domingo, 21 de fevereiro de 2010

Avatar, clichês, tecnologia, capistalismo e linguística

Então né... fui ver o avatar no telão imenso do imax com óclinhos 3d.
Para o choque de alguns, eu não me senti rendida ao capitalismo ao fazer isso. Tá... quase dei para trás quando me entregarem aqueles óclinhos de plástico molengo porque, aí sim, vi chineses explorados pela mão de obra capitalista, mas enfin... fui ver porque tecnologia também é algo que me interessa, embora eu não goste de ficar acessando a net a partir de celulares no meio do congestionamento.
O negócio foi realmente incrível. As pessoas saíam da telinha, a fumacinha vinha na minha cara, os espíritos (que mais pareciam anêmonas) pareciam estar flutando na sala. Eu já tinha ido em cinemas 3d e naqueles que a cadeira mexe enquanto estamos de capacete, mas esse aí é imbatível. Agora eu quero ver qualquer porcaria nele.
Qualquer porcaria mesmo, porque se eu vi avatar, eu resisto a tudo. TUDO.
O filme é uma junção de todos os clichês do cinema-aventura americano. Monstros, bonzinhos, mocinhas, amor, tudo. Até aí, tudo bem, né. Uma hora isso se passa na segunda guerra, outra em NY atacada pelos marcianos, agora foi em um planeta distante com seres azulados. Mas, juro, esse filme passou dos limites. (Ou eu passei dos limites ficando um tempinho sem ver esse tipo de filme, desacostumei! Deveria eu voltar para o trono do último post?)
A mocinha é uma azul, ela fala a língua dos azuis, mas também inglês, porque (a-há!) ela teve aulas numa escola com uma cientista. Os cientistas estavam lá há 3 anos e nesses 3 anos conseguiram se aproximar da comunidade falando a língua deles e ensinar pros nativos inglês. O sil daria uma medalha de honra pra esses caras. Tá... daí o inglês da moça é capenga quando ela fala frases pequenas e de efeito, mas quando ela discursa sobre seu planeta, a vida, etc., o inglês é muito bom, praticamente sem sotaque.
Daí, o mocinho vai lá no planetinha em forminha azulzinha para fuder os aligienazinhos. Tudo bem. Um mocinho de cadeira de rodas, como a mocinha da novela da globo (estou dizendo que essa minha mania de ver conexões em tudo me faz mal). Ele tem 3 meses para fuder o planetinha e ganhar umas perninhas (que se mexam, porque ele tem as dele, mas elas são... inertes =)). O que ele faz nesses 90 dias? Vira um super guerreiro, aprende a língua, cavalga numa serpente voadora e ainda se apaixona pela mocinha e trepa com ela. 3 meses! Eu mal escrevo um artiguinho na minha linguazinha em 3 meses. (no comment a respeito sobre transar e se apaixonar, teríamos que usar outra unidade de medida)
Ah isso merece um comentário... os azuis têm forma humanóide, trejeitos humanóides, língua, sociedade, conceito de justiça, de prole, de hierarquia! Eles abraçam, beijam e trepam. Tudo igual aos humanos. Nessas horas a gente dá um ype ype uhu ao Matt Groening. Puxa vida.... Puxa vida!!!!!!!! Não conseguem imaginar ets diferentes de humanos.... Ou seria muito feioso pro grande público ver uma cena de amor com um ameba gosmenta comendo e cagando um minhoca espinhuda... Tudo é muito batido, previsível.
Olhem aí a mocinha.



Ela é filha do grande rei! Já tem um cara com quem vai casar e sabe atirar muito bem, no fim ela prefere ficar com o cara que veio da "civilização" e se encantou por seu mundo "exótico". Tal qual:


Tchanã!!!!!!

Olha... até a cara delas é parecida. A boquinha "vem cuidar de mim" e a postura "sou uma mulher independente, conectada com a natureza, mas tenho peitinhos". Ah não!

E os monstros? Todos saídos do magic, como lembrou um amigo meu.
Agora uma coisa que me faz voltar a um dos meus assuntos das férias: a Bolívia.
De acordo com o livro que eu ainda não terminei de ler e uma meia dúzia de blogs, o conceito de natureza, sociedade, comunidade, etc dos azuis é exatamente igual (ou muito próximo, para não enfurecer os  sociólogos e afins) ao dos povos originários na Bolívia (quechua e aymara). Olha... todo esse papo de conexão com a natureza, de que somos um só, retribuição do que se obteve, respeito aos antepassados, responsabilidade comunitária e não individual, tudo é igual. (OK, menos o sistema de hierarquia, mas isso é outra história.) 
Mas imaginem que feiosa a imagem de um indígena boliviano sendo morto por um tanque americano. Quase tão ruim quanto a ameba cagona.


Quando são dragões e navinhas fica mais bonito:


Eu fico cada vez mais impressionada com essa falta de incoerência.O filme com a maior bilheteria da história é uma metáfora do que os próprios americanos fazem por aí. Ou melhor, por aqui!

O que é também impressionante é como nem os bonzinhos humanos que viram azuis conseguem  se desvencilhar dessa ideologia americana de superioridade. O guerreiro bonzinho azul-humano aprende a língua em 90 dias, mas quando tem que falar com o povo, fala em inglês. Ele fala na língua local quando está fazendo os testes para ser aceito como membro da sociedade, depois acaba. Retoma os trejeitos rapper dele, transa em inglês, pede ajuda em inglês, manda em inglês. Uma coisa curiosa de linguista... os nomes dos personagens (Neytiri, por exemplo, nome da mocinha azul), ele fala com os fonemas do inglês mesmo quando falando na língua nativa. Isto é (imaginem), enquanto todos em língua nativa falam Neytiri com o R que falamos em português [carinho], esse idiota fala com o R de [sorry]. Até o nome do ser azul da vida dele é horrivelmente americanizado.

Bom, é isso. Fim. O filme termina como todos os outros. Não sei se para ver esse tipo de imbecilidade o meu problema é ser linguista ou de esquerda.

4 comentários:

  1. Nossa, que explosão! rsrs

    Fiquei com vontade de ver em 3D - eu tive q vê-lo normalmente. Tive mesmo, trabalhando.

    No mais, concordo com você.

    Bjks.

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  2. Respondo sua dúvida final: o problema é vc ser linguista e de esquerda.
    Agora, acho ótimo, porque não vou ver o filme definitivamente. A vantagem de ter você é que eu economizo algumas coisas da minha vida =)
    Eu vou ver a Alice no País das Maravilhas em 3d. Já to economizando dinheiro =)

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  3. A Marina disse tudo. Sobre o "problema" de ser linguista e de esquerda. E tb sobre ver Alice no Pais das Maravilhas em 3D. :)

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  4. vamos ver todos juntos então =D
    *saudosa*

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