vantagens. Lá eu podia me maquiar no ônibus sem que toda a população me olhasse.

VOltando no menino bonito comendo. Eu fiquei lá divagando sobre as diferenças culturais que nos fazem comer na rua ou não e vi que o ônibus ia demorar 1 hora pra vir e resolvi fazer um outro caminho. E no caminho eu vi muitas pessoas comendo a mesma coisa que o menino tava comendo (pão e polenguinho). Ninguém estava mal vestido, todos limpos e não fediam. E comiam normalmente. Então que eu percebi que o menino era uma pessoa que tinha ido no caminhão da sopa.

Sabe... daí tá todo mundo limpo e ganhando polenguinho. E depois de pegar a comida, eles pegam metro com todo mundo e sentam do seu lado e vc não tme nem idéia de quem pegou polenguinho no caminhão da sopa... Vc fica alí paradinha esperando o ônibus e nem imagina que o cara que vc está flertando do seu lado é o que no Brasil chamaríamos de mendigo. Gente que é mendigo no Brasil, é mendigo e nada mais. Eles não saem da fila da sopa e se misturam às pessoas normais. Eles não têm roupas boas e nem olham para cima.

De repente, eu percebi porque a pobreza pros europeus é mágica. Porque filmes como Gomorra e Cidade de Deus fazem esse sucesso. Eles não sabem que existe. Pobreza, gente suja, gente que não come.

Esses dias alguém me perguntou se eu gostava do nosso presidente e eu expliquei o que era o fome-zero. Ele ficou impressionado que ainda não existia ajudas governamentais para pessoas pobres. E mais ainda quando eu disse que essa ajuda mal dá para comer pão e camembert. E ainda mais quando eu disse que uma parte da população é contra a ajuda governamental.

Esses dias o menino que eu cuido me perguntou se no meu país tinha guerra e se as crianças aprendiam a atirar lá com armas de verdade. Como eu vou dizer que não tem guerra, mas que elas aprendem?

Eles não entendem. Eu não entendo.

Eu fico diariamente feliz quando tenho clicks e tenho total consciência que estou no maior período de formação da minha vida. Mas é tão difícil... às vezes, nem bebendo.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Salut!

Meu Zeus! Hoje percebi que não lembrava mais o endereço desse blog!
Antes de mais nada, feliz ano novo ;-) Sim, é clichê, mas todos precisamos dos clichês da vida.
Vou postar umas fotos da viagem da Alemanha e depois algum texto. Depois...
Vcs não têm medo quando alguém do meio acadêmico diz que fará algo em um próximo momento? A gente SABE que não vai vir ;-)





Fotos todas de Köln. Stefan (meu host) e Aureo (meu acompanhante hahahaha)