segunda-feira, 13 de junho de 2016

Visita a Baudelaire

Ou: eu urubu

Você é um sanduíche de carne podre.
Eu como, mordo, mastigo,
enfio meus dentes,
minha saliva,
mastigo, mastigo, mastigo,
nhoc, nhoc, nhoc,
meus dentes desfiando a tua carne podre.
A tua carne me dá ânsia,
teu cheiro azedo, 
o queijo verde derretendo entre meus dentes.
Mas eu como
E não consigo parar.
Antropofagia da ânsia
do vômito
antropofagizando a sua podridão.
Eu não consigo parar.
Te mordo,
Te como,
Te cuspo
Para poder lamber tudo de novo.
Suas veias abertas e minha bílis.
Você é meu sanduíche de carne podre.
Eu como e vômito.
Há anos.
A ânsia me faz continuar,
continuar,
continuar te mastigando,
até o final.
Até seus ossos virarem pó entre meus dentes.
Até seu sangue escorrer
do canto da boca
para minhas entranhas
Você, vermelho e quentinho
E vital
E líquido
E podre
E verde
E eu, vomitando,
comendo,
ansiando
Os fiapos verdes nos meus dentes amarelos
Me cutucando
Me ferindo
Meus dentes vermelhos
Gengivas sangrando
Caninos pingando
Pulmão purulento
Ranho verde
E a minha boca continua a comer...
Ela é teimosa e desobediente,
come, come, come
E nunca está contente!
Dói, machuca, corta
Sua carne-navalha
Sua podridão química
Sanduíche finito de carne podre
Olho teu cheiro
Sinto tua cor
O queijo derretido
Que me fará vomitar
Eu lambo, eu quero
Eu imploro
Eu gemo
dor é prazer
ânsia, sobretudo.
Eu anseio
Eu devoro o queijo derretido
O vômito
A cagada
Eu devoro.
Eu cago.
Eu cago.
Eu cago! 
Você entendeu,
você sanduíche podre,
você carniça,
eu urubu.

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