Bom, vou sair da pausa porque nesse exato momento quase tudo me parece em stand by.
Hoje eu fui assaltada pela segunda vez em um período de um mês. Voltando do teatro, em frente ao mercadorama que havia acabado de apagar as luzes.
De novo, levaram meu celular. De novo, eram dois caras. De novo, eram canivetes as "armas". De novo, eu me sinto uma ridícula e de novo eu fico revendo o que eu falava sobre Curitiba, Brasil, violência, pobreza, polícia.
De novo, eu quase voto no Tuma por uma meia hora e de novo eu desvoto quando paro de tremer.
Dessa vez, eu chorei. Dessa vez, eu fiz um postão sobre isso. Dessa vez, eu vinha bem espertinha pela rua principal, embaixo das luzes e prevendo os movimentos de todas as pessoas da rua. Das pessoas que eu via.
Eu tinha acabado de me despedir de uma amiga a duas quadras dalí falando como eu ando com medo de andar sozinha no centro. Eu tinha acabado de mudar de calçada porque do outro lado vinham dois caras gritando que começaram a falar bem baixinho quando me viram na rua.
Desda primeira vez que sofri uma tentativa de assalto (meados de dezembro, na esquina da Ubaldino com a Itupava), eu fico com medo de andar na rua. E, então, me sinto uma ridícula. Não sei se pelo discursinho que eu tinha antes (Ah, é o medo que faz as pessoas serem assaltadas, andar de noite é bonito e sussegado, uma forma de liberdade, ter polícia na rua não adianta em nada) ou se por não conseguir mais manter na prática o discurso que eu gostaria muito que fosse verdadeiro.
Da primeira vez, quem tentou me assaltar foi um cara de bicicleta. E quando ele parou do meu lado, (juro!) eu pensava justamente como Curitiba é genial por possibilitar pessoas andarem de bicicleta. Obviamente, pessoas do bem, (maniqueísta, não?) porque pessoas do mal andam em um carrão com um pessoa só dentro. Jamais de bicicleta.
Pois é.
Da segunda vez, foram dois meninos bombadinhos de academia. Eles aparentavam ter bem mais dinheiro que eu, que ia de chinelo havaiana.
Eu ia pela Dr. Faivre, pouco depois da meia noite, muito sussegada em um caminho que eu fazia sempre. Boa parte dos entes queridos que ficaram sabendo das condições desse assalto me criticaram bastante pela minha irresponsabilidade de andar sozinha depois da meia noite em uma das ruas que faz esquina com a universidade onde eu estudo há oito anos.
Ao menos, dessa vez, ninguém pode dizer que eu estava desprevinida. Nem que era uma rua mal iluminada(é a rua principal de Curitiba, se for para escolher uma só!), nem que era tarde, muito menos podem julgar a nobreza do motivo pelo qual eu estava na rua.
Dessa vez, um cara parou na rua pra me ajudar, ele chamou a polícia, esperamos a viatura por 20 minutos. Entramos, rodamos o centro, até que eu vi um cara com uma roupa parecida com a de um dos caras que me assaltou. Eu falei só isso para polícia, eles fecharam o cara, desceram empunhando armas, revistaram o cara e me disseram que se eu dissesse que era ele, já iam levá-lo. Ora, o cara não tinha meu celular, eu tinha uma dose de adrenalina forte o suficiente para não reconhecer nem minha mãe, e tinha um cara jurando ter saído do trabalho de mãos para cima, provavelmente graças à minha ridiculice.
Eu estou muito triste. Eu realmente esperava há um tempo atrás que estudantes pobres não fossem assaltados no caminho de casa (e o
pobre não é demagogia!). Eu esperava também poder continuar falando sempre para os não-brasileiros que aqui é legal e seguro, que é só na tv que a gente vê essas coisas. Eu esperava sobretudo não olhar para os lados constantemente à procura de algum assaltante. Acho que eu esperava que estudantes pobres soubessem agir de forma mais inteligente quando fossem assaltados, mas eu já fui tantas vezes e de tantas formas diferentes e continuo uma ridícula.
mas que merda... Esses dados empíricos estão jogando por água abaixo toda a minha teoria tão lindinha... E eu, pouco estudada que sou, já já começo a tirar a culpa do capitalismo, achar polícia uma coisa boa, querer comprar um carro blindado...