terça-feira, 28 de junho de 2016

a Ásia é longe


Longa. longa viagem
Você é um aventureiro, they say.

Put your feet on the road
and go
the road knows much better than you.

Life is the trip
today is the only road
come to your eyes and feet
today
is the worst day since yesterday
today 
is the road.

¿Qué horas son mi corazón?


segunda-feira, 20 de junho de 2016

a visita




eu, a sinházinha, vou de chapéu colorido e protetor.
subi-subindo
até chegar finalmente na senzala
aos poucos
sem querer
sem perceber
curiosidade que arrasta a gente
afasta os olhos das costas
indo, indo
puxando pela mão pro agreste
pro sertão
pro brasil sem joao gilberto
de repente, é ali.
natal,
os turistas perus 
esperam o abate
rosados nas piscinas naturais de cerveja
os turistas cristãos de braços abertos
para o abraço da cvc
o abraço da copa
o abraço natalino.
e é logo ali.
são paulo do potengi
minha senzala
minha mágoa
minha Luciana.
onde estará Ela?
com seus olhos brancos e tímidos
suas mãos magras
sua bunda empinada
e seu rosto fantasma.
fantasma e de batom vermelho.
onde estará você Luciana?
onde estará seu rosto?
nos meus pensamentos,
em são paulo casa grande
ou em são paulo senzala?
Mais um passo 
e estamos em currais novos.
currais.
novos.
você é nova Luciana.
Lu, você num tem nem 20 anos.
e não vai ter nunca.
fala Luciana, fala.
reaparece, Luciana.
uma peça vinda de cada lado,
um retrato vindo de cada sentido,
cadê a Lu?
dizia minha sobrinha.
cadê a Lu?
repetiu muitas vezes,
quando Luciana desistiu da humilhação
e voltou para farinha com feijão.
cadê você, Luciana, cadê?
fito o fiteiro
você Luciana, voccê já sabia de tudo isto?
Por que você não me disse, Lu?
perdida lá entre esmaltes, glitter e seu rádio,
Luciana não me disse nada.
Nem da casa grande
nem da senzala
nem do natal,
nem do curral.

domingo, 19 de junho de 2016

Sonhos de linguagem III

\/ o peso das palavras

as palavras pesam
ranqueiam-se entre si
escolhem lugares para aparecer
com quem? aonde?
as palavras sempre se perguntam
as palavras não gostam
não podem
de aparecer inesperadamente
inadyvertidamente
uma palavra só pode vir depois de uma certa palavra
e uma certa palavra só vem antes de uma palavra
e é assin.

ou talvez não seja.
ou talvez não.
ou talvez...
ou...

as palavras nos dão poderes
ações, hipóteses e unicórnios
aqui, bem aqui na sua cara
pronto, a palavra fez-se.

às vezes há palavras eradas
às vezes no errado lugar
às vezes vaguearão pelo tempo
NO ESPAÇO a PALAVRA FOI...
mas hoje nos espaços a palavra é ainda a mesma palavra
por que o espaço não existe mais
para a palavra, o espaço nunca existiu.
E agora nós somos como a palavra
supra-espaciais.

Mas as palavras,
estas sim, diferentes dos homens,
têm lugar para aparecer,
têm hora, é convidada.
Oi, palavra, você quer tomar um café?
Oi palavra, vamos num restaurante!
Palavra, agora você é médica. 
Palavra, agora você é indústria.
Palavra, agora você é mecanismo.
Poesia! Palavra! Poesia!

Ai palavra, palavrinha
como você pode ser tanta coisinha?
Como você pode ser tão distinta?
Como tanto ser em uma palavrinha?

Ninguém sabe.

E ninguém há de saber
por que isto não é nominável.

E who knows, vai saber se a gente quer saber.

Se o belo das palavras continua com os poetas
e os números e os hankings todos com os cientistas?
Ninguém sabe, nem os poetas cientistas nem os cientistas poetas.

Saberão os poetas?
Saberão os cientistas?
Nào.


As palavras devem ser o que elas quiserem
Elas devem desenhar o significado
Contar histórias
Buscar relações inêsistentes
As palavra fazem o que elas quiserem.

E, finalmente, é assin.
Como sempre foi e sempre será.
A vida de uma palavra só attach quem fala.
a vida de uma palavra palavreia quem fala
mas_não_só.
Palavreia o receptor
Palavreia a frase
Palavreia as relações
Palavreia o contexto
Palavreia o corpus
Palavreia a rede, a estrutura
Quem fala palavreia o mundo.

Logo, vamos palavrear
#contramesoclise #golpe #elithe
e explorar o poder das palavras
ignorar pesos e medidas
fórmulas limpas e certinhas
que levam ao certeirosucesso..
A palavra é poder, sim.
Mas a palavra muda. 
A palavra ainda é mais poderosa que humanxs
E muda histórias
Muda pessoas
Muda a própria palavra.

Eu tenho preguiça de usar a palavra certa.
A palavra certa não é a palavracerta.
A palavra certa é a medida. A esperada.
Isto não te dá preguiça?

O mundo espera a palavra certa.
A palavra certa, às vezes, pode ser a erada.
Mas ela ainda está certa em seu lugar.
A palavracerta sempre está errada em seu lugar
Ela é desregrada e faz caquinha por aí.
A palavracerta é bem eradynhx 
e os meninos certinhos se assustam com a palavracerta.
Todos se assustam com a palavracerta.
Esta é uma característica da palavracerta.
Ela é esperada e assustadora.

Vamos na palavra corrente capturada
vamos fugir
vamos nos permitir
vamos celebrar
vamos beber
vamos viver

Vamos na palavra dura não é assin
Vamos rígido no cotidiano
Vamos pedra no caminho
Vamos agora now or never
Vamos vai... já que tem que ir
Vamos construir o futuro da nação!
Vamos! vocês por mim e eu por todos
todosdocapistaléumtodosbemestranho
Vamos! Vem! Agora! seja você mesmo! Beba guaraná!
Vamos!
Vamos até... mas só que...

Só que eu não vô não.
Eu  q num sô nem vó, que dirá vô.
Eu fico quieta-imóvel,
construindo palavras
enquanto o futuro não chega.

Sedução



A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela. 



Adélia Prado 
(da série: queria ter escrito)

terça-feira, 14 de junho de 2016

transitum

atravesso o campo de petróleo
levo conchas nas mãos e brilho nos cabelos
atravesso o campo árido, tecnológico
com o mito escorrendo entre os dedos
cada gota de mito que encontra o solo
transforma-se
pegasus, minotauros, musas
surgem do campo inóspito e entubado
a cada passo pálido e tímido
dados pedibus-mundi.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Visita a Baudelaire

Ou: eu urubu

Você é um sanduíche de carne podre.
Eu como, mordo, mastigo,
enfio meus dentes,
minha saliva,
mastigo, mastigo, mastigo,
nhoc, nhoc, nhoc,
meus dentes desfiando a tua carne podre.
A tua carne me dá ânsia,
teu cheiro azedo, 
o queijo verde derretendo entre meus dentes.
Mas eu como
E não consigo parar.
Antropofagia da ânsia
do vômito
antropofagizando a sua podridão.
Eu não consigo parar.
Te mordo,
Te como,
Te cuspo
Para poder lamber tudo de novo.
Suas veias abertas e minha bílis.
Você é meu sanduíche de carne podre.
Eu como e vômito.
Há anos.
A ânsia me faz continuar,
continuar,
continuar te mastigando,
até o final.
Até seus ossos virarem pó entre meus dentes.
Até seu sangue escorrer
do canto da boca
para minhas entranhas
Você, vermelho e quentinho
E vital
E líquido
E podre
E verde
E eu, vomitando,
comendo,
ansiando
Os fiapos verdes nos meus dentes amarelos
Me cutucando
Me ferindo
Meus dentes vermelhos
Gengivas sangrando
Caninos pingando
Pulmão purulento
Ranho verde
E a minha boca continua a comer...
Ela é teimosa e desobediente,
come, come, come
E nunca está contente!
Dói, machuca, corta
Sua carne-navalha
Sua podridão química
Sanduíche finito de carne podre
Olho teu cheiro
Sinto tua cor
O queijo derretido
Que me fará vomitar
Eu lambo, eu quero
Eu imploro
Eu gemo
dor é prazer
ânsia, sobretudo.
Eu anseio
Eu devoro o queijo derretido
O vômito
A cagada
Eu devoro.
Eu cago.
Eu cago.
Eu cago! 
Você entendeu,
você sanduíche podre,
você carniça,
eu urubu.

domingo, 12 de junho de 2016

Memória

A memória se renova
na tinta
na pena
no peso.

A memória
instável
variável
sórdida
-mente 
contextual.

A memória é agora.

sábado, 11 de junho de 2016

Real (2016)

Se existisse um príncipe
Se existisse um príncipe hoje
Ele estaria no alto da torre
da torre de marfim
esperando a chuva chegar
de cabelos lisos e incansáveis,
o príncipe espera.
preso. inerte. silencioso.
Mas não há príncipes.
Não há príncipes hoje.
Hoje já não há príncipes, 
princesas, torres e chuvas.
Hoje só a espera incansável
nos espreita.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Volante e Álcool

via poesia
percorro
a máxima
periculosidade.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ofício

O que há de melhor que escrever palavras e alterar cabeças?

As cabeças
As máquinas
As engrenagens
obedecem às palavras.

As massas
As mágicas
As magias
dependem da PALAVRA.

Palavra, o átomo do ser.