O acordo do poeta

Ontem descobri até onde vai o acordo dos poetas.
Escreve-se sobre a amada, o sol, a cachoeira.
A pele, a língua, os gemidos quentes.
Escreve-se sobre o universo. Sobre o amor.
Aquele amor que se busca. Aqueles amores todos.
Todos tão diferentes e opostos os amores que buscamos.
Ontem vi aquilo sobre o que o poeta não fala.
Me calei. Eu só respirei aquela imagem.

24/2/12

São Paulo

"para que tanta perna, meu deus"

que desespero que me dá
te ver sair sem sol
em meio a buzinas e ruídos
que comem almas.

que desespero que me dá
você acordar sem céu
só fumaça, cor de lixo,
sujando os olhos.

que desespero que me dá
tua espera, tua corrida,
teu almoço, teu chefe
corroendo teu estômago.

que desespero que me dá
você sozinho por aí,
é muita indiferença
pra um coração só.