Uma caixa de bis é a medida exata da
minha ansiedade. Que feio, não é? Pois é. Que feio o stress, a
loucura, a ansiedade, o descontrole. Que feio descontar no chocolate.
Que feio, menina!
Falo da caixa de bis solitária, a
única e última. A caixa-buraco-da-fechadura. A caixa-solução. Uma
caixa de bis. Inteira. Todinha. Vasta. Rápida. Quick. Vai-que-vai.
Abriu um e comeu o último. Só.
Embaixo da minha caixa de bis gigante,
olho de canto o mundo. Não tem nenhuma tabacaria, nenhum poeta. Só
olhos grandes assustados condenando o chocolate do alto de seus
salários, de suas certezas e de suas loucuras-nó-na-garganta.
Loucuras tumores. Chocolate é vida. É carapaça de quem não tem
nenhuma.
No meio do lixo da embalagem, submersa
em todo ele, eu lembro de who me disse que era feio, tão, feio comer
chocolate triste, comer chocolate sozinha. De who me ensinou que o
descontrole é nojento. É gordo, é inútil. Seboso. É uma bola
roliça de gordura branca que se arrasta na frente de tanta gente
certinha e limpa que nunca (nunca!) comeu chocolate no vazio. Não há
vazio neles.
Seria muito bonito da minha parte
querer que estes whos todos se libertassem. Primeiro do peso da
certeza, da rigidez da linha reta. Depois dos olhos duros. O olhar
sem julgamento libera quem olha e mais ninguém. Mas não. Eu queria
mesmo é que who parrasse de condenar, não importa o lugar lindo que
existe, who nunca encontrará. Importa que seus filhos possam comer
chocolates. Que eu possa. Que ela grite na rua bem na frente do
mercadinho do Largo do Arouche e isto seja só um grito. Por que é
só um grito, um grito que não virou tumor.
Que as bocas sujas não causem nojo. Só
curiosidade.