terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Paisagens paulistanas

                                                             para F. M., meu professor.

Duas unhas roxas
plásticas
de travesti
Grudadas mais forte à sarjeta que à mão (eu idiotamente grudada à crase)
Um rato
Morto, magrelo,
penugem igual à lavagem bonita de gatinho novo.
Um pino de coca
Vazio, claro! Graças!
é natal!
Já é natal na Repúbica!

Uma árvore verdinha
Uma musguinho que eu nunca tinha colocado a mão
Uns fungos que parecem cogumelos
bem branquinhos
mas fofinhos não é cogu não!
E uma minhoca!
Uma minhoca?!
Não sei, não encostei,
talvez fosse mesmo só um restinho de raiz.
Talvez.
Mas que era MINHOCA era!
Era!

Um menino de cabelo vermelho
Uma pergunta: eu saio daqui?
A dúvida
Este trem que nos transporta
Para quê mesmo o trem mesmo?
Chic Chic Chic Chic Chic

Uma menina de cabelo vermelho,
Uma menina de cabelo azul,
Uma bandeira roxa
e desejos incolores
inalcansáveis
Desejos de direitos
Desejos de Liberdade
Muita, mas pouca, gente.
Como muita é pouca?
Ninguém sabe.
Eu não sei,
Eu só me pergunto
E sigo
Mais vazia do que antes.

Uma tuxie roxinho e de lacinho (sapato sério!)
Encontra uma star-wars-bitcoin
Sério que uma mina pensa isto mesmo?
Amor nos olhos
E anda
anda
anda
anda
anda um pouco mais
Falar dói um pouco,
Sempre.
Sempre dói para X.
(por que eu nem sei se falar pra caralho é ruim ou não)

O fim do mundo chega
pouca(?) gente descomemora o fim do mundo
Como?
Como?
Cadê a foice?
Pergunto às minhas mãos
Tão inúteis quanto cansadas.

Uma travesti nua
nua
incrivelmente nua
nuamente incrível
e
sozinha
a rua vazia
Ela se esconde atrás do poste
Como eu sou alguém de quem ela deve se esconder?
Como?
Como é que eu não vou ser?
(eu nem posso usar dreads pra não desempoderar quem precisa ser empoderado)
(cara, na fila do pão, eu sou zero, cala a minha boca, eu acho, eu não sei na verdade, eu queria mesmo é falar e usar dreads)

Anda,
Anda,
Anda...

Anda muito.
Mas tipo... bem pouco.
3km é bem pouco
Mas aqui não.

Um dominó schino-brasileiro
Sim,
um dominó
chino
brasileiro
(onde eu, idiotamente estruturalista vou enfiar o hífen?)
Remexem as peças.
Alguém perdeu.
Quem?
(eu, que me pergunto ch ou x)
(eu que estou sempre perdendo!)
(sina de gouche trouxa, mais trouxa que gouche, eu axo)

Tenho ódio de andar tanto atrás de respostas.
Eu queria só todas elas
Aqui
Agora
E não tem
nenhuma.
nenhuma é muito triste.
Beira à desesperança.
Mas NÃO!
(É só a política que grita, a poeta já tá toda riscada.)

Onde é que a gente vai parar?
Pergunta escrota que eu não quero fazer,
mas...

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