domingo, 8 de novembro de 2009

Ar

"Por favor, só páre de respirar." pensou a moça enquanto ouvia respirações ruidosas entre palavras que não entendia completamente.
Escutava a respiração, tremia tentando preparar sua mente para as palavras.
Faça tudo, mas páre de respirar. Afinal, estava lá para escutá-lo, as palavras, não o ar.
Cada vez que ouvia o ar entrando imaginava porque o moço precisaria de tanto ar. Era para completar o peito...enorme e definido? Ou o coração vazio e doente? Não, não! Era para segurar um pouco mais o gozo... Aquela respiração demorada, cansada. Uma respiração que escorre de suor.
Tá quente agora. É isso, só. Tá calor e ele não está acostumado. Veio de tão longe e lá é frio. Por isso que ele sua assim.
Cada vez que o ar entrava, o peito ficava maior e ele inclinava a cabeça para trás. Poderia perder-se nesse peito. Não era pequena, mas o senso de direção era muito feminino.
Cada vez que o ar saia, ela olhava os olhos deles. Será que agora ele goza? Quando o ar acabava, as palavras também. Daí, ele respirava de novo. E o peito voltava, as palavras voltavam. Voltava o fôlego e seu corpo mexia ainda mais. Tinha medo que ele tivesse uma convulsão. Já tinha visto na tv e era assim, essas mexidas, essa respiração. Suor e baba.
Pois isso de todos terem que respirar o tempo todo é o que atrapalha. Respiração não é tão peculiar que não se reconheça. Respiração pós-gozo é uma, pré é outra. Respiração cansada e suada que não pára dá uma desesperozinho. Ainda mais quando esse idiota fecha os olhos e não se sabe se agora foi a última vez.
"Por favor, só páre de respirar."
Ruidosa, a respiração continuou, entrando e saindo.

2 comentários: