domingo, 29 de dezembro de 2013

Fuzzy

Fatigada. Mas ainda não está tão frio para que eu esteja livre ou feliz.
Estou num corredor, longo e balançante. Há luzes, mas não uma luz no fim do túnel. Luzes cambaleantes que fazem o corredor mais torto, mais fuzzy. Como a linguística, o léxico, a ciência e o amor.  A vida é mesmo muito

vaga

vague, vacant, empty, spare, hazy, fuzzy
penugenta
fuzzy
indistinta
indistinct, fuzzy, dim, hazy, inarticulate, misty
imprecisa
inaccurate, imprecise, vague, fuzzy, sketchy, indefinite
ondulada
wavy, corrugated, waved, rolling, undulated, fuzzy
frisada
frizzed, fuzzy, crimpy, frizzly
crespa
curly, crimped, fuzzy, crimpy, frizzly, craped
ligeiramente embriagada
fuzzy
flocosa
fuzzy
esfiapada

esfiapada é a vida; flocosa, sketchy. a vida é só um desenho. um esboço sem direito à correção.


a vida é mesmo tudo isto, curly. e eu tenho um tradutor sempre ligado e uma mania de metalinguagem que não se segura em mim. Uma mania que eu queria que não virasse vida, mas vida vira. E se não virasse, viraria o quê?


Ela finalmente me pergunta.

Não sei, não.

Eu amo a arte. ars, artis, multas gratias. (ond'estará meu dicionário?). ars, ora pro nobis, nisi nil pueri in paradiso. Eu não saberia por onde transbordar, ainda que ainda não saiba onde e nem como a porra toda vaza.


Não é nada fácil e eu faço esforços profundos para, ligeiramente embriagada, dar um jeito nesta wave imprecisa. Vaga. Crespa. Penugenta mesmo aos trinta.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Cantando

eu queria ser música, sabia?


musicista!


EU queria ser MÚSICA! Musa, única. Sair andando pela rua e, de repente, o vento. Lá-si-fó a Livy-Maria, lá e sol.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Uma visita aos coleguinhas



Uma caixa de bis é a medida exata da minha ansiedade. Que feio, não é? Pois é. Que feio o stress, a loucura, a ansiedade, o descontrole. Que feio descontar no chocolate. Que feio, menina!
Falo da caixa de bis solitária, a única e última. A caixa-buraco-da-fechadura. A caixa-solução. Uma caixa de bis. Inteira. Todinha. Vasta. Rápida. Quick. Vai-que-vai. Abriu um e comeu o último. Só.

Embaixo da minha caixa de bis gigante, olho de canto o mundo. Não tem nenhuma tabacaria, nenhum poeta. Só olhos grandes assustados condenando o chocolate do alto de seus salários, de suas certezas e de suas loucuras-nó-na-garganta. Loucuras tumores. Chocolate é vida. É carapaça de quem não tem nenhuma.

No meio do lixo da embalagem, submersa em todo ele, eu lembro de who me disse que era feio, tão, feio comer chocolate triste, comer chocolate sozinha. De who me ensinou que o descontrole é nojento. É gordo, é inútil. Seboso. É uma bola roliça de gordura branca que se arrasta na frente de tanta gente certinha e limpa que nunca (nunca!) comeu chocolate no vazio. Não há vazio neles.

Seria muito bonito da minha parte querer que estes whos todos se libertassem. Primeiro do peso da certeza, da rigidez da linha reta. Depois dos olhos duros. O olhar sem julgamento libera quem olha e mais ninguém. Mas não. Eu queria mesmo é que who parrasse de condenar, não importa o lugar lindo que existe, who nunca encontrará. Importa que seus filhos possam comer chocolates. Que eu possa. Que ela grite na rua bem na frente do mercadinho do Largo do Arouche e isto seja só um grito. Por que é só um grito, um grito que não virou tumor.


Que as bocas sujas não causem nojo. Só curiosidade.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Choramingando no lugar comum

O mundo contemporâneo é um negócio muito engraçado. Ele é ao contrário. Faz o que é fácil parecer difícil, e o difícil, fácil.
É tão difícil atravessar a cidade e tão fácil ir para outro continente.
Tão difícil ver os amigos e tão fácil ter centenas deles acompanhando sua vida. Trocar uma lâmpada muito alta e muito específica é tão complicado, mas ter a casa iluminada à noite e o banho quente é tão fácil.
 É tão fácil comprar tudo de qualquer lugar do mundo e tão difícil agradecer a velha chata da venda do lado.
É difícil encontrar tempo, mas o difícil mesmo é fazer algo dele. É difícil ver a lua, mas ver as estrelas é impossível. É difícil, muito difícil, andar descalço, rir do nada, ver uma paisagem bonita, relaxar, amar despreocupadamente. É tão difícil estar despreocupado, à toa, parado.
Estar correndo, com raiva, é muito mais fácil. Ter absolutamente qualquer coisa é muito fácil. É fácil se sentir único e muito esperto. É fácil comer uma comida de qualquer lugar do mundo. É tão fácil conquistar e tão mais fácil enjoar. É fácil lavar uma montanha de roupa, ligar e a comida chegar. É bem fácil mesmo.
 É fácil saber o que acontece na Cochinchina. Difícil é saber o que acontece na gente, com o conhaque tão fácil e a lua tão difícil.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Sobre o bolsa da família

Comentário de Álvaro Fujihara Kasuaki do Crônicas Cainitas.



Nunca encontrei ninguém que negasse os benefícios do programa. Segundo o que achei aqui, ele reduziu em 89% a pobreza extrema (dados do portal último segundo, de 18/03/2013), além de reduzir em 17% a mortalidade infantil (segundo estudo do Instituo de Saúde Coletiva da UFBA). Ninguém diria que essas são consequências indesejadas, então geralmente as pessoas contrárias ao bolsa família preferem dizer que o programa torna as pessoas preguiçosas e só serve pra criar um bando de vagabundos acomodados que não quer saber de trabalhar.

Eu sinceramente me surpreendo em ter que argumentar contra a afirmação de que uma pessoa que ganha um benefício de (no máximo) R$306,00 (valor para famílias com 5 filhos de até 15 anos e 2 de até 17 anos – 306 reais pra sustentar uma família de 8 pessoas) vai se acomodar e não querer mais nada com nada. É claro que se perguntarmos pra qualquer conhecido nosso ninguém faria isso. Então os que recebem o bolsa família devem ser outra classe de pessoas, talvez um grupo de alienígenas ou alguma sub-evolução da raça humana, que tem anseios absolutamente diferentes da “população normal”, que deseja de modo geral ascender economicamente e melhorar de vida. Mas, como isso tudo é especulação de um lado e de outro, vale mais uma vez trazer alguns dados.

Em primeiro lugar, 70% das pessoas adultas que recebem o benefício trabalham (revista fórum, 22/05/2013). 12% do total de pessoas atendidas pelo programa abandonaram voluntariamente o benefício, totalizando 1,69 milhões de pessoas, ao passo que 483 mil tiverem benefício suspenso por conta da fiscalização. Em segundo lugar, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social, os alunos que recebem o bolsa família tem uma evasão menor do que a média nacional (7,2% contra 10,8% da média nacional), além de terem também um índice de aprovação maior (79,7% dos beneficiários do programa contra 75,2% da média nacional). Pra quem gosta de dizer que o governo tem que dar educação, ensinar a pescar e não dar o peixe, acho que esses dados podem ser esclarecedores. Isso e, é claro, perceber que se o sujeito não tem como se manter, as chances de ele conseguir continuar na escola diminuem drasticamente. Eu acho particularmente difícil convencer alguém que vive com renda per capita de (no máximo) R$ 140,00 da importância da educação e de como ela pode, dentro de quem sabe uns 12 anos de educação básica, mudar sua vida.

Isso, é claro, sem considerar os efeitos colaterais positivos do programa, como o aumento da autonomia das mulheres. Segundo a antropóloga Walquiria D. Leão Rêgo, ao tornar as mulheres as titulares do benefício, o bolsa família ajuda mulheres que sofrem violência doméstica a mudarem de situação, na medida em que elas passam a ter a capacidade de se manterem mesmo sem o salário do marido. A antropóloga também afirma que o bolsa família mina as bases do coronelismo, já que diminui a dependência dos beneficiários do poder local (Folha de São Paulo, 11/06/2013).

Pra quem depois de tudo isso ainda acha que a vida é uma maravilha com o bolsa família e que todo mundo vai querer viver só do benefício, fica o convite pra tentar. O programa beneficia a todos que tenham a renda máxima requerida. Se vc não tem filhos, sempre dá pra arranjar alguns pra aumentar a sua participação nessa mamata.