terça-feira, 22 de novembro de 2011

Desabafo Vapt-vupt

Ultimamente, tem dois tipos de texto que têm me irritado. Um começa com "nos tempos da ditadura eu protestei, mas a juventude atual..." e o outro começa com "eu não entendo do assunto, mas...".  Parece óbvio por que nenhum destes tipos de texto me agrada, tanto que este post me parece inútil, mas vamos lá.

O primeiro tem aparecido muito por aí. Em posts no facebook, em conversas de bar, em colunas da folha. Geralmente, um povo de pseudo-esquerda (que já virou centro ou situação há muito tempo - como se houvesse diferença entre centro e situação no BR) que está bravo com alguma marcha ou alguma ocupação. Me parece que está sempre por trás deste tipo de texto um sentimento de que a sua causa, no seu tempo valia mais que as de hoje. E mais, que as de hoje não valem nada. Ou que os que hoje se manifestam são revoltados sem causas. Me parece muito grave que estes tais militantes das antigas não lembrem que sofreram exatamente estas críticas e que tenham de tal forma aceitado o establishment que não percebem que hoje as causas mudaram. Certamente, certamente, é mais relevante lutar contra a ditadura do que pela legalização do aborto ou da maconha. Mas já lutaram pela democracia, não? E agora, não lutar por nada? Ou lutar democraticamente, fazendo 200 abaixo-assinados por dia e votando no cara bonzinho? Não dá, né. A democracia que estes caras lutaram para instaurar e que agora estes mesmos defendem não é suficiente. Não é mais, mas não sei se um dia foi.

Justamente o povo que ia pras ruas (segundo eles, ao menos) reclamam que hoje os manifestantes tiram o direito de ir e vir das pessoas e dos carros. Estes mesmos acham que ciclofaixa não é solução, que aborto não pode ser pauta por que quebra a base aliada do governo e que estudante é maconheiro. Fora todo o descaso para causas ambientais. Se tiver uma passeata contra a corrupção, poucos jovens vão, por que já desacreditaram no sistema em si. E quantos destes revolucionários anti-ditadura vão? E por que não vão? Desacreditaram no sistema que eles instauraram ou por que seus amigos que lutaram contra a ditadura também agora estão no congresso? (OK, generalizações são todas burras, mas ainda que não sirva para todo mundo, funciona como uma boa regra geral). Ou por que estão cansados e velhinhos e acham que a juventude de agora é que tem que lutar? Lutar, obviamente, pelas causas que a ex-juventude considera CAUSA! É curioso que sempre haja uma certa barreira entre gerações, mas uma barreira deste tamanho entre a ex-juventude revolucionária e a juventude atual que até nem se diz revolucionária? Me cansa demais.

Com o segundo tipo de texto, meu problema já é menos político e mais filosófico, por isto, menos importante. Tudo quanto é texto de blog, de ensainho adolescente ou pós-adolescente (esta fase esquisita de quem já saiu da graduação mas ainda não se sustenta) tem que começar a partir de um ponto sobre o qual o autor não conhece nada para daí o autor finalmente dar sua modesta opinião sobre como o mundo ou as relações humanas deveriam ser. Às vezes também aparece fazendo isto gente famosa, como o Luis Felipe Pondé, que entende de todos os assuntos do mundo, mas entende do jeito dele (que é sempre muito diferente do meu jeito... e para mim, meu jeito ainda tem sido um jeito muito bom de entender as coisas!). Tenho visto texto partindo de tudo quanto é lado: filosofia, budismo, música, cinema e chegando no mesmo ponto. "Olha eu não sei o que é marxismo direito.... mas... meu namorado deveria pensar na coletividade do eu e não me deixar esperando no ponto.""Não entendo muito sobre budismo, mas as pessoas deveriam se deixar levar mais". Ai... se não entende, não fala. Dizer que não entende do assunto e tocar nele mesmo assim não resolve nada! Não te desculpa por não saber. Para quem entende, o autor continua falando merda! Para quem não entende, e sempre é a maioria, o autor fica parecendo culto, sabendo linkar muitos assuntos de elevado teor cultural à vida cotidiana. Se é só para parecer esperto para maioria, melhor nem escrever nada, por que a maioria não lê. Melhor por uma foto cult no facebook, uma p&b. E beber café.

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