domingo, 11 de abril de 2010

trevisan, ctba e outros

Embora cheire a, esse post não tem grandes pretensões de crítica literária, a ideia é antes suscitar uma discussão ou organizar minhas próprias ideas.
Esse é um post um pouco de literatura, talvez de política e muito, muito pessoal. Tão pessoal que não deveria estar exposto num blog, mas a pós-modernidade me obriga.
Obrigada.

Lendo o Trevisan (e eu admito, li só o Em busca da curitiba perdida, nunca um livro de verdade, inteirinho, bom... vi várias peças, mas eram sempre a mesma), eu tenho a impressão de que algum fulaninho saindo do Clube Curitibano decidiu imitar o Bukowski em terras brasilienses.
Considerando as biografias dos caras, pouco provável, mas meu conhecimento também não vai assim tão longe e posso estar falando bobagem. Enfim, minha sensação é essa. Até nas falas das marias e joãos o registro daltoniano é sempre o mesmo, e se é mudado, pouca coisa.
Picuinha de linguista?? Pode ser.
Pode ser, mas é fraco, lânguido.
Bater no Emiliano Perneta lá na década de 80? Tá, vá lá que um dia isso tenha feito sentido, mas já há 20 anos me parece (parece!) fazer pouco sentindo e ainda menos hoje. O Perneta há muito tempo virou só rua e o boca-suja da cidade é que virou poeta, conto, teatro, retratação do curitibano.
Lendo os joãos que batem nas marias, as marinas vagabundas e as putinhas sujas me parece que o cara vive(u) em uma curitiba fantasma. Fantasma por dois motivos, essa parece ser uma curitiba inventada. Se fosse uma ingeborg apanhando, algum polaco, talvez. Mas nas décadas de 60-80, as classes pobres curitibanas eram ainda de colonos e não de estados ao norte do paraná. Parece uma releitura do mário de andrade transportada a curitiba somada à  uma ideia burguesa do que talvez se passe nas classes pobres. Outro motivo, se de fato se dá voz a um poeta que pormenoriza as putas, tem espaço para neguinho apanhar, bater, vemos tudo continuar na mesma. E aí é que entra a parte política do post. A elite intelectual curitibana indo ao guaíra ver a retratação da putinha e sair do teatro com medo de assalto e reclamando de dar um real pro guardador de carro.
Não sei. Digo também que é pessoal minha birra porque sou uma pulista que escolheu curitiba e se dizia dia e noite que curitiba era genial, que nunca acreditou que havia mesmo espancamentos em curitiba e que voltava à noite pela osório se sentindo protegida pelas putas e putos (tudo no passado porque nos últimos meses o bicho pegou em volta da rua xv algumas vezes, justo a rua 15!)
Daí vem a dúvida, estética social artística burra prepotente, quem é que de fato pode descrever as putas ou as marias se não elas mesmas? Chico Buarque? Algum antropólogo que ficou conversando com putas por 6 meses? Não sei. Definitivamente não o trevisan. Se o bukowski usa uma puta pra gozar na cara dela, o trevisan usa uma puta pra sentir pena dela e aí é que está o ponto.
De onde vc fala, para quem, e sobretudo, sobre o que. Um curitibano sobre curitiba, ok. Mas um curitibano que tem revelia à cidade falar do que acontece nela? Fazer uma maria impor vírgulas e rococós que nenhuma maria tem? Numa cidade que nem tem tanta maria assim? Uma puta banguela descrever que tem menos clientes no dia de chuva?
Sei não. Isso me cheira a amoradores de curitiba, a nova sensação do lado da reitoria que nada mais é do que a elite intelectual de curitiba falando dos moradores de rua. Sem mudar nada (seria esse o papel da arte? atingir a sociedade para que ela, de fato, mudasse? progredisse? transgredisse?), sem ir até o morador de rua?
Ontem voltando para casa umas quatro da tarde, vi um carrinho de lixo no vão da reitoria e pensei "ah, começaram a montar a peça mais cedo", mas não, ainda não era a peça, era um carrinho de lixo de verdade. Tinha lixo dentro e um cara pobre e fedido do lado dobrendo papel e esperando a chuva passar. Pensei que se a chuva não passasse em uma hora, a elite cultural de curitiba ia expulsar o carrinho de verdade para por no mesmo vão os carrinhos de mentira com sacos de lixos biodegradáveis comprados no mercadorama da rua 15.
Isso tudo me cheira a uma esquerdinha boba e moralistazinha, mas moralista pelo outro lado. o Mau é quem não gosta do morador de rua, quem se sente atingido (moralmente que seja) pela sua existência ou por suas consequências. Me parece um tanto fácil ter esse discurso sem pegar ônibus, pegar uma puta, pegar uma chuva daquelas voltando pra Rui Barbosa para pegar o ônibus ou a puta. Imagina-se que as putas não tenham dente, mas tenham discurso. Que a maria não tenha força, mas tenha vocabulário. Que curitiba tenha só o discurso.
Me cansa isso, muito, demais.
Só não me cansa mais do que a metaliteratura do trevisan. Essa sim é ruim demais e recheia curitiba, agora escorrendo da biblioteca pública e do paço da liberdade, com meia dúzia de neguinho que se param de falar mal de poesia parnasiana é para falar bem deles próprios.

3 comentários:

  1. Sinceramente? Só li Trevisan uma vez, obrigada, pro primeiro vestibular que prestei. Não gosto do jeito que ele escreve e nem do que escreve. Paranaense gostoso de ler? Miguel Sanches Neto.

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  2. Uhuhu Adorei a discussão. Adorei porque é exatamente o ponto de vista que eu tenho sobre o Dalton Trevisan - mas que nunca tinha tido a paciência de escrever igual que nem que você fez. Mas é isso, me parece uma coisa meio fake. Sempre gostei do Nelson Rodrigues, o que me faz pensar que não seja o problema da temática, não. É o jeito. Acho que a difença principal do Nelsão é que ele não se coloca como antagonista daquilo tudo mas nem como protagonista... Ele só coloca. O Dalton, não, ele parece ter aquela visãozinha meio "apresento a vida como ela foi me contada". Sei lá. Adoro ter essa ingenuidade pra falar de literatura. E sei que se alguém da literatura falasse coisas tão levianas quanto as minhas sobre linguística eu ia ficar puta. Não puta que nem a Marina dançarina da boate, é claro =)

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  3. Pois é. Bukowski x Trevisan.
    Quando leio trevisan parece que leio uma notícia de jornal com cheiro de literatura. Me convence menos como arte e mais como informação. Já o velho Buk foi um cara que viveu a coisa e inventou muito em cima. Não era um burguês excênctrico mas um vagabundo profissional e parece bem autorizado a falar o que falava. Convence como arte, mesmo escrevendo merda, mesmo escevendo várias vezes sobre tal situação, mesmo tendo perdido toda a poesia na tradução, mesmo sendo mentira metade do que ele disse que aconteceu com ele.
    Não vale comparar: bukowski está por aí; trevisan, bom... por curitiba.
    (O cemitério dos Elefantes parece ser um bom livro do T; algo experimental até onde li)

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