sábado, 19 de novembro de 2011

don't try


Ótimo. Olhando pro teto descascado e mofado, penso na próxima merda que vou fazer da vida. Largar o emprego. Voltar a usar drogas. bater na mãe. Tentar algo com este puto do meu lado. Ainda que tudo diga não.
Uma tentativa a mais pra quem já está fudida praticamente não dói.

Eu já estava no bar quando ele entrou. Um bar da moda, caro, cheio de gente. pior, gente bonita. A elite jovem paulistana. Um cara malhado com uma camiseta apertada destas de academia. Don't try, grafado na camiseta. Uns olhos verdes e uns maços de cigarro. Era tudo. e daí, o de sempre. aquele tédio das pessoas, o ruído do que é chamado de música, o que me levou praí? ah, é. a vida é uma merda mesmo. melhor afundar de vez. a merda só até no pescoço não mata ninguém. Aquela camiseta e a música ridícula. I'm too sexy for my shirt, Too sexy for my shirt, So sexy it hurts.
Doer, dói mesmo. tudo muito bizarro até a terceira dose de tequila. já era a quinta. e então, você sai pra fumar e o aviso está lá. don't try. don't smoke. e você acende um cigarro, acenderia qualquer cigarro que tivesse. e traga. e sente que não tem nenhum efeito agora. e volta pro bar da moda e pras pessoas da moda que correm no ibira e comem cupcakes e tiram fotografias por hobby e vão no cinema por arte e leem bons livros e veem bons filmes e bebem bons vinhos e pisoteiam bons cidadãos e cobram uma boa grana por qualquer merda que façam. então volta para e elite paulistana que fede a vômito e perfume caro, ainda que você não saiba a diferença dos cheiros. e a mijo também.

pedi mais uma tequila e sai do bar, o cheiro de mijo deixa tudo intolerável. Até a última tequila, o cigarro e o cupcake. tudo intolerável. e eu, e as pessoas intolerantes, e o segurança que não me deixa sair com meu copinho. copinho intolerável  pra tolerar os intolerantes. inclusive, eu e o segurança. fui saindo, saindo sem a tequila, fui caminhando para a são luis sem ver o intolerante da camisetinha too sexy na porta do bar. era um cinzeiro ambulante. intolerável. e eu cheirava a limão de caipirinha no dia seguinte. enfim. fomos indo até a igreja da consolação onde todos os alternativos que se prezem têm um apartamento. o meu fica do outro lado da rua, a praça alternativa anda muito cara agora que as pessoas que correm e cobram uma nota pela merda que fazem para comerem cupcakes de merda moram ali para tirar fotografias por hobby. intoleráveis fotografias de merda.

você sabe que se mete numa enrascada quando a própria te conta que é uma. don’t try. tá bom.  sempre desisto antes de tentar mesmo. você tem ainda mais certeza quando a enrascada fede. seria a perfume ou a mijo? voilà. eu estava bem satisfeita de passar pelo corredor de mármore, dar boa noite bêbada pra um porteiro preto e pobre, esperar um elevador cheirando a mofo e entrar num apartamento vazio, a não ser por umas garrafas, um sofá e toda aquela merda mac e i. incluía uns restos de mac-qualquer coisa fotografados artisticamente com um i-qualquer coisa. saí de um nojo coletivo pra entrar num individual. só por uns braços grandes e um aviso em neon me mandando ficar longe.

me servi um martini e fui tirando a roupa. não tão rápido, paixão. a elite paulistana ainda gosta de conversar. vamos lá. uma meia dúzia de livros, um ceticismo barato, uma auto-ajuda de escritório. arrogante. muito bem, palmas pro meu estômago que aguentou tudo. o mijo, o segurança, a camiseta. o que não de faz por uma trepada depois de meses de pornografia virtual?

quando eu já ia caindo, o escroto resolveu que já tinha me convencido que ele era mais que uns olhos claros e uns braços enormes e foi lambendo meu pé. sabe... não posso com isto. encontre a explicação freudiana que quiser, sem língua no meu pé. dei-lhe um chute até que bem carinhoso e o arrogante resolveu que era um paulistano de brio. veio como um boi pra cima de mim e sem tirar roupa nenhuma já estava dentro. eu não senti nada, não sei se de tão bêbada ou tão de saco cheio. mas deu pra ver as tentativas enfurecidamente bovinas do don't try. uns urros aqui, uns tapas na cara ali. era agressivo o moço e ganhei uma meia dúzia de hematomas e um mamilo mastigado. mesmo bêbada eu merecia gozar. fui por cima. cavalguei. bati na cara. chamei de lindo. te amo. gozei.

foi. (de novo)

o teto descascado e mofado, a próxima merda que vou fazer da vida. Largar o emprego. Voltar a usar drogas. bater na mãe. Tentar algo com o puto do meu lado. Ainda que ele diga não.
Uma tentativa a mais pra quem já está fudida praticamente não dói.

Um comentário:

  1. Que gosto ácido e delicioso tem ler um conto tão amargo, desencantado e sexual saído das pontas dos dedos de uma mulher, não de um homem. Lendo teu conto imaginei Rubem Fonseca Bukowski e o Miller se contorcendo entre gozo e inveja.Simples assim.

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