segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Questões já batidas

Oi Blog,

Mais uma vez eu venho aqui postar minhas experiências pessoais achando que no final do post vou ter entendido um pouco mais do que ando passando.

Há alguns dias, postei algo sobre a minha relação com meus amigos, como estávamos diferentes e como algumas amizades não faziam mais sentido. Esses dias, dois eventos me fizeram repensar essas minhas relações e, consequentemente, minha relação comigo mesma e, agora, com meus preceitos.

Esse fim de semana fui para SP e um dia fui sair com um grande amigo com quem tenho muito em comum. A gente ri, fala das academias, fala tudo muito abertamente, ele (apesar de heterossexual!) tem saco para escutar o que eu penso dos homens, blá blá blá. Ele é bem legal. Mas daí aconteceu de ele inventar de querer ir no shopping e eu fui junto... Fazia uns meses que eu não ia em shopping e, talvez, quase 2 anos que eu não ia em shopping no BR. Juro, por Júpiter que é mais sacro, que eu não lembrava que uma camiseta podia custar meio salário mínimo. Quer dizer, 26% dos brasileiros (segunda uma tabela de 1997 do dieese que eu acabo de olhar) vivem com até um sálario mínimo. Isto é, brasileiros empregados com mais de 10 anos. 1/4 da população economicamente ativa do Brasil poderia comprar duas camisetas por mês e fim. E eu ali, perfumadinha no shopping. Patético.

Tão patético quanto eu ir ao shopping, é eu me sentir mal por isso e depois abrir dados do dieese para entender quão horrível eu sou. E mais, quão horríveis são as pessoas que sim, compram essas camisetas, como por exemplo esse meu super amigo. Daí, eu estou lá, já me sentindo mal por lembrar que essa diferença social existe, ainda mais mal por estar de certa forma colaborando com aquilo indo lá e olhando vitrines (ainda que seja para me espantar) e escuto esse piá comentando que não, da TNG ele não compra mais depois de mudou sei-lá-o-que (seria o estilista?) ou que as roupas da Yatchsman (acabei de procurar esse nome no google!) não duram, então também ele não compra mais.

Isso me impressiona, sabe. Eu, às vezes, acho que eu deveria ser mais parecida com os meus amigos. Eu não vou ao mac, ele quis ir em uma sanduicheria (sanduicheria!!!!!!!! lanchonete, lugar onde vende X, qualquer coisa... menos fast burgers... please!) com o maravilhoso nome de America. America, sabe? Como o Capitão.

Sério... aquilo me deprimiu. Porque as pessoas reciclam seu lixo se depois vão num lugar com o nome que o país que menos aceitou as propostas ambientais do Encontro de Copenhagen escolheu para si? Bom, todos nós, brasileiros, e por isso, americanos, sabemos que América NÃO é os estados unidos.

Nessa noite, eu fiquei muito triste. Porque as pessoas são incoerentes, porque eu sou incoerente. Eu sempre disse que não queria ser uma moralistinha que não sabe aproveitar as coisas, agora eu vou num lugar supercaro que deve ter algo de bom e não acho nada bom... acho tudo americanizado, fake, yanke. Acho tudo de plástico. Logo, eu. Que estou na minha fase bamboo-terra-pau-brasil.

Minha mãe me disse que eu me senti mal porque eu acho aquilo tudo errado e não queria colaborar. Eu nunca fui numa tourada, por isso. Nem no zôo não ando mais indo. Nem circo, nem briga de galo (veja que ecológica! não vou em briga de galo!). Agora também não quero mais ir no shopping. E fico me questionando se eu ainda acho esse meu amigo tão legal. Ele é genial, mas acha bonito que alguns esportes radicais sejam elitizados. Sabe né, motivo de segurança. (Alguém já viu pobre andar na linha? só se for na linha do trem que tem aqui perto de casa... mas com sorte mata-se todos que é para o governo ter menos gasto com programa assistencialista)

Há três semanas, eu fui jantar com um outro grande amigo (esse de muuuuitos anos). Eu pedi uma salada, sem carne. E ouvi por 10 minutos uma enxorrada de valores imbecis sobre porque eu deveria sim comer carne. (p.s.: eu não sou vegetariana! eu só não como carne em todas as refeições da minha vida) Ouvi a pérola de que se evoluímos do macaco é porque comemos carne.

E, então, esse meu amigo (que é sensível, engraçado, inteligentíssimo e muito crítico) resolve me perguntar quais são os meus motivos, depois de defender bastante arduamente os deles. Blá blá blá... contra a indústria da carne, a supremacia do ser humano, a favor da sustentabilidade, de matar o menos possível... Não, eu sou utópica e poliana. Mas alguém já me disse que eu fico uma gracinha pensando assim? Pois é, não me disseram. (esses dias me disseram que uma mulher que carrega sua própria mochila é sexy porque isso significa que ele não vai precisar carregar a dela. Achei patético.)

E continuamos lá, nosso super papo. Dois carnívoros discutindo porque não comer carne. Algo tão idiota. Quando meu segundo super amigo me diz que poxa... caçar é tão legal. Atirar émuito bom, Pum, Matou. E veja, foi só um bixo. Aliás, já conversamos sobre o plebiscito que tentou barrar a venda de armas à população? Ufa! Ainda bem que o povo brasileiro, ainda que chucro, soube defender seus interesses armamentícios e votou pelo porte de armas.

Desisti. Terminei minha esfiha de coalhada seca, peguei o ônibus (meio de transporte não só coletivo, como ecológico). Ele já tinha terminado o kebab, pegou um táxi. A pé, eram só 25 minutos.


Do meu amigo número um não desisti. Fui tomar uma cerveja num boteco pra ver se passava meu desgosto, passou, em partes. Mas eu me incomodo muito que pessoas que não comem carne pelas razões que eu coloco acima não liguem de colaborar com a indústria estado-unidense (que medo de mim... já não falo mais americana!). Ligo que elas não liguem, ligo que eu ligo e saio muito incomodada tanto pela postura das pessoas quanto pela minha.

Eu tenho consciência da falsidade desse meu discursinho moralista-marxista que é pós-eurotrip. É tudo um grande paraxodo (ainda que não pós-moderno porque eu ainda estou pré-guerra fria) que eu ainda não aprendi a lidar.

Eu odeio incoerência e odeio chamar incoerência de paradoxo achando que isso faz as coisas ficarem cults.

Estou terminando esse post depois de 5 horas ferradas de faxina na minha casa. (Queria ver algum derridiano dizer que o mundo não existe depois de lavar privada e tapete com escovinha.) E estou indo direto pro spinning. Literalmente, a pequena-burguesia fede.

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