quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Zé e etc

Se tem uma coisa que eu gosto é de homem com nome pequeno. Mas tão pequeno que não carece de apelido.
Depois que conhece e diz oi, descobre o nome. Mas de tão minúsculo, já é o apelido. O afetivo. Daí acabou.
Pode entrar na casa, abrir a geladeira e andar de calcinha.
Homem de nome pequeno já vem pronto. E se quiser mudar algo, danou-se, porque não muda. Fernando vira Fê, Fer, Nando.
Gil vira Gilvedévio. Jonas, Vegetariano-não-tão-chato. Jean, Petit Prince.
[Livy não vira nada.]
Homem com nome pequeno a gente até acrescenta, mas tirar, não tira nada.
Nem pro bem, nem pro Mau.
Maurício, que é bom, quando vira Mau, danou-se.
Álvaro, que é mau, vira Alvareta. E daí fica bom, porque tem rima boa.
Uma vez, eu conheci um Livio, ele virou Livy e eu Livio. Quem acrescentou foi ele, que também não perdeu nada. Eu? Perdi o trem.
Quando homem tem nome grande, mas tão grande que o apelido já é um novo nome, daí eu vou embora. Quem já tem muito, insiste em querer mais.
Quando o homem tem nome pequeno a gente pergunta "mas é Gilberto?" e descobre que tem pais malucos.
Quando gato tem nome pequeno a gente acha bonito. Mas na verdade, não é Ale, é Alecrim. Alecrim Dourado da Silva Brasil. Nome pomposo, para gato.
Quando o José virou E-agora-José, daí que ficou bom. Não tinha mais o que sobrar.
José é tão maior que Jonas, que daí vira Zé.
Eu, que-penso-que-sou-grande-mas-na-verdade-sou-pequena, gosto do pequeno, que não vira nada. Que a gente olha e já sabe. Que na identidade assina mais o sobrenome para ver se enche a linhazinha. Mas não enche. Homem de nome pequeno não enche nada.
Nome grande fala, nome pequeno lê. Ou toca violão.
Eu gosto da intimidade do nome pequeno. De como ele não transborda nunca. Fica quieto, fica lá. Falta um pedaço.
Eu, que enxergo o copo meio vazio, não sou moça acostumada com sobra.
Minha vó gosta de sobra, tem milhares de tapawerzinhos. Seu grande amor chamava Benedito.
Se fosse só Dito, eu pegava para mim. Ficava o dito pelo não dito e a gente seguia, de mãos abanando, cantando músicas diferentes, juntos.
Já quis muito um filho, Vinícius. Mas Vi, Vini, Ni é demasiado.
É para ter um só, melhor joão, mas esse aí eu já tenho e já tá bem barbudinho. Bom mesmo é quando o joão vira rosa.
Homem de nome pequeno faz falta quando está ali, mas depois que vai embora está completo. Se um Vinícius vai embora, vai junto o Vi, o Vini, o Ni e daí a casa que era cheia fica vazia. Que era muito barulhenta, fica quieta, e eu, de nome pequeno, não encho casa nenhuma. Não toco nada, não falo sozinha. Se der, acompanhada também não falo.
Eu gosto de home bem pequenininho.
No fim, gosto mesmo é quando vão embora. Ficam as fotos, o silêncio e o miado do Ale. Dá para se querer mais?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

NY

“Fui a Nova York

Não de avião ou transatlântico

Nem com ajuda de Orfeus

hoje impotentes

Fui de cinema.”

Sérgio Milliet

Na santa casa

Ei moço,

tardei demais da conta, mas entendi que o problema é consigo.
agora, aLívio, troquei os óculos.

beijo-me-liga

domingo, 27 de dezembro de 2009

Gastrite Natalina

Eu me disse "sem comentários natalinos, sem comentários natalinos", mas não dá. Ontem eu estava com um amigo andando pela Paulista revestida pela breguice natalina entupida de famílias que vestiam uma peça de roupa nova porque era natal. Por sorte, ele também achava tudo massificado e yankee. Eu ainda ficava puta com o gasto de energia elétrica.
Hoje, eu estou na frente da tv vendo um padre cantar no programa do Didi. Minha mãe acaba de descrevê-lo como "o hit do momento" . Ela me ofereceu uma batida de maracujá, recusei porque já estou com problemas gástricos suficientes.
Faz três dias que comemos pernil e que eu respondo a minha vó, uma velinha muito teimosa, que, apesar de eu não acreditar em deus ou no menino jesus, eu acredito na ética, na bondade e na reciprocidade. Não adianta, eu vou pro inferno. Eu e minha gastrite.
No inferno, pelo menos deve ter internet. Deve ter também a Piauí, minha diversão dos dois últimos dias.
Então, eu sento no pc e vejo os mesmos e-mails. Nada novo.
Releio de novo os e-mails que me chegaram de diferentes partes do mundo (très chic!) e decido de novo não responder agora. Um dia, amanhã, depois do almoço.
Me animei com o almoço, diz que vai ter bacalhau. Não seria melhor guardar pra páscoa já que a gente anda sem grana?
Enfim, o post veio depois que li em um outro blog a descrição do meu natal. De repente, fica-se feliz porque tem mais gente na merda, rola uma identificação e pensa-se que tudo bem, quando passar o natal voltamos a ficar junto das pessoas que odeiam o natal separadamente na casa de suas famílias que amam o natal. O mais curioso é que eu sempre gostei do natal, curtia fazer os presentes, arrumar a casa, fazia enfeitinhos blá blá blá.
Daí agora vem o trabalho, a irritação, as contas e a concepção de mundo. Eu gosto muito do natal entre pessoas que odeiam o natal. Entre pessoas que reciclam o lixo e não têm pisca-pisca. Conversamos uma meia hora sobre o ridículo natalino, contamos anedotas, abrimos presentes bacanas (dessas coisas banais... livros que se compra em sebos, presilhas de cabelo feitas com retalho e uma cadeira feita por alguém). Daí vem o discurso sobre como nós, pessoas bacanas e que parecem inteligentes (como disse ontem um vendendor de rua), também nos rendemos ao patético espírito capitalita judaíco-cristão natalino e trocamos prensente. Por sorte, vamos ter uma bustinho do Marx vestido de papai noel e nos penduraremos em algum site engraçado para deixar de nos ridicularizar. Ah, tambem jogamos war e eu ganho. O=)
Enfim, o natal em si poderia ser legal se ele fosse uma desculpa para estarmos com pessoas legais, mas cada um de nós está rodeado por nossas tias gordas e suadas escondendo nossas últimas leituras. Para ajudar, no final do dia 25, assistimos algum filme que mostra os jovens que maltratam suas famílias arrependidíssimos depois que um vovô bate as botas repentinamente.
Agora ouço a voz da minha mãe na cozinha: porra, era suco!
E eu ainda espero o bacalhau para decidir qual a meleca que devo estar fazendo no reveillon.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Papai noel

Bom, eu quase não vou falar nada sobre o natal porque tudo já é muito batido. Inclusive socialistas cristãs-atéias que gostam de natal e pintam a unha de vermelho-puta em homenagem ao bom velinho, Marx.
Saindo esses dias para dar uma volta, eu e mais dois amigos passamos na frente de uma das maiores selarias de Curitiba. Selaria, sela, cavalo, essas coisas. Obvimente, ela não é muito grande já que temos poucos cavalos em Curitiba. E mais, os cavalos de Curitiba não têm donos com grana para levá-los em uma selaria. Enfim, selaria em Curitiba é coisa de playboy.
O curioso é que é natal e as pessoas da selaria. que apreciam muito cavalos, também gostam de papai noel. O lindo resultado foi um Papai Noel gigante sentado em cima de um cavalo de plástico em tamanho natural que eles têm em frente à lojinha. Bonito, né?
Ele se mexia e dizia ho-ho-ho enquanto eu pensava quanta energia elétrica não era gasta com o boneco. Boneco, aliás, que tinha uma flexibilidade incrível, digna dos cavaleiros de zodíaco da Cloth myth, os da Bandai estavam no chinelo.
De repente, o bom velinho com uma voz bem grossa de papai noel diz "ho-ho-ho vocês curtem um rock?"
Eu, que sou boba, mas não muito, pensei "ahhhhhhh bão!" e nem passou pela minha cabeça a possibilidade do boneco poder ter várias frases gravadas em seu repertório e isso ser escolhido deacordo com a pessoa que passava. Seria ótimo, uma energia elética bem gasta, mas não pensei.
Depois do espanto, o Papai repete com a voz rouca se gostamos de rock, de Dream Theater.
Gostamos (estávamos todos de preto, num dia de sol, com um cabeludo junto. Hoje eu responderia "Gostamos, dãr!")
Noel tinha uma banda cover de Dream Theater com cartõezinhos na selaria e tudo. Encheu nossas mãozinhas ávidas de balas de menta ardidas para caralho, me repreendeu por falar muitos palavrões durante o ano e seguimos caminho.
Pois, como não podia deixar de ser, o Natal, essa época onde o consumismo capitalista nos esmaga entre dedos gélidos de duendes que não fabricam mais brinquedos de madeira =p, tem dessas coisas. John Petrucci vira Papai Noel e metaleiros e socialistas se unem e vão às compras.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Loyalty

A gente corre, corre, mas fica.



Path of Glory

Demons & Wizards

For ages now
I've often faced the fear
It's hard to see
Old memories are clouding my mind
It's beyond this life
I know the secrets are within me
Wonderin'
In a world of broken dreams
Depressed and haunting me
No way out
So many times it's hopeless dark and gray
No way out
And other times it's hope that saves the day

Many moments of my life I pray tomorrow
Inner peace will find its way and set me free

There's a light beyond the dark (darkest day)
There's a light beyond this life
And painful memories will all wash away
Painful memories will all wash away

No longer struggle with the fear of
The end and what's beyond
I live a life of loyalty
True to myself and my own

The way out
A sea of life so peaceful and serene
The way out
The path of life lies open wide for me

sábado, 5 de dezembro de 2009

E todo mundo foge de casa...

Vou-me Embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.



mas, seu maneco, Pasárgada é looonge pra burro!