segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Reprodução

Mulher andando nua pela casa

Mulher andando nua pela casa
envolve a gente de tamanha paz.
Não é nudez datada, provocante.
É um andar vestida de nudez,
inocência de irmã e copo d’água.

O corpo nem sequer é percebido
pelo ritmo que o leva.
Transitam curvas em estado de pureza,
dando este nome à vida: castidade.

Pêlos que fascinavam não perturbam.
Seios, nádegas (tácito armistício)
repousam de guerra.

Também eu repouso.


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ódio Gratuito

Há dois dias entrei em um ônibus rindo. Tinha ido ao ibirapuera e bebemos em dois uma garrafa de vinho. Verão, noitinha, álcool e um sentimento de que são paulo pode ser bom. Ri alto. Acho que duas vezes. E o riso incomodou as pessoas de trás. Eram três homens que achavam muito justo fuzilar quem ri no ônibus. Achavam muito justo e tinham algumas indicações a respeito da técnica de fuzilagem. Meu riso foi ficando nervoso, baixinho. E a cidade foi voltando a ser feia enquanto as vozes que defendiam meu fuzilamento foram ficando mais altas. E os detalhes, mais sórdidos. Depois de dois pontos, eu não ria mais. Depois de dois pontos, o fuzil falava muito mais alto do que eu ria. Depois de dois pontos, o ônibus inteiro sabia o destino que mereço. O ônibus, talvez, concordasse até. Calei e descobri que meu celular não conhecia a palavra fuzil. Nem fusil. Só fusível.
Depois de dois pontos, desceram os fuzileiros da moral e dos bons costumes. Depois de dois pontos mais, descemos nós.  E fomos para casa de riso fuzilado.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

2012



Queria postar um negócio que não fosse de natal, ano novo, amor e sexo.
Só consegui pensar em uma coisa: merda e dinheiro.




Depois pensei melhor: bicicleta.