segunda-feira, 20 de junho de 2016

a visita




eu, a sinházinha, vou de chapéu colorido e protetor.
subi-subindo
até chegar finalmente na senzala
aos poucos
sem querer
sem perceber
curiosidade que arrasta a gente
afasta os olhos das costas
indo, indo
puxando pela mão pro agreste
pro sertão
pro brasil sem joao gilberto
de repente, é ali.
natal,
os turistas perus 
esperam o abate
rosados nas piscinas naturais de cerveja
os turistas cristãos de braços abertos
para o abraço da cvc
o abraço da copa
o abraço natalino.
e é logo ali.
são paulo do potengi
minha senzala
minha mágoa
minha Luciana.
onde estará Ela?
com seus olhos brancos e tímidos
suas mãos magras
sua bunda empinada
e seu rosto fantasma.
fantasma e de batom vermelho.
onde estará você Luciana?
onde estará seu rosto?
nos meus pensamentos,
em são paulo casa grande
ou em são paulo senzala?
Mais um passo 
e estamos em currais novos.
currais.
novos.
você é nova Luciana.
Lu, você num tem nem 20 anos.
e não vai ter nunca.
fala Luciana, fala.
reaparece, Luciana.
uma peça vinda de cada lado,
um retrato vindo de cada sentido,
cadê a Lu?
dizia minha sobrinha.
cadê a Lu?
repetiu muitas vezes,
quando Luciana desistiu da humilhação
e voltou para farinha com feijão.
cadê você, Luciana, cadê?
fito o fiteiro
você Luciana, voccê já sabia de tudo isto?
Por que você não me disse, Lu?
perdida lá entre esmaltes, glitter e seu rádio,
Luciana não me disse nada.
Nem da casa grande
nem da senzala
nem do natal,
nem do curral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário