terça-feira, 20 de março de 2012

Vida moderna

Maldita hora
que eu descobri
os dicumento.

quinta-feira, 8 de março de 2012

dia da Mulher

Eu, que sempre me encarei como mulher, nunca gostei do dia da Mulher. Primeiro por que não é feriado, segundo por que me parecia absurdo existir um dia por isto. Eu sempre gostei bem mais do Dia da Árvore, por exemplo. Depois, aos poucos, bem poucos, eu entendi que as minorias precisavam de um dia para elas mesmas se sentirem bem. Não que faça de fato alguma diferença no mundo. O engraçado é que mulher, no mundo e no Brasil, não é minoria. E daí? E daí que mesmo não sendo minoria numérica é o grupo discriminado. Então minoria passa a significar discriminado. E a gente tem um dia do negro, um da mulher, um do migrante, um do imigrante. Nenhum do homem, nenhum do branco e, muito menos, um dia do rico.


Tá, isto é o de sempre. O que me espantou hoje é que a comemoração do Dia da Mulher deste ano está tendo um tom bem diferente (ao menos, para mim) do tom que sempre teve. As primeiras matérias que pipocaram aos meus olhos questionam o que é ser mulher, pensando na questão da transgenia, crossdresser, genética e homossexualidade. Para no fim, concluir com o batido "Não se nasce mulher, torna-se." da S. Beauvoir.

Eu fico feliz por esta questão estar tão em voga hoje (seja por causa do Laerte, seja por esta quantidade louca de modelos famosos entrando neste tipo de questão), mas me pergunto cadê o tom das antigas? A questão da mulher que trabalha em todos os turnos do seu dia, que recebe menos, que ouve idiotice na rua diariamente, que é programada para ser dona de casa? Que, agora, é programada para ser uma dona de casa bem sucedida na empresa, magra, feliz, saudável, fitness, sustentável e com um lindo casal de filhos, além de um i-phone? A questão da mulher que apanha, que não tem liberdade sobre seu próprio corpo. Vish, a lista é grande.

Enquanto a parte intelectualizada da sociedade já conseguiu se voltar para questões mais abstratas e menos óbvias, a mulher - seja ela rica, pobre, negra, branca, do sul, do norte, do Brasil, da China, do Oriente médio - continua vítima das mesmas imposições.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Mais do mesmo ou da mulher na mídia


Este post é só mais do mesmo sobre a questão da mulher, auto-imagem e sociedade. Resolvi escrever só para desabafar. Inúmeros blogs mais lidos, mais espertos, mais um monte de coisas, já discutiram isto e na realidade nada muda. Quem lê este tipo de posicionamento é já quem não o adota.

Enfim, tudo isto começou por causa desta notícia aqui.

A esposa de um dos atores que fez 007, Kelly Shaye-Smith, é gorda e a mídia espera alguma atitude do cara em relação a isto. Uma atitude que, claro, não pode ser dizer que gosta da esposa. A notícia é velha, mas graças a este texto do Alex de Castro é que eu fiquei sabendo. O texto do Alex já vêm com toda uma discussão politicamente correta do fato, então eu não vou comentar muito, só que é legal ler um texto politicamente correto que não é chato nem pedante.

Me chocou como a mídia cobrou abertamente um posicionamento do ator sobre a sua vida pessoal e de sua esposa, sobre o que ele acha do corpo dela. A priori, me chocou muito. Depois fui percebendo que é isto que a mídia faz em todos os sentidos, com todas as pessoas. Afinal, a mídia enfiar na minha própria cabeça que tenho que ser magra é também exigir que eu tenha um posicionamento sobre minha própria vida e meu corpo que vá de encontro com o mostrado na tv. Enfim... o papel da mídia é vender e o que vende hoje é ser magra. Então vendamos!

O que continuou me chocando depois de perceber que a mídia é, de fato, muito muito má, é que me lembrei de muitos momentos nos quais o posicionamento de cobrança da mídia foi tomado por pessoas próximas a mim. Boa parte da minha família, majoritariamente acima do peso e com muitos obesos mórbidos, insiste que ser gordo não é só feio, mas também sinal de preguiça, doença, baixa auto-estima, blá blá blá. Muitos amigos de namorados meus já criticaram as escolhas dos moços dizendo que eles podiam arrumar algo melhor (melhor = mais magro, há!). Muitas amigas minhas (muito mais magras que eu)  falam delas mesmas como enormes, feias e outros nomes mais cabeludos. Isto agora, que eu sou adulta e já tenho o poder de escolher com quem conviver, por que seria muito caricatural pensar num passado no qual, para mim, era obrigatória a convivência numa escola de classe média alta numa cidade minúscula controlada por apenas uma família.

No entanto, este post não contém nem um pouco de autopiedade. Desta fase, já passei. Mas é um post um pouco indignado com as pessoas não conseguirem enxergar além da mídia, além do exposto. Quantas pessoas saem, transam, etc com alguém que é gordo, mas não têm coragem de assumir um relacionamento para não encarar meia dúzia de olhares tortos e preconceituosos na rua? Quantas destas pessoas teriam dificuldade em dizer "acho um gordo sexy/bonito/atraente"? e quantos começam a ter algo com alguém gordo já se armando com frases do tipo "ah mas vocês não sabem como ele é legal, bom de cama, inteligente"?  Claro! Uma pessoa gorda tem que ser boa, inteligente, culta e engraçada. É a compensação da gordura.

Enfim... atualmente, a mídia B (e até mesmo parte da A) tem dado um enfoque especial para esta questão do gordo. Principalmente da mulher gorda. São inúmeros blogs e páginas em redes sociais apresentando gordinhas sexys. Acessados majoritariamente por gordinhas (sexys ou não) e por seus namorados. Duas coisas me chamam a atenção nessa nova leva de informação: (i) estas pessoas (as gordas e seus namorados) precisam deste tipo de condescendência da mídia b ("beleza, se a Adele é sexy, minha namorada também é!"), (ii) o tipo de mulher que aparece nestas mídias não são em nada parecidas com as reais, nem mesmo com as que digerem sua gordura com este tipo de informação.


"Mesmo acima do peso, Musa Plus Size garante que tem samba no pé"


Para mim, o grande exemplo da mídia A que reforça a imagem da mulher real é a Dove. Suas propagandas reúnem gordas, negras, mulheres já passadas dos 40. Todas lindas! Todas as mulheres da propaganda da dove são bem pouco reais para mim. São as mulheres que você não vê no ônibus e que quando vê, chamam sua atenção de tão impecáveis. Se são gordas, são brancas de olhos azuis e pele perfeita. Se são negras, tem o nariz afunilado e um cabelo muito exótico e cheiroso (sim, o cabelo da propaganda parece muito cheiroso). Se já passaram dos 40, estão lá, com o maior corpinho de barbie escondendo os pés de galinha. E daí? E daí que a gorda que usa dove, usa por que quer ter a pele macia e o olho azul, a negra por que quer afunilar o nariz e a quaretona para voltar a ter 17. A dove, com esta conversinha mole de mulher real, só ajuda a retificar a ideia de que sim!, existe a imagem perfeita. A dove só faz um adendo dizendo que as não-modelos podem também atingir a imagem perfeita.  Atingir, claro, através da compra dos produtos dove. Pensando agora nas gordas: quantas na propaganda da dove têm estrias? Flacidez? Todas são redondinhas, macias, durinhas... Assim como a mulher gorda ideal tem que ser! Sem esquecer do sorriso simpático e aconchegante que toda gorda é obrigada a ter.


Dove ou a nova versão de "onde está wally?" Cadê a mulher real?


Em suma, a mulher real da dove não é nada real. Assim como a mulher real da mídia b também não é. Quantas imagens de gordinhas numa lingerie super sexy retocadíssimas no photoshop?




Aí é que eu penso: a mídia B faz o que? Mostra a mulher real para que a mulher real se sinta bem? Ou mostra a mulher semi-real retocadíssima no photoshop? E para que? Para as mulheres reais ficarem felizes? Elas se vêem nestas mulheres semi-reais photoshopadas? Não sei das outras, mas eu não me sinto nem um pouco representada vendo uma mulher que usa 44, cheirosa, durinha, sem um risquinho na pele, usando uma lingerie que não se compra em lojas "normais"(!).

Enfim, neste caso, a mídia B só reproduz a mídia A. Em nenhum dos casos, a mulher de verdade está sendo representada e em ambos os casos há uma imagem de mulher perfeita a se alcançar. Uma imagem que, independentemente do tipo de mídia e do tipo de mulher, só vai ser alcançada via photoshop:



Tudo isto, claro, tem consequências diárias para grande maioria das pessoas que recebem este tipo de informação. Lendo o post do Escreva Lola sobre o caso do 007 e sua esposa, me deparei com uma destas consequências muito tristes. A autora citou este comentário: “Keely está horrível. Ela é tão grande quanto eu e eu sei que estou horrível”. P0rr@! Quem disse isto não consegue se sentir bem nem quando descobre que a mulher do 007 é igual a ela! Vai se sentir bem quando? Alguém que pensa realmente assim pode sair de um manequim 58 para um 42 e vai continuar se sentindo mal, muito mal. Por que ainda não é um 38, por que as mulheres da mídia nunca foram gordas e  parecem não ter estria, celulite(haha!), flacidez, sobra de pele, sobra de muitas lembranças complicadas, nem de sobra de baixa auto-estima, nem sobra de nada. O que sobra e o que está em falta é a sociedade (reflexo ou espelho da mídia?) que dita. Para alguém que viveu a sobra (de gordura, de altura, de tamanho de pé, nariz, etc, etc,) ou a falta (de peito, de bunda, de dinheiro, de emprego, etc, etc ), isto não muda. Sempre vai faltar ou sobrar no mundo real.

Mas, eventualmente, estas consequências diárias são tão gritantes que escancaram toda a podridão que há na simples escolha da mídia em instaurar o PP o tamanho básico de todas as mulheres. Há inúmeros sites com dicas e apoio para meninas que decidiram ser anoréxicas:






Outros: dicas para anoréxicas, wiki, fotos, tumblr.


Antes e depois                                

















Tentei arduamente terminar este post de uma maneira não tão triste ou textualmente decente, mas não rolou nem um parágrafo para amenizar a dor das magrelas e entender que elas, tanto quanto as gordas, são só resultado da mesmíssima imposição midiática.

Deixo aqui dois links:

esta tumblr: fuck yeah chubby girls, na qual muitas meninas que se acham gordas postam fotos delas mesmas. É muito triste que um site destes tenha que existir, que estas pessoas tenham que se exibir desta forma para se sentirem minimamente aceitas por elas mesmas. No entanto, minha relação com a tumblr é bastante positiva. De todos os movimentos que conheço em relação a esta questão, este é o que parece mais alcançar um "ame você mesma", sem passar antes por um desfile de imagens photoshopadas que não representam ninguém, mas que te ensinam como você deve ser.

e esta: meu mundo anamia, um blog de uma menina de quinze(!!!!!) que depois de passar um tempo neste mundo anoréxico, resolveu escrever. "Tudo era tão apavorante. Eu odiava ser GORDA e tambem não queria acabar com a minha vida. Eu tive que escolher entre continuar a ser uma ANA/MIA ou continuar a viver.. O estereotipo magra simplismente,falou mais alto" (sic)