terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Paisagens paulistanas

                                                             para F. M., meu professor.

Duas unhas roxas
plásticas
de travesti
Grudadas mais forte à sarjeta que à mão (eu idiotamente grudada à crase)
Um rato
Morto, magrelo,
penugem igual à lavagem bonita de gatinho novo.
Um pino de coca
Vazio, claro! Graças!
é natal!
Já é natal na Repúbica!

Uma árvore verdinha
Uma musguinho que eu nunca tinha colocado a mão
Uns fungos que parecem cogumelos
bem branquinhos
mas fofinhos não é cogu não!
E uma minhoca!
Uma minhoca?!
Não sei, não encostei,
talvez fosse mesmo só um restinho de raiz.
Talvez.
Mas que era MINHOCA era!
Era!

Um menino de cabelo vermelho
Uma pergunta: eu saio daqui?
A dúvida
Este trem que nos transporta
Para quê mesmo o trem mesmo?
Chic Chic Chic Chic Chic

Uma menina de cabelo vermelho,
Uma menina de cabelo azul,
Uma bandeira roxa
e desejos incolores
inalcansáveis
Desejos de direitos
Desejos de Liberdade
Muita, mas pouca, gente.
Como muita é pouca?
Ninguém sabe.
Eu não sei,
Eu só me pergunto
E sigo
Mais vazia do que antes.

Uma tuxie roxinho e de lacinho (sapato sério!)
Encontra uma star-wars-bitcoin
Sério que uma mina pensa isto mesmo?
Amor nos olhos
E anda
anda
anda
anda
anda um pouco mais
Falar dói um pouco,
Sempre.
Sempre dói para X.
(por que eu nem sei se falar pra caralho é ruim ou não)

O fim do mundo chega
pouca(?) gente descomemora o fim do mundo
Como?
Como?
Cadê a foice?
Pergunto às minhas mãos
Tão inúteis quanto cansadas.

Uma travesti nua
nua
incrivelmente nua
nuamente incrível
e
sozinha
a rua vazia
Ela se esconde atrás do poste
Como eu sou alguém de quem ela deve se esconder?
Como?
Como é que eu não vou ser?
(eu nem posso usar dreads pra não desempoderar quem precisa ser empoderado)
(cara, na fila do pão, eu sou zero, cala a minha boca, eu acho, eu não sei na verdade, eu queria mesmo é falar e usar dreads)

Anda,
Anda,
Anda...

Anda muito.
Mas tipo... bem pouco.
3km é bem pouco
Mas aqui não.

Um dominó schino-brasileiro
Sim,
um dominó
chino
brasileiro
(onde eu, idiotamente estruturalista vou enfiar o hífen?)
Remexem as peças.
Alguém perdeu.
Quem?
(eu, que me pergunto ch ou x)
(eu que estou sempre perdendo!)
(sina de gouche trouxa, mais trouxa que gouche, eu axo)

Tenho ódio de andar tanto atrás de respostas.
Eu queria só todas elas
Aqui
Agora
E não tem
nenhuma.
nenhuma é muito triste.
Beira à desesperança.
Mas NÃO!
(É só a política que grita, a poeta já tá toda riscada.)

Onde é que a gente vai parar?
Pergunta escrota que eu não quero fazer,
mas...

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Caixinhas

Eu tenho mania de passado. Uma péssima mania, dizem. Eu teria medo de afirmar categoricamente.
Eu tenho muitas e muitas caixinhas. Pastas. Gavetas. Latas. Organizadores. Malas. Sacolas. Estojos. Bolsas. Mochilas. Caixotes de feira que, pintados em cor viva, me dão a esperança de repintar a memória.

Eu tenho muitos armários e portas. Minhas portas favoritas são as que têm chave. Não há nada de importante ali. O que há de importante fica no armário cujas portas estão não apenas quebradas, mas estão rotuladas como quebradas e inúteis. Canetão vermelho e fita crepe. Fica bonito, finge-se que eu martelei as portas propositadamente e que as moças continuam aí não por minha falta de força, mas por escolha.

Eu tenho uma caixa de postais que nunca enviei. Eu tenho uma caixa de cachimbos do meu ex-marido que futuramente devolverei. Ele atualmente me chama de bonita e eu simplesmente odeio isto. Eu tenho uma caixa de remédios. Uma caixa de chás. Umas várias caixas de xerox. Eu tenho uma caixa de dados e uma de fichas de poker. Eu tenho uma caixa de rolhas de vinhos chiques, todas com data e uma barriguinha roxa. As rolhas não foram mais efcientes do que a minha própria memória. Talvez cada uma delas guarde um conto erótico ou romântico que eu não lembro mais. Mas todas as rolhas juntas encaixotam uma esperança tão velha quanto a própria História. Eu tenho algumas caixas de bolachas de cerveja. Talvez eu tenha mil delas. Eu tenho uma caixa de cigarros. Minha mãe trouxe cigarros chiques da Itália. Um amigo me trouxe um maço cubano. Há cigarros de palha para uma noite preguiçosa. Um esqueiro florido e russo. Um pacote de Bresnan que eu comprei errado querendo agradar alguém que eu quis que se torna-se importante. Há dois maços de marlboro vermelho que eu insisto em fumar em noites como esta. Talvez para não ter o que devolver ao dono. Talvez por que o cheiro já me lembre o cheiro dele. Talvez por que o marlboro vermelho me dá dor de estômago e eu acho que eu mereço.

Saio da caxinha de cigarros e abro a caixinha de remédios. Quase tudo que tem ali foi a minha vó que me deu. Pego um remédio para gastrite. Eu me obrigo a cuidar de mim. Não sairá nenhum gentleman de nenhuma das minhas caixinhas para pegar o remédio, jogar fora os cigarros e me fazer cafuné. Mas eu tenho uma caixinha com os presentes do meu primeiro namorado: um bibelô de guerreiro medieval, um violino, um cetim vermelho, um pé de meia que foi meu escudeiro na tomada de um castelo e uma carta de adeus. O guerreiro, antes, se criasse vida, seria meu namorado. Hoje talvez fosse meu filho.

Eu pego mais um marlboro. Dividida entre a caixinha de esmalte e a mala de roupas de inverno, opto pela pasta virtual. A minha pasta, verdadeiramente minha, por que me retrata. São as bobagens que já fui capaz de inspirar. Cartas de amor e de ódio, poemas góticos e adolescentes, crônicas dos que se acostumaram a mim, montagens de foto, uma tablatura que eu não sei ler, o retrato de um retrato. O que eu mais tenho são prosas poéticas eróticas. Eu realmente não entendo nada de pessoas. Não entendo, mas gosto. Muito.

Passa um carro tocando Living on the Edge. Por que ele passa? Ele estaciona e abaixa o volume. Eu não preciso escutar nota nenhuma para música ecoar na minha caixa-cabeça. Eu fecho os olhos. Tá escutando este barulhinho? É de morcego. Tem muito morcego por aqui.

Me pego organizando as fotos da minha caixa-cabeça. Tem tanta coisa aqui. Eu grito. Ecoa. O pé direito alto dá a sensação de que tem mais espaço do que tem. E se eu colocasse umas prateleiras? Você sabe que você nunca mais mexe no que está na prateleira. Se não vai mexer, por que não joga fora? Se você vai me dizer o que fazer, por que não fica quieto? Me passa a fita crepe?

Você sabe. Eu tenho essa mania de caixinhas. De classificar as coisas e encontrar uma caixinha que as acolha e encontrar um lugarzinho que faça sentido e uma etiqueta colorida, datada, subjetiva.
Eu nunca vou perder esta mania. Mas eu posso engavetá-la, se você pedir. Posso achar uma caixinha adequada para guardá-la. E um cantinho novo na prateleira das manias esquecidas. Ela talvez fique bem entre a intransigência e o yôga. E preciso de uma etiqueta com a roda da fortuna estampada. E talvez eu possa fechá-la à chave. Junto das taças amarelas da minha bisavó e dos gnomos que protegeram uma adolescente gótica nada suave.

Repasso os olhos nos armários. Nas prateleiras. Não há pó, teias de aranha, barata morta. Todas as caixinhas intactas esperando para serem abertas. Ou não. Curioso mesmo é ver tanto pacotinho de açúcar inteiro, aguardando décadas para adoçar um café. Achei um pacotinho da primeira vez que fui ao Rio. Achei um pacotinho da Patagônia. Curioso. Neste intante, há pézinhos que eu amo pisando o Rio e a Patagônia. Talvez este seja um super poder meu. Evitar que a memória apodreça, mesmo às custas do café amargo e da inércia da prateleira.

A conversa que não houve

Essa noite começou assim.
Uma vela, um cigarro.
Um esquerdo quebrado.
Mil tentativas, vela e fogo.
Falicamente, o esqueiro acende
o cigarro.
de primeira.
Decido:
escreverei tudo o que penso em um cigarro.
Ocorre-me, no entanto, que a noite é melhor prazo.
Afinal, eu penso tanto.
Empunho a tocha,
Aproximo a cera
Alumia-se!
Como tinha de ser.
O pavio vermelho dá-me esperança
Eu hei de acender a vela?
Vai, força, ascende!
Um pauzinho em chamas arde.
A base queima rapidamente.
Ele entorta e cai.
Eu penso em desistir
da noite, da poesia, do moço.
Mas fica feio.
Você desiste demais, they say.
Uma investida mais!
Nada!
Ok.
Eu tentei.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Tarot moderno


A coxinha, a calcinha e a minhoca

O ninho, a ferradura, o casal

O passarinho

A volta ao mundo

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Sobre diálogos

“Faça a sua contribuição conversacional tal como se requer, na situação em que tem lugar, através do propósito ou direção aceites no intercâmbio conversacional em que está engajado” – Herbert Paul Grice


“Os nossos diálogos, normalmente, não consistem numa sucessão de observações desconectadas, e não seria racional se assim fossem” – Herbert Paul Grice.

Máximas conversacionais:

1) Máxima da qualidade: o interlocutor deve tentar que a sua contribuição conversacional seja o mais verdadeira possível e, para tal, não deve fazer afirmações que acha serem falsas e também não deve afirmar aquilo de que não tem provas suficientes para confirmar a sua veracidade.


2) Máxima da relevância: o interlocutor deve tentar que a sua contribuição conversacional seja pertinente e relevante em relação ao objetivo da conversa.

Exemplo:


3) Máxima da quantidade: o interlocutor deve tentar que a sua contribuição conversacional seja tão informativa quanto necessária, isto é, que seja nem mais nem menos informativa do que aquilo que é fundamental para o que a conversa pede.


4) Máxima de modo: o interlocutor deve tentar que a sua contribuição conversacional seja clara, organizada e breve.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Recuperação de Informação na Vida Real 2016

A memória resvala no outro
só quando divide-se, ela é
A memória do agora depende
Do outro do um
Depende da pele do outro, o toque
O sentir da própria pele
O futuro do agora é a recuperação de dados
Na cabeça do outro viverá o agora
E se não viver, agora não haverá jamais existido
Afinal, o agora depende da memória que será
A memória depende 
O agora depende
do outro.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O non-sense é aqui

Julho/2016


Uma menina é estuprada por 30 homens
Um homem mata 50 gays
Um golpe de estado em curso

Na tv, um crocodilo come um bebê estado-unidense.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Heteronormatividade nossa de cada dia

3 hhb (homem, hétero, branco) no almoço:
- Vcs sabem a Carol?
- Não.
- Aquela da tatuagem...
- Ah tá.
- Hoje ela me mandou bom dia às 6h30 da manhã, mano.
- Porra, 6h30!
- Tá na sua!
- É, ela foi fazer uma cirurgia. Devia tá nervosa, acordado cedo... Mas porra, de madrugada não né! Não tá fazendo nada, "vou encher o saco do .... ".
- Ah, então tá para entender.
- É, ela é novinha não é?
- Tem 24, mas quem pegou a mensagem foi minha mulher. Eu dei uma volta para explicar esta mensagem...
- Caralho, mano. Mas a sua mulher tá com a razão.
- Eu não tiro a razão dela, mas eu disse o que eu digo sempre e hoje à noite ainda vai ter mais blá blá blá.
- O que vc falou?
- "Olha, vc ou confia em mim ou não confia. As duas coisas dependem de vc. Se vc não confia em mim, não tem nada que eu diga que vai mudar isso."
- E ela?
- Ela confia, né. A gente tá há 6 anos juntos, não é 6 dias.
- E a Carol?
- Eu disse para Carol "porra, Carol, manda mensagem às 6h30 da manhã pra homem casado? É claro que a minha mulher vai ver. Eu já te exclui do face por isso... Manda mensagem só na hora do trabalho, pô."
Eu vomitei e fui embora.

sábado, 2 de julho de 2016

coysas QUE a máquina Naum aprendhi

Tem coisas que a máquina não aprende
Tem koizaz q a makina n aprendi msm
Ou será que tem coisas que quem faz a máquina não aprende?

Nunca saberemos.

Y tá tudo bem.
Td bem msm.
(çerá?)

Senta a kbeça num colo que vc acredit
Larga as sintaxes furiosas na privada-privada
Deita as mágoas incolores n-1 taça sem sentido
Enfia os vetores incolores no
Dps língua bem a língua, a lingua e a lg

Tlz saía alguma koisa
Na máquina
Ou_em_quem_faz_a_máquina.

terça-feira, 28 de junho de 2016

a Ásia é longe


Longa. longa viagem
Você é um aventureiro, they say.

Put your feet on the road
and go
the road knows much better than you.

Life is the trip
today is the only road
come to your eyes and feet
today
is the worst day since yesterday
today 
is the road.

¿Qué horas son mi corazón?


segunda-feira, 20 de junho de 2016

a visita




eu, a sinházinha, vou de chapéu colorido e protetor.
subi-subindo
até chegar finalmente na senzala
aos poucos
sem querer
sem perceber
curiosidade que arrasta a gente
afasta os olhos das costas
indo, indo
puxando pela mão pro agreste
pro sertão
pro brasil sem joao gilberto
de repente, é ali.
natal,
os turistas perus 
esperam o abate
rosados nas piscinas naturais de cerveja
os turistas cristãos de braços abertos
para o abraço da cvc
o abraço da copa
o abraço natalino.
e é logo ali.
são paulo do potengi
minha senzala
minha mágoa
minha Luciana.
onde estará Ela?
com seus olhos brancos e tímidos
suas mãos magras
sua bunda empinada
e seu rosto fantasma.
fantasma e de batom vermelho.
onde estará você Luciana?
onde estará seu rosto?
nos meus pensamentos,
em são paulo casa grande
ou em são paulo senzala?
Mais um passo 
e estamos em currais novos.
currais.
novos.
você é nova Luciana.
Lu, você num tem nem 20 anos.
e não vai ter nunca.
fala Luciana, fala.
reaparece, Luciana.
uma peça vinda de cada lado,
um retrato vindo de cada sentido,
cadê a Lu?
dizia minha sobrinha.
cadê a Lu?
repetiu muitas vezes,
quando Luciana desistiu da humilhação
e voltou para farinha com feijão.
cadê você, Luciana, cadê?
fito o fiteiro
você Luciana, voccê já sabia de tudo isto?
Por que você não me disse, Lu?
perdida lá entre esmaltes, glitter e seu rádio,
Luciana não me disse nada.
Nem da casa grande
nem da senzala
nem do natal,
nem do curral.

domingo, 19 de junho de 2016

Sonhos de linguagem III

\/ o peso das palavras

as palavras pesam
ranqueiam-se entre si
escolhem lugares para aparecer
com quem? aonde?
as palavras sempre se perguntam
as palavras não gostam
não podem
de aparecer inesperadamente
inadyvertidamente
uma palavra só pode vir depois de uma certa palavra
e uma certa palavra só vem antes de uma palavra
e é assin.

ou talvez não seja.
ou talvez não.
ou talvez...
ou...

as palavras nos dão poderes
ações, hipóteses e unicórnios
aqui, bem aqui na sua cara
pronto, a palavra fez-se.

às vezes há palavras eradas
às vezes no errado lugar
às vezes vaguearão pelo tempo
NO ESPAÇO a PALAVRA FOI...
mas hoje nos espaços a palavra é ainda a mesma palavra
por que o espaço não existe mais
para a palavra, o espaço nunca existiu.
E agora nós somos como a palavra
supra-espaciais.

Mas as palavras,
estas sim, diferentes dos homens,
têm lugar para aparecer,
têm hora, é convidada.
Oi, palavra, você quer tomar um café?
Oi palavra, vamos num restaurante!
Palavra, agora você é médica. 
Palavra, agora você é indústria.
Palavra, agora você é mecanismo.
Poesia! Palavra! Poesia!

Ai palavra, palavrinha
como você pode ser tanta coisinha?
Como você pode ser tão distinta?
Como tanto ser em uma palavrinha?

Ninguém sabe.

E ninguém há de saber
por que isto não é nominável.

E who knows, vai saber se a gente quer saber.

Se o belo das palavras continua com os poetas
e os números e os hankings todos com os cientistas?
Ninguém sabe, nem os poetas cientistas nem os cientistas poetas.

Saberão os poetas?
Saberão os cientistas?
Nào.


As palavras devem ser o que elas quiserem
Elas devem desenhar o significado
Contar histórias
Buscar relações inêsistentes
As palavra fazem o que elas quiserem.

E, finalmente, é assin.
Como sempre foi e sempre será.
A vida de uma palavra só attach quem fala.
a vida de uma palavra palavreia quem fala
mas_não_só.
Palavreia o receptor
Palavreia a frase
Palavreia as relações
Palavreia o contexto
Palavreia o corpus
Palavreia a rede, a estrutura
Quem fala palavreia o mundo.

Logo, vamos palavrear
#contramesoclise #golpe #elithe
e explorar o poder das palavras
ignorar pesos e medidas
fórmulas limpas e certinhas
que levam ao certeirosucesso..
A palavra é poder, sim.
Mas a palavra muda. 
A palavra ainda é mais poderosa que humanxs
E muda histórias
Muda pessoas
Muda a própria palavra.

Eu tenho preguiça de usar a palavra certa.
A palavra certa não é a palavracerta.
A palavra certa é a medida. A esperada.
Isto não te dá preguiça?

O mundo espera a palavra certa.
A palavra certa, às vezes, pode ser a erada.
Mas ela ainda está certa em seu lugar.
A palavracerta sempre está errada em seu lugar
Ela é desregrada e faz caquinha por aí.
A palavracerta é bem eradynhx 
e os meninos certinhos se assustam com a palavracerta.
Todos se assustam com a palavracerta.
Esta é uma característica da palavracerta.
Ela é esperada e assustadora.

Vamos na palavra corrente capturada
vamos fugir
vamos nos permitir
vamos celebrar
vamos beber
vamos viver

Vamos na palavra dura não é assin
Vamos rígido no cotidiano
Vamos pedra no caminho
Vamos agora now or never
Vamos vai... já que tem que ir
Vamos construir o futuro da nação!
Vamos! vocês por mim e eu por todos
todosdocapistaléumtodosbemestranho
Vamos! Vem! Agora! seja você mesmo! Beba guaraná!
Vamos!
Vamos até... mas só que...

Só que eu não vô não.
Eu  q num sô nem vó, que dirá vô.
Eu fico quieta-imóvel,
construindo palavras
enquanto o futuro não chega.

Sedução



A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela. 



Adélia Prado 
(da série: queria ter escrito)

terça-feira, 14 de junho de 2016

transitum

atravesso o campo de petróleo
levo conchas nas mãos e brilho nos cabelos
atravesso o campo árido, tecnológico
com o mito escorrendo entre os dedos
cada gota de mito que encontra o solo
transforma-se
pegasus, minotauros, musas
surgem do campo inóspito e entubado
a cada passo pálido e tímido
dados pedibus-mundi.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Visita a Baudelaire

Ou: eu urubu

Você é um sanduíche de carne podre.
Eu como, mordo, mastigo,
enfio meus dentes,
minha saliva,
mastigo, mastigo, mastigo,
nhoc, nhoc, nhoc,
meus dentes desfiando a tua carne podre.
A tua carne me dá ânsia,
teu cheiro azedo, 
o queijo verde derretendo entre meus dentes.
Mas eu como
E não consigo parar.
Antropofagia da ânsia
do vômito
antropofagizando a sua podridão.
Eu não consigo parar.
Te mordo,
Te como,
Te cuspo
Para poder lamber tudo de novo.
Suas veias abertas e minha bílis.
Você é meu sanduíche de carne podre.
Eu como e vômito.
Há anos.
A ânsia me faz continuar,
continuar,
continuar te mastigando,
até o final.
Até seus ossos virarem pó entre meus dentes.
Até seu sangue escorrer
do canto da boca
para minhas entranhas
Você, vermelho e quentinho
E vital
E líquido
E podre
E verde
E eu, vomitando,
comendo,
ansiando
Os fiapos verdes nos meus dentes amarelos
Me cutucando
Me ferindo
Meus dentes vermelhos
Gengivas sangrando
Caninos pingando
Pulmão purulento
Ranho verde
E a minha boca continua a comer...
Ela é teimosa e desobediente,
come, come, come
E nunca está contente!
Dói, machuca, corta
Sua carne-navalha
Sua podridão química
Sanduíche finito de carne podre
Olho teu cheiro
Sinto tua cor
O queijo derretido
Que me fará vomitar
Eu lambo, eu quero
Eu imploro
Eu gemo
dor é prazer
ânsia, sobretudo.
Eu anseio
Eu devoro o queijo derretido
O vômito
A cagada
Eu devoro.
Eu cago.
Eu cago.
Eu cago! 
Você entendeu,
você sanduíche podre,
você carniça,
eu urubu.

domingo, 12 de junho de 2016

Memória

A memória se renova
na tinta
na pena
no peso.

A memória
instável
variável
sórdida
-mente 
contextual.

A memória é agora.

sábado, 11 de junho de 2016

Real (2016)

Se existisse um príncipe
Se existisse um príncipe hoje
Ele estaria no alto da torre
da torre de marfim
esperando a chuva chegar
de cabelos lisos e incansáveis,
o príncipe espera.
preso. inerte. silencioso.
Mas não há príncipes.
Não há príncipes hoje.
Hoje já não há príncipes, 
princesas, torres e chuvas.
Hoje só a espera incansável
nos espreita.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Volante e Álcool

via poesia
percorro
a máxima
periculosidade.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ofício

O que há de melhor que escrever palavras e alterar cabeças?

As cabeças
As máquinas
As engrenagens
obedecem às palavras.

As massas
As mágicas
As magias
dependem da PALAVRA.

Palavra, o átomo do ser.

domingo, 29 de maio de 2016

Rosas

Eu não creio nas rosas
pálidas, rubras, suculentas.
As rosas não existem
são meros símbolos materializados
cheirosas
brilhantes
comestíveis.

Eu não creio nas rosas
humildes mentirosas
no silêncio do quarto
na tumba vazia
na lapela do amante
Mentem.
Vagueiam.
Enebriam.

Não, eu não creio nas rosas.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

A "cultura" do estupro

Estou escrevendo este post por que uma menina de 16 anos foi estuprada por mais de 30 homens no Rio de Janeiro e humilhada publicamente em diversas redes sociais e por milhares de pessoas.

Existe agora uma campanha nas redes sociais contra a cultura do estupro. Mas o que é esta cultura do estupro? Como ela aparece na sociedade? Quem é "estuprador em potencial"?

Agora que a menina foi estuprada de uma forma tão brutal que nenhum ser humano consegue ficar alheio, agora que existe um registro disto para provar que ela não está inventado que foi estuprada nem ~exagerando~, é um bom momento para dar nome à "cultura do estupro". Isto se chama MISOGINIA.

Misoginia é o ódio, repulsa e inferiorização da mulher. Misoginia tem a ver com machismo, tem a ver com heteronormatividade, tem a ver com estupro, com mulheres queimadas. Tem a ver com mulheres serem taxadas de loucas e exageradas quando falam a palavra "misoginia".

Acontece que toda a nossa cultura é misógina. Toda ela. E por isto, todos nós somos em alguma medida um pouco misóginos. Todos odiamos um pouquinho as mulheres. Apenas pessoas (homens, mulheres, todxs) que passaram por um longo período de reflexão sobre o assunto conseguem não ser misóginos (se é que, de fato, isto é possível). Isto por que o "normal" é ser misógino. O normal na sociedade em que vivemos é odiar, humilhar e inferiorizar as mulheres.

Daí que estupradores em potencial somos todos. Homens que de fato podem forçar uma mulher a fazer sexo com eles e mulheres que estupram psicologicamente as outras, defendendo e reforçando comportamentos de ódio às mulheres.

Refazendo a fala: considerando estupro toda e qualquer violência, psicológica, verbal, simbólica, às mulheres, somos todos estupradores em potencial. Mas o estupro de verdade, aquele em que tem um pau entrando na boca, na vagina ou na bunda de uma mulher, à força, com ela chorando, gritando e ensanguentada, este estupro só é cometido por homens. Logo, apenas homens são estupradores em potencial neste sentido físico, que é o mais horrível e a materialização dos outros tipos de estupro.

Como muitos dos meus amados amigos estão ficando constrangidos em serem chamados de "estuprador em potencial", eu pensei em uma listinha de coisas que são parte da cultura do estupro. Se você diz, faz, pensa coisas desta listinha, é bom considerar que você ainda está no conjunto de homens que são estupradores em potencial:

- chama as mulheres de "raxa"
- assiste pornografia
- reproduz pornografia quando transa
- acha que tem mulher para casar e mulher para trepar
- deixa a louça da sua casa para alguma mulher lavar
- acha ruim uma personagem de jogo ou filme não ser sexy
- acha feio mulher que fuma e bebe
- acha que tem profissões de mulheres
- não gosta de trabalhar com mulheres
- acha que representatividade não importa
- não acha nada demais em não termos nenhuma ministra atualmente
- acha normal um estuprador ter sido recebido no Ministério da Educação
- já embebedou (ou considerou fazer) uma menina para ela te dar mais facilmente
- já mandou fotos que as mulheres te mandam para seus amigos
- ri das mulheres nos aplicativos com os seus amigos
- acha que mamilo tem que ser cor-de-rosa
- acha que mulher não pode ter pelo
- acha que mulher tem que ser cheirosinha
- não chupa mulher por que não gosta do gosto
- tem a maior pira do mundo em gozar na cara de desconhecidas
- acha que a sua filha tem que te dar netos
- tem ódio das ex do seu atual
- considera toda mulher perto da pessoa com quem vc se relaciona um perigo
- faz fofoca das outras mulheres do seu trabalho
- julga mulheres que transam
- julga mulheres que não transam
- compara suas funcionárias à sua própria esposa
- não dá voz às suas funcionárias
- não sabe o nome da namorada do seu amigo
- numa roda de amigos, não escuta o que as mulheres falam
- força uma mulher a transar sem camisinha
- força uma mulher a fazer qualquer coisa que ela não queira
- acha "sabonete vaginais" uma coisa normal
- diz que mulheres terem pelo "está na moda"
- acha menstruação nojento
- acha que a mulher tem que ser a única responsável pelo uso da pílula ou outros métodos para não engravidar
- vive em uma casa onde o principal papel dos homens nas tarefas é resolver problemas eletrônicos
- é contra amamentação em público
- sente inveja/ciúmes de quem tem uma buceta
- ridiculariza mulheres que lutam pela "mamilo livre"
- acha que mulher que aborta é puta
- acha que a igreja tem algo a dizer sobre úteros
- achou engraçado o adesivo da Dilma de pernas abertas
- acha que mulheres são nervosas e agressivas, enquanto homens são diretos e têm pulso
- acha que mulher tem que ser bonita
- gosta de constranger mulheres com olhares e sorrisos que não são bem vindos
- acha que uma boa transa é aquela em que o homem gozou duas vezes e a mulher nenhuma
- não fecha a perna em bancos públicos quando mulheres estão ao seu lado
- chama feminista de chata
- chama feminista de feminazi
- muda o conteúdo das suas conversas quando mulheres estão presentes
- acha normal propaganda de cerveja com gostosas e propaganda de limpeza com mulheres limpas
- chama as mulheres que você não gosta de "vadia", "puta", "biscate", etc
- não respeita suas chefes, professoras e líderes mulheres
- ridiculariza grupos de mulheres que tentam fazer algo pela sociedade
- assobia na rua
- pensa em assobiar na rua
- chama mulheres de "vesga" por que os peitos dela não são exatamente como vc viu na propaganda
- vê uma mulher na rua e só consegue ter pensamentos sexuais com ela
- fica assustado com mulheres que tomam a iniciativa
- não iria a uma fala sobre feminismo
- iria com seus amigos para ridicularizar a palestrante
-nunca reparou (ou não ligou) para o fato de em eventos científicos, tecnológicos ou de empreendedorismo haja uma maioria esmagadora de homens
- acha que é bom ter uma mulher no grupo por que ele fica mais "humano
- acha que ser gentil é coisa de mulher(zinha)
- ridiculariza pessoas que usam marcações transfeministas ("amigue", "alunx")
- acha nome social uma bobagem
- se chama no feminino quando está fazendo alguma coisa de "vadia" ou "mulher do lar" ("hoje eu estou perigosa!" "eu estou fofinha mesmo!"), mas não se indentifica com o gênero feminino em outros momentos
- ridiculariza gays/bis quanto eles têm vontade de ficar com mulheres
- chama a sua colega de trabalho de "gorda"
- quer comer a mulata globeleza, mas não namoraria mulheres negras
- fetichiza mulheres negras, gordas, grávidas
- acha que mulher dirige pior
- acha que uma mulher chegou em sua posição por que deu para alguém
- paga para seu filho estudar, mas não para sua filha
- se sente constrangido dando uma carona a uma mulher
- todas as suas conversas informais com mulheres acabam com vc a cantando
- torce para a sua ex ser estuprada, violentada ou infeliz


Esta lista não é definitiva. Ela pode ser aumentada. Eu até acho que ela é, infelizmente, infinita.
Mas aqui eu listo alguns comportamentos que pessoas que eu amo (ainda) têm.
E chamo estas pessoas a refletirem (vamos ler e teorizar, é gostoso!) e tentar iniciar relações não misóginas (prática, amigues! prática). Tentarem olhar para uma mulher como um outro ser humano, tão capaz e tão merecedor quanto você mesmo. Eu posso garantir que as suas relações serão mais felizes, tranquilas e satisfatórias assim. Para você mesmo, e não apenas para a mulher que está perto de você. 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Os grampos

Os grampos dela
agora em suas mãos.
A arquitetura da vida
merece o requinte final.
Destreza do grampo 
que escorre em seus dedos alisando o papel
enobrece também a vida
prendendo meus cabelos no alto da cabeça.
E você e eu e a vida.
Amanhã estes mesmos grampos estarão aí.
E serão dela e meus e seus e dos nossos filhos todos e dos nossos dedos todos e das nossas bocas tolas e dos cabelos, papéis e janelas e ventos.
Os grampos que prendiam os ventos
Os grampos estarão do lado do copo que estará do lado do gato que derrubará o copo.
E daí, então,
os grampos se tornarão
grampos
E não haverá senão uma poça em sua cadeira.
Nesta cadeira.
Bem aqui.
Amanhã.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Neve Paulista

Os faróis
acesos
inquietos

A chuva
cai
inquieta

Os pingos de chuva
maciamente caindo
à luz dos faróis

Despretensiosos
cristais de neve.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Sobre buracos e caldas

Finalmente eu pego o pudim com as duas mãos.
Pego o pudim numa bandeja.
Tem o mesmo peso de uma cabeça.
bege branco creme mel
doce frio macio pudim
Só um pudim tem as verdadeiras características de um pudim.
Finalmente eu pego o pudim.
Eu enfio o pudim na tua cara.
Ele se desfaz em blocos molinhos e pragas.
Pragas moles também.
Só o seu nariz não tem pudim.
Ele se safou por que seu pudim tem um buraco.
Um buraco que não é de dedo, nem de minhoca, nem cu.
É só um buraco de pudim.
Eu pego o pudim com as duas mãos e jogo na sua cara.
Pego o pudim da bandeja e jogo na parede.
Maisum Maisum Maisum
A parede escorre.
A parede fofa e molinha e doce e gelada com calda de açúcar.
De Açúcar!
Eu piso no pudim, mas eu estou de botas (sorte!).
Uma escada gigantesca de degraus de pudim.
Eu vou pulando um a um.
pudim pudim pudim pudim.
Os degraus molinhos se esfarelam e deixam de existir
pudim pudim pudim pudim
A escada cresce e os pudins vão ficando maiores e mais fofinhos
pudim pudim pudim pudim
Eu também vou crescendo correndo na escada açucarada
pudim pudim pudim pudim
Minhas pernas de borracha se estiiiiiicam para alcançar o degrau
pudim pudim pudim pudim
Eu corro na espiral infinita de pudins, moles, gelados e doces
pudim pudim pudim pudim
Eu suo calda de 
Pudim!
Eu subo pudim!
Eu caio pudim!
O gigante é pudim.
O pudim gigante é mudo. Ele não fala nada.
Eu escalei de botas o pudim gigante.
Eu enfiei minhas mãos nas paredes frias e açucaradas do pudim.
Eu tenho pudim nos cabelos, no nariz, no meio dos peitos.
Meu pijama branco pinga a pudim.
O cheiro de tudo agora é pudim.
O horizonte é uma grande linha caramelo sem fim.
O chão é aerado e o ar é gás hélio.
Se tivesse pessoas aqui, elas falariam fino e dariam risadas.
Mas só há o universo.
E ele é doce.
Uma constelação de bandejas brilha.
Pudim Podendo.
O pudim superior e infinito.
Então eu pulo.
Eu pulo no buraco negro do pudim.
No centro e infinito, onde não há nada.
Nem paredes moles, nem pijamas brancos, nem calda de caramelo.
Aqui não há cabelos melados, nem mãos sujas.
Eu pulo e caio no escuro.
Aqui não tem cheiro, não tem textura e não tem ar.
Na verdade, eu não grito por que o som não se propaga.
Eu caio no vazio e no silêncio do buraco negro do pudim e apareço bem na pontinha do seu nariz.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Espaço


Falta espaço
Falta vermelho
E uma serpente



domingo, 10 de abril de 2016

Ciaos

já posso falar?
já posso sentir?

< respira \ >

o céu azul é o mesmo céu, anywhere.
4:20 flying time
for everyone.

Meus cabelos mais verdes
Dos seus olhos mais amarelos.

Ou talvez não seja nada disto.
Talvez você nem nade no lago
Talvez você nem peça quattro fromaggi.
Talvez você não vá no show.
Talvez, só talvez, você não fale.
Não sinta.

Não sinta a pressurização.
A vida é um avião  
A pressão lá fora
E aqui
E aí
E lá
E onde
E quando
Sem por quê.

já posso falar?
já posso sentir?

< respira \ >

Já posso sentir
sua cabeça entrando embaixo da minha saia
meus cheiro e sabor, 
tua, a fome.

A fragilidade tão bruta quanto falsa.
O encaixe forjado e o alforje encaixado
Você parte a galope.
Eu parto o pudim.
Esfrego o pudim embaixo da saia
Meto o pudim onde sua língua...
O pudim de leite
Forminha de isopor
Com a colherinha plástica, o pudim preenche
Sacia uma fome que não era minha
mas agora é.
Uma fome que só os dedinhos do Joãozinho entendem.
Uma fome plena e verdadeira.
Uma fome dentada.
Uma fome de bruxa.

Eu grito, gemo, rio.
Você goza.

Ela gospe, ela gosta
mais de você do que dos seus filhos.
Aberta, ela murmura
quantos 'quente' há?
e rie-se toda quando você a esquenta,

Derreto-me literalmente.
Derrete-me linguisticamente
Que eu computo suas línguas e traços 
inteligentemente artificial.

Intensa, você me disse.
Pulchra, você me disse.
Buon giorno, você me disse.

Posso tirar a roupa?

Vai, me diz uma coisa bonita.
E engraçada, destas coisas que você diz.

Posso tirar a roupa?

A roupa, os óculos, as calças e alicates dentados
Pode tirar as maneiras, as obrigações e os sapatos.
Tira a roupa e derrete
O último calor dos trópicos.
Dos 'quente', você hoje perde um.
E eu, ganho.

Significados.